É necessária não uma, mas uma série de ações como monitoramento, manejo integrado e uso correto de defensivos, para que o produtor de milho possa lidar com a cigarrinha, praga que trouxe enormes prejuízos na safra 2020/2021.
A afirmação é de especialistas que participaram do Seminário Milho: Ações de Mitigação aos Danos da Cigarrinha, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que reuniu representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da CropLife Brasil, produtores rurais e pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), na terça (18).
“Estamos enfrentando um ano de preços atípicos de milho, que pode trazer problemas de desabastecimento regionais no mercado interno. Queremos evitar mais perdas de produtividade em função do desconhecimento do manejo e do controle correto de uma praga como a cigarrinha que pode trazer perdas de até 80% da safra se não for controlada”, afirmou o Ricardo Arioli, presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA.
No primeiro painel, Marcelo Picanço, professor entomologista da UFV, destacou os principais danos que a cigarrinha traz ao milho: sucção de seiva, introdução de toxinas e transmissão de doenças como os enfezamentos pálido e vermelho e a virose risca do milho. Ele falou também dos principais métodos de controle.
“O problema é sério, mas manejável. Infelizmente não temos um sistema adequado de tomada de decisão de controle. Tem que ser feita por amostragem e níveis de controle. Os métodos são controle genético, biológico e químico, com a eliminação das plantas doentes, uso de híbridos tolerantes aos enfezamentos e tratamento de sementes correto.”
Segundo o professor, as regiões secas e com períodos quentes têm as condições mais propícias para o aparecimento da cigarrinha. “Se realizarmos a adubação inadequada, a planta se torna mais suscetível à praga e, em relação ao cultivo, quanto mais plantas doentes e milho tiguera tivermos, mais teremos problemas porque essa praga só ataca o milho”.
Marcelo Picanço ressaltou a necessidade da produção de conteúdo para os produtores e disse que a universidade está fazendo um mapeamento em toda a América do Sul sobre os três patógenos transmitidos pela cigarrinha.
Otacílio Pasa, consultor técnico em Santa Catarina, relatou os problemas que o estado sofreu este ano com a praga. Segundo ele, o ataque foi forte e mesmo com a aplicação de inseticidas e ações de controle, as perdas foram grandes.
“Fizemos o manejo conforme os outros anos porque temos problemas com percevejos de barriga verde e lagarta do cartucho, mas a cigarrinha apareceu e mesmo buscando inseticidas de largo espectro foi um caos, com uma problemática que nunca tivemos antes. Houve danos em toda a lavoura causados pela cigarrinha com virose e os enfezamentos pálido e vermelho.”
O consultor afirmou que, para a próxima safra, buscaram variedades com tolerância à doença, além do tratamento das sementes e aplicação de inseticidas. No entanto, Otacílio Pasa destacou que se não houver auxílio para os produtores com informações e opções de manejo, haverá redução da área de plantio do milho no estado.
“Se não houver informação que traga segurança e confiabilidade para o planejamento aos produtores, a área de milho do nosso estado vai encolher. A soja está com preço animador.”
Produtor de milho em Mato Grosso e representante da CNA na Câmara Setorial do Milho no Mapa, Endrigo Dalcin, reforçou que haverá grande deficiência de milho no mercado este ano devido às perdas com a cigarrinha. Ele destacou a importância de melhorias na informação de manejo adequado para reverter o cenário atual.
“Sempre tivemos problemas com o percevejo de barriga verde na região, mas com a cigarrinha o produtor terá que avaliar os talhões e fazer aplicação de inseticida. Preocupa-nos a existência de mais uma praga que não temos conhecimento. Por isso, esses seminários técnicos são importantes para que o produtor tenha mais bagagem para lidar com a lavoura.”
No segundo painel, Luciano Cota, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, explicou os ciclos da cigarrinha e a diferença entre os enfezamentos pálido e vermelho. Ele disse que a transmissão é propagativa e que as consequências para a planta são desequilíbrio hormonal, encurtamento entrenós e redução de altura da planta e coloração das folhas.
“A cigarrinha não é um problema novo no Brasil. Trabalhamos com ela há mais de 30 anos, mas estamos vivendo surtos epidêmicos das doenças transmitidas por ela. Não existe medida curativa. As medidas são isoladas, têm pouco efeito e nenhuma medida é 100% eficaz.”
O representante da empresa CropLife Brasil, Roberto Araújo, falou sobre a cooperação técnica com a Embrapa para desenvolver pesquisa aplicada e meios de disseminar boas práticas. Ele apresentou 10 passos de boas práticas que englobam desde a eliminação do milho tiguera, uso de híbridos com maior tolerância e de sementes certificadas à rotação de culturas e transporte correto do milho colhido para evitar perdas.
Em relação às ações do governo, Carlos Goulart, diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, afirmou que o órgão está reformulando o portal para trazer mais informações sobre sanidade vegetal.
“Estamos tentando identificar como manejar a cigarrinha e o complexo do enfezamento. Não é uma situação nova no país e esperamos que não perdure para outras safras. Mas é muito importante termos consciência de que não existe medida 100% eficaz única. É um conjunto de medidas que precisam ser aplicadas.”
Ele ressaltou que no início de fevereiro o Mapa montou um plano de monitoramento da safra em relação à cigarrinha e o enfezamento em diferentes estados como Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. Nesses dois últimos o impacto foi maior, principalmente no oeste catarinense.
Goulart divulgou no seminário a publicação do Mapa de uma planilha com a lista de cultivares que constam no Registro Nacional de Cultivares e sua tolerância ao complexo de enfezamento do milho.
O documento já tem disponível no site do órgão para download com materiais sobre o enfezamento do milho. Segundo ele, essas informações são fundamentais para ajudar no planejamento do produtor para a próxima safra e há uma previsão para divulgar em meados de julho o relatório do monitoramento da 2ª safra sobre a cigarrinha.
Maciel Silva, coordenador de Produção Agrícola da CNA, conduziu o debate no segundo painel e ressaltou que a CNA tem se empenhado em melhorar as informações de manejo eficientes para o produtor, em conjunto as demais instituições, “visando à sustentabilidade econômica e a redução das perdas no campo”.
Assista o seminário na íntegra:
CNA