Objetivo da nova plataforma “Territórios de Produção Sustentável”, desenhada por cinco organizações socioambientais, é construir uma estratégia de utilização da terra e dos recursos naturais, de acordo com as necessidades das empresas, em municípios de Mato Grosso e Pará
As empresas que compram commodities na Amazônia já podem contar com uma ferramenta, que vai ajudá-las a colocarem em prática seus compromissos de limpar as cadeias de suprimentos do desmatamento. É o que anuncia o Instituto Centro de Vida (ICV) que, desde 1991, desenvolve soluções compartilhadas de sustentabilidade para o uso da terra e dos recursos naturais.
Criada por outras quatro organizações socioambientais, a ferramenta “Territórios de Produção Sustentável” pode ser usada para direcionar incentivos específicos para municípios melhorarem seu desempenho ambiental, considerando uma classificação que leva em conta taxas de desmatamento e conservação da vegetação nativa.
A plataforma foi desenhada pelo ICV, Environment Defense Fund (EDF), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Instituto Socioambiental (ISA) e Imazon, com o apoio da Agência de Cooperação para o Desenvolvimento da Noruega (Norad – Norwegian Agency for Development Cooperation).
De acordo com o ICV, o grupo fará uma jornada de apresentação da ferramenta para empresas interessadas em construir uma estratégia de utilização da terra e dos recursos naturais, de acordo com suas necessidades. De maneira progressiva, o objetivo é que todos os municípios dos Estados de Mato Grosso e do Pará tornem-se territórios de produção sustentável.
Desmatamento
Na visão do Instituto Centro de Vida, o setor privado tem avançado nos compromissos corporativos globais para eliminar o desmatamento nas cadeias de fornecimento de commodities agrícolas em todo o mundo.
Grandes compradores passaram a exigir, dentre outras coisas, mais transparência sobre a origem dos produtos, a fim de reduzir o risco de associação com áreas desmatadas.
Um exemplo citado pelo ICV é a meta de desmatamento líquido zero em 2020 adotada pelo Fórum de Bens de Consumo (CGF – Consumer Goods Forum, em inglês).
Do lado do poder público, ainda conforme o Instituto, Mato Grosso e Pará vêm desenvolvendo suas próprias iniciativas de estímulo à produção agropecuária sustentável. O programa Pará 2030 tem uma meta de desmatamento líquido zero até 2020. Em Mato Grosso, a Estratégia Produzir, Conservar e Incluir (PCI) se comprometeu com o desmatamento ilegal zero até 2020.
Desafio
O ICV destaca que o grande “desafio para ambos os Estados é conseguir ir além das políticas de comando e controle e coordenar essas ações com incentivos econômicos”.
“Isso se tornou ainda mais urgente e necessário com os recentes dados do Prodes (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia) publicados dia 23 de novembro (de 2018), mostrando que o desmatamento na Amazônia no último ano em Pará e Mato Grosso foi o maior dos últimos 10 anos”, salienta o Instituto, em comunicado à imprensa.
“É fundamental que as empresas compradoras de commodities apoiem e se beneficiem dessas estratégias desenvolvidas pelos estados, alinhando seus compromissos corporativos a essas metas estaduais e seus mecanismos de implementação”, aponta a especialista em Gestão Ambiental Paula Bernasconi, do Instituto Centro de Vida.
Ela comenta que, para limpar suas cadeias, as empresas podem e devem buscar novos arranjos e alinhamentos com essas iniciativas governamentais. “Além disso, é fundamental fortalecer o monitoramento dos fornecedores, principalmente os indiretos.”
O ICV aponta que o nível municipal se apresenta como uma escala mais efetiva tanto de monitoramento e controle de indicadores quanto de promoção de ações de incentivo. “A estratégia proposta pelas organizações considera, portanto, os municípios como unidades de jurisdição e monitoramento, classificando-os conforme o seu desempenho ambiental.”
Classes de sustentabilidade
A nova ferramenta “Territórios de Produção Sustentável” classifica os municípios em três níveis de sustentabilidade da produção. Na Classe 1 estão aqueles com alta sustentabilidade, onde há remanescentes de vegetação nativa tanto em áreas privadas quanto em áreas públicas e as taxas de desmatamento são baixas.
A Classe 2 engloba municípios com média sustentabilidade jurisdicional, com taxas de desmatamento médias e com remanescentes também médios, ou ainda, onde o desempenho seja ruim em um destes critérios.
Na Classe 3 estão aqueles com altas taxas de desmatamento e pouca presença de remanescentes florestais, onde é necessário maior apoio de atores privados e públicos para melhoria da sustentabilidade. Dessa forma, incentiva-se a criação de territórios de produção sustentável, sem desmatamento.
Ações de incentivo
Para cada classe, são propostas ações de incentivo. “A ideia é promover ações de melhoria contínua rumo à produção sustentável em todas as classes, adaptando o tipo de atividade, de acordo com a realidade do município e a classe em que está atualmente”, ressalta a bióloga Cecília Simões, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
O apoio à restauração florestal, por exemplo, pode ajudar municípios com baixa sustentabilidade a se tornarem Classe 2. Para eles, o desenvolvimento de mecanismos de de-risking (que reduz e/ou elimina riscos de investimentos) pode ser o “empurrão que falta para se tornarem territórios com alta sustentabilidade”, comenta Cecília.
“Para reconhecer quem já está bem, nada como acesso a financiamentos em condições mais favoráveis e a novos mercados.”
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