Insetos se defendem ferroando o agressor quando sentem ameaçados, seja em sua sobrevivência ou na integridade de suas colônias
Abelhas são muito úteis, tanto pelos seus produtos – mel, cera, própolis – quanto pelo serviço ecossistêmico de polinização, que tanto favorece cultivos agrícolas e a vida silvestre. Mas, como todo ser vivo, possui mecanismos de proteção à sua própria vida e de sua comunidade, razão pela qual é preciso respeitar as regras básicas para evitar acidentes
Existem abelhas que não ferroam, como as da tribo Meliponini. E existem aquelas que sim, como a abelha africanizada e as mamangavas.
As ferroadas podem ser bastante dolorosas e, às vezes, causar sérios problemas, dependendo da sensibilidade da pessoa, do fato dela ser alérgica à toxina da abelha, da quantidade de picadas e do volume de toxina injetada.
O engenheiro agrônomo Décio Luiz Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Agro Sustentável e do Conselho Científico da A.B.E.L.H.A diz “que as pessoas costumam falar que as abelhas são agressivas, mas, na realidade, são defensivas”.
Ele explica que as africanizadas se defendem ferroando o agressor quando sentem ameaçadas, seja em sua sobrevivência ou na integridade de suas colônias.
Reação à ferroada
Gazzoni destaca que no ser humano, quando ocorre uma agressão ao organismo, com a presença de uma substância exógena, o sistema imunológico é acionado, como forma de proteção, para evitar danos e até salvar a vida.
“A reação do organismo à picada varia desde uma pequena inflamação com eritema, vermelhidão e coceira no local da picada, até sintomas muito graves como paralisação da respiração e problemas cardíacos”, salienta.
O especialista informa que, nos casos mais graves, os principais sintomas são uma sensação generalizada de mal-estar, formigamento, tontura, coceira e urticária.
“Ocorre um inchaço nos lábios e na língua, seguida de obstrução das vias aéreas, com dificuldade para respirar, taquicardia, queda de pressão e sudorese intensa”.
Ele aponta ainda outros sintomas, incluindo dispneia, sibilância, estridor, disartria, disfonia, astenia, confusão, sensação de morte iminente, cianose, incontinência dos esfíncteres, podendo chegar até à perda de consciência, anafilaxia e colapso orgânico.
Veneno
Segundo o pesquisador da Embrapa, as abelhas injetam entre 50-100 µg de veneno por picada, podendo atingir até 300 µg, que é o conteúdo máximo do saco de veneno.
Ele revela que o veneno das abelhas é constituído por peptídeos, uma mistura complexa de aminas biogênicas e proteínas de alto peso molecular, em sua maioria enzimas.
“A melitina é o principal componente do veneno das abelhas, chegando até 50% do peso do veneno seco. É composta de 26 aminoácidos e podem ocasionar a destruição de hemácias, leucócitos e hepatócitos. O alérgeno mais importante é a fosfolipase A2, uma glicoproteína composta por 134 aminoácidos, cuja atividade está relacionada à degradação das membranas. Outro alérgeno é a hialuronidase, que hidrolisa o ácido hialurônico e facilita a difusão do veneno através do tecido conectivo”, explica.
Substância estranha
O membro do Conselho Agro Sustentável e do Conselho Científico da A.B.E.L.H.A. esclarece que o sistema imunológico reage a qualquer substância estranha injetada no organismo, que pode vir de saliva, veneno, anticoagulantes ou toxinas.
“Pode parecer contraditório que o sistema de defesa do organismo seja responsável por uma reação que possa causar problemas tão sérios. Porém, a resposta imunológica é uma característica com diferenças entre organismos e a intensidade da reação pode variar de leve até muito intensa”.
De acordo com o engenheiro agrônomo, “quando a toxina da abelha é injetada em um organismo, os mastócitos – que são células que compõem o sistema imunológico – produzem anticorpos para neutralizar a toxina. Logo que os anticorpos entram em contato com a toxina, ocorrem reações químicas, com a concomitante liberação de histamina pelos mastócitos. A histamina é responsável pelo incremento da circulação sanguínea, o que explica os primeiros sintomas, como vermelhidão, edema e coceira”, orienta.
Para ele, “até aí tudo vai bem. O problema ocorre em organismos supersensíveis, o que deflagra os sintomas graves descritos que, em casos extremos, podem levar o indivíduo picado a óbito”, adverte.
Há estatísticas que dão conta que cerca de 70 pessoas morrem a cada ano nos EUA, em decorrência de picadas de abelhas. No Brasil, conforme o SINITOX do Ministério da Saúde, os acidentes com animais peçonhentos – que inclui as abelhas – representam a segunda causa de acidentes toxicológicos, logo abaixo dos medicamentos, porém não há referência específica sobre o número de intoxicações causadas por abelhas.
Cuidados
Segundo o especialista, o primeiro cuidado para evitar é sempre manter-se afastado dos locais onde existam abelhas, evitando bulir com as mesmas ou tomar qualquer atitude que possa ser interpretada como ameaça a uma abelha isolada ou a uma colônia.
“Ao observar o ataque, se o ferrão ainda está preso à pele, é importante removê-lo imediatamente, para cessar a instilação de toxinas”, recomenda.
Ele aconselha que, quando surgirem os primeiros sintomas, “que vão além da dor ou edema local e, especialmente, se a pessoa picada é alérgica ou tem antecedentes de reações por picadas de abelhas, deve ser encaminhada, com urgência, para um hospital, onde receberá o tratamento adequado”.
Gazzoni lembra que remoção das colônias de abelhas situadas em lugares públicos ou residências deve ser efetuada por profissionais devidamente treinados e protegidos com EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) específicos para a lida com abelhas.
As principais recomendações do especialista para se evitar acidentes com abelhas são as seguintes:
Manter distância das colônias de abelhas africanizadas;
Caso a aproximação seja necessária, a pessoa deve estar protegida com vestuário e equipamentos adequados (macacão, luvas, máscara, botas, fumigador, etc);
Não circular e, especialmente, não fazer movimentos bruscos, na rota de voo das abelhas;
Na proximidade com abelhas, evitar ruídos irritantes (tratores, ceifadeiras, motores barulhentos), usar perfumes ou desodorantes, apresentar odor de suor humano e usar cores escuras (principalmente preta e azul-marinho), pois essas ações estão associadas com ataque de abelhas.