Essa foi a tônica das apresentações realizadas na abertura do 21º Congresso da Abag
A integração nas cadeias produtivas pode viabilizar o complexo mundo tropical brasileiro, fortalecendo a biodiversidade, provendo segurança alimentar e energética, produzindo mercados menos voláteis, reduzindo comportamentos individualistas, populistas e protecionistas. Esse foi o mote da abertura do 21º Congresso da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), realizado dia 1º de agosto, na capital paulista.
Nesse sentido, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho,afirmou que a integração agroindústria brasileira traz claras vantagens que precisam ser entendidas pelo mundo temperado e as suas diferenças incorporadas a qualquer modelo ou métricas sobre sustentabilidade. “Isso é tão legítimo como as cobranças sobre a preservação brasileira de sua Amazônia”, disse.
A abertura do 21º Congresso Brasileiro do Agronegócio, realização da Abag em parceria com a B3 – a bolsa do Brasil, contou com a presença de o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Ele destacou que as ações precisam ser lucrativas para o meio ambiente, para as pessoas e para o setor. “É assim que vamos criar uma economia verde global. Caso ela não seja lucrativa, não vai escalar na velocidade e na maneira como precisamos”, comentou.
Integração de temas
Leite também enfatizou a importância da integração de temas que realmente pesam globalmente. “A integração da visão da geopolítica com clima, produção e demanda de alimentos e energias se dá sob a pressão de macro fatores, como soberania, competitividade e confiança, e sua consequência, que são os investimentos”, argumentou. “As políticas públicas preparadas em conjunto pelo setor público e privado são fundamentais ao equilíbrio de um país das dimensões e da responsabilidade do Brasil.”
Por sua vez, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcos Montes, lembrou que a competitividade brasileira no agronegócio tem incomodado os demais players globais. “Buscamos a preservação ambiental, mas ela não pode ser usada para nos prejudicar e para diminuir nossa competitividade. Temos projetos futuristas nessa área e estamos fazendo nosso dever de casa.”
Gilson Finkelsztain, CEO da B3, mencionou a importância do agronegócio para o país e para o mundo e afirmou que o mercado financeiro evolui de forma exponencial, contribuindo para a proteção de preços e para a gestão de riscos e ampliando a captação de recursos, crédito e investimentos.
Ele também citou o lançamento do índice composto por empresas relacionados à cadeia do agronegócio, o Iagro B3, que é formado por 32 ativos mais negociados na bolsa, que chegam a R$ 700 bilhões em valor de mercado. São empresas do setor primário, fornecedores de insumos, agroindústria, agroserviços, transporte e comércio. “Os investidores nacionais e internacionais passam a contar com o termômetro para medir o setor”, informou Finkelsztain.
Ampliação do diálogo
Os debatedores do painel Agronegócio: Meio Ambiente e Mercados abordaram a necessidade de ampliar o diálogo entre todos os stakeholders, de investimentos para conservar ainda mais, de lideranças para que inspirem outras empresas e setores e de ciência para resolver os problemas.
Segundo Fabiana Perobelli, superintendente de Relacionamento com Clientes da B3, o agronegócio brasileiro precisa se posicionar como protagonista dessa integração. “Já temos uma estrada pavimentada de investimentos, que podem ajudar bastante no financiamento desses projetos socioambientais e do mercado de carbono”, disse ela. “É preciso evoluir na previsibilidade de regras, ou seja, investir na regulação do mercado verde e de carbono, o que permite trazer para o país um fluxo de capital estrangeiro para comprar títulos.”
Papel da ciência
Durante o painel, o professor Gonçalo Pereira, diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), e coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp, destacou papel da ciência na resolução de problemas e no fomento da inovação nos mais diversos segmentos. “O professor universitário é um ativo que os empresários devem aproveitar para resolver seus desafios. Porém, é preciso interação e diálogo”, afirmou.
Para o professor, o que o Brasil tem em abundância é fotossíntese. “A energia faz com que a planta tenha a capacidade de pegar o CO2 da atmosfera, por isso, a meta não deveria ser um país neutro, mas, sim, um país carbono negativo. Ser neutro é pouco ambicioso”, avaliou Pereira.
De acordo com Liège Correia, diretora de Sustentabilidade da Friboi/JBS e vice-presidente da Abag, para ter desenvolvimento, é preciso ser sustentável, por isso, a sustentabilidade é a estratégia da JBS. “Os setores líderes precisam ser os exemplos, demonstrar as iniciativas, para que os demais sigam no mesmo caminho”, afirmou.
O embaixador José Carlos da Fonseca Júnior, cofacilitador da Coalizão Brasil – Clima, Florestas e Agricultura, trouxe como exemplo o setor de florestas, que produz em mais de 9,5 milhões de hectares, com finalidade industrial, ao mesmo tempo em que conserva mais de 6 milhões de hectares em floresta nativa. “O mundo precisa de madeira e de fibras vegetais. E o país possui um grande ativo potencial, com o crédito de carbono, tendo condições para ser líder do mercado voluntário”, explicou.
Geopolítica e segurança alimentar
Em termos de geopolítica, o embaixador Alexandre Parola, representante permanente da Missão do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmou que o equilíbrio internacional é resultado do equilíbrio entre a cooperação e a competição. Esse tema foi debatido no primeiro painel Geopolítica, Segurança Alimentar e Interesses, no 21º Congresso. “A diplomacia defende interesses criados a partir de realidades e o Brasil está comprometido com novas formas de negociação, especialmente as agrícolas. Há uma reforma do sistema vindo aí e o Brasil é parte dessa reconstrução”, afirmou Parola.
Na opinião de Gedeão Pereira, vice-presidente de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a preocupação do agro com a demanda por produtos em nível internacional está atrelada à sustentabilidade. “Há uma demanda global crescente por alimentos e precisamos seguir abrindo mercados no exterior com um olhar cuidadoso para o meio ambiente. Mas não basta sermos preservadores, temos que mostrar que somos”, salientou.
Jacyr Costa, presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), citou o fomento ao comércio como peça importante dentro da segurança alimentar e reforçou a integração da produção agropecuária com a indústria para vencer barreiras e firmar a posição do Brasil no cenário global. “A fome aumentou no mundo e, para garantir segurança alimentar, é preciso mais comércio, o que não significa apenas exportar, mas saber importar, ou seja, facilitar acordos comerciais e inserir o país nesse cenário com fomento da produção regional”, frisou.