No Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, programa das Organização das Nações Unidas (ONU) destaca quatro objetivos para o desenvolvimento sustentável do planeta após a pandemia do coronavírus
A pandemia do coronavírus mostrou que os avanços na luta contra a pobreza e a fome e a busca pela saúde e pelo bem-estar podem ser prejudicados, caso a comunidade global não enfrente as ameaças ambientais que comprometem os sistemas – e que permitem que a humanidade e o planeta sobrevivam e prosperem.
“Só é possível ter recuperação e desenvolvimento sustentável duradouros quando as respostas, os planos e as políticas ambientais recebem a devida importância”, defende o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que junto à comunidade internacional busca respostas imediatas às áreas da saúde, economia e segurança.
“A pandemia já causou desastres e dificuldades inimagináveis e parou quase completamente nossas vidas. Por conta disso, teremos consequências econômicas e sociais profundas e duradouras em todo o mundo”, disse a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen.
De acordo com um documento do programa, quatro Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) serão vitais para a recuperação sustentável pós-covid: Ação Contra a Mudança Global do Clima, Vida Terrestre, Vida na Água e Consumo e Produção Responsáveis. Abaixo, explicamos o que cada um representa.
Ação Contra a Mudança Global do Clima
A crise climática pode ter efeitos mais lentos do que a pandemia, mas é provável que eles sejam piores a longo prazo. Como não existe ciência, tecnologia ou financiamento para resolver o aquecimento global, sem compromisso com a descarbonização, isto é, diminuição de emissão de CO2 na atmosfera, o planeta estará a caminho de um aumento de 3,2 graus ou mais na temperatura global.
O aquecimento global descontrolado impacta negativamente o desenvolvimento sustentável, prejudicando a recuperação económica, além de o trazer uma maior probabilidade de pandemias, eventos climáticos extremos, como secas e inundações.
Contudo, hoje, é possível limitá-lo, conforme explica Andersen. “Como os planos são formulados para ajudar os países e comunidades a reconstruírem suas economias e sociedades, essa é uma oportunidade para aderir à energia renovável, às tecnologias verdes e aos novos setores sustentáveis que levarão o planeta rumo à descarbonização.”
Para a estabilidade climática, o PNUMA sugere que formuladores de políticas públicas e investidores nacionais, regionais e sub-regionais criem pacotes e financiamentos de estímulo fiscal verde. Isso pode ser feito, priorizando empregos e fontes de renda sustentáveis, incentivando investimentos em patrimônios públicos e infraestrutura com viés social e ecológico.
Um dos exemplos desta transição verde, conhecida como Brown to Green (do marrom para o verde, em tradução livre) é a transição energética, que substitui combustíveis fósseis, como petróleo e gás, por biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, e troca a energia não-renovável por energia eólica e solar, por exemplo.
Outros investimentos verdes incluem edifícios e construções inteligentes; sistemas alimentares sustentáveis; gerenciamento de resíduos, como lixo e esgoto; e mobilidade, como transportes mais limpos (metrôs, BRT, VLT). Tudo isso pode permitir que o mundo estabeleça a próxima geração de infraestrutura sustentável e produtiva.
Um das ações do PNUMA é encorajar os Estados-membros a identificarem e apoiarem essas oportunidades e reforçar os resultados favoráveis na próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) em 2021 e na ampla agenda de 2030.
Vida Terrestre
Doenças transmitidas de animais para seres humanos – zoonoses como a Covid-19 – continuarão a aumentar à medida que o mundo segue destruindo os habitats selvagens para a atividade humana, afirmam os especialistas do PNUMA.
De acordo com eles, os habitats degradados podem promover uma interação mais direta entre pessoas e animais, acelerando os processos evolutivos dos vírus e diversificando as doenças à medida que os patógenos se espalham facilmente para rebanhos e seres humanos.
“Para evitar novas pandemias, tanto a destruição de habitats naturais para a agricultura, quanto a mineração e a habitação devem se tornar sustentáveis. É essencial que os governos, o setor privado e a sociedade civil se recuperem melhor trabalhando a favor, e não contra, do meio ambiente, a fim de gerenciar e criar resiliência a futuras ameaças sistêmicas”, explica Inger Andersen.
Vida na Água
Os ecossistemas que sustentam e protegem a vida debaixo d’água são tão importantes quanto sobre a terra. O programa da ONU afirma que o declínio e a degradação desses ambientes naturais marinhos, costeiros e de água doce, e da biodiversidade que os acompanha, combinados com o aquecimento e a poluição generalizada dos oceanos são uma crise igualmente preocupante.
“Os seres humanos dependem desses ecossistemas para proteção costeira, medicamentos, indústrias e alimentos. O estoque global de peixes nas últimas décadas está cada vez mais baixo. Os recursos genéticos marinhos são utilizados para fins farmacêuticos, incluindo antivirais, e a conservação desses ecossistemas garante a conservação dos fármacos”, alerta a diretora do PNUMA.
Segundo ela, com lixos frequentemente acabando em mares e em outras fontes aquáticas e considerando o aumento repentino dos resíduos médicos tóxicos, como os plásticos descartáveis, principalmente devido à Covid-19, a orientação imediata é sobre o gerenciamento seguro de químicos e resíduos.
Consumo e Produção Responsáveis
Produção e consumo insustentáveis são perpetuados por financiamentos, investimentos e estilos de vida. Tais práticas levaram ao esgotamento dos recursos naturais, à ruptura de ecossistemas, às economias e infraestruturas de alto carbono e ao uso insustentável de recursos. É o que revelam estudos da ONU.
“A pandemia mostrou as fraquezas dos nossos sistemas. Provou que, se quisermos alcançar com êxito as metas ambientais, as responsabilidades precisam se estender do governo ao setor privado, sociedade civil e indivíduos. As fronteiras fechadas, a disponibilidade de mercadorias e o confinamento nos forçaram a mudar diversos hábitos ao redor mundo”.
Algumas dessas mudanças aceleraram setores novos e emergentes que apoiam o consumo responsável, como o trabalho de casa e a produção local. À medida que as pessoas retornam ao trabalho e as escolas reabrem, algumas dessas mudanças positivas podem ser mantidas. Empregadores públicos e privados e indivíduos testaram maneiras alternativas de trabalhar, estudar e consumir em uma escala que pode dar um salto duradouro em direção à sustentabilidade.
De acordo com o PNUMA, essa é uma oportunidade de atender a essa demanda com pacotes de estímulo que incluam energia renovável, edifícios e cidades inteligentes, transporte público verde, sistemas alimentares e agrícolas sustentáveis e opções de estilo de vida.
“A natureza está em crise, ameaçada pela perda de biodiversidade e de habitat, pelo aquecimento global e pela poluição tóxica. Falhar em agir é falhar com a humanidade. Enfrentar a nova pandemia de coronavírus e proteger as futuras ameaças globais requer o gerenciamento correto de resíduos médicos e químicos perigosos; a administração consistente e global da natureza e da biodiversidade, e o comprometimento com a reconstrução da sociedade, criando empregos verdes e facilitando a transição para uma economia neutra em carbono. A humanidade depende de ação agora para um futuro resiliente e sustentável”.