O potencial energético da agropecuária brasileira é extenso e, por isso,o setor pode e deve ter mais participação no mercado de geração e comercialização de energias renováveis. É o que afirmou o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, ao abrir o seminário “Agro em Questão – Energias Renováveis” na quarta-feira, nove de maio. O evento reuniu, na sede da instituição, em Brasília, representantes do governo, do setor privado e especialistas.
Em seu discurso, o executivo afirmou que a evolução da produção agropecuária no País, nos últimos anos, deixou evidente que a geração e o fornecimento de energia também precisam avançar.
“Com esse evento, queremos deixar claro que os produtores rurais podem fazer parte dessa evolução e serem mais do que meros consumidores. Podemos ser geradores de energia, com forte participação nesse mercado.”
Segundo o presidente da CNA, a geração de energia nas propriedades rurais contribuirá “fortemente” para o desenvolvimento sustentável no campo e para a diversificação da matriz energética por meio das fontes renováveis vinculadas ao agro.
Engajamento da iniciativa privada
Neste contexto, Martins defendeu o engajamento da iniciativa privada e dos agentes do governo para superar juntos os entraves ao desenvolvimento desse mercado “oferecendo condições aos nossos produtores rurais, para que participem, ainda mais, do crescimento do Brasil”.
Martins afirmou que o potencial energético do agro é “muito maior do que se imagina”. No entanto, ponderou, a matriz energética no País ainda é fortemente dependente da fonte hídrica, que responde por mais de 60% da eletricidade gerada em território nacional. “Pior do que isso é dependermos dos combustíveis fósseis para gerarmos 14,9% da nossa eletricidade”.
Desta forma, disse Martins, com estratégia e organização, o agro pode ampliar mais a participação da biomassa de subprodutos e coprodutos na geração de energia para baixar custos e substituir fontes fósseis por renováveis.
Por último, o presidente da CNA deixou alguns questionamentos que vão ao encontro da proposta do evento:
- “Como podemos aumentar a participação do agro na geração de energia?”
- “Como a geração de energia pode ser utilizada para o desenvolvimento rural sustentável em regiões como o norte e nordeste brasileiro?”
- “Quais normas e regulamentos devem ser alterados para ampliarmos esse mercado?”
- “Como podemos usar a geração de energia para tornar a agropecuária cada vez mais sustentável e econômica?
“Esperamos obter essas e outras respostas ao final desse seminário”, concluiu Martins.
Fontes em abundância
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira, destacou o potencial do agro na geração de energia a partir de fontes como a biomassa, biogás, biometano e bagaço da cana.
“Esse potencial pode tornar o agro ainda mais eficiente, com uma alta produção pela capacidade que tem de desenvolver essas fontes até para ser um exportador de energia”, frisou.
Coordenadora do programa Agro da Climate Bonds Initiative (CBI), Leisa Souza destacou os investimentos em projetos sustentáveis nos setores de energia, agropecuária e infraestrutura, por meio da emissão de títulos verdes (green bonds) para captar recursos em iniciativas de preservação ambiental.
Segundo ela, 40% das emissões de títulos vêm da energia, especialmente da eólica, e 38% do agro, principalmente em ativos florestais.
Já o representante adjunto da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil, Gustavo Chianca, disse que a geração de energia renovável é aliada do desenvolvimento rural sustentável e por essa razão faz parte dos temas de interesse da FAO.
“A geração de energias renováveis é uma forma imprescindível de capacitar o meio rural a enfrentar todos os desafios que se apresentam para o setor”, afirmou.