Substituir o diesel por combustíveis renováveis é o melhor caminho para reduzir as emissões de particulados, que influenciam no agravamento de quadros de covid-19
Em webinar Técnico promovido pela Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), realizado nesta terça-feira (12), foi debatido o uso do biometano nos transportes pesados, como caminhões e ônibus. O biometano, ou biogás, é produzido a partir de produtos e resíduos orgânicos agrossilvopastoris, resíduos agrícolas, estercos animais, esgoto doméstico e resíduos sólido urbanos (aterros sanitários).
O debate, moderado pelo vice-presidente da Abiogás, Grabriel Kropsch, contou com a participação do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Gonçalo Pereira, do diretor de novos negócios da Convergas, André Bermudo, e do diretor da Scania, Gustavo Bonini.
Gabriel Kropsch abriu o debate chamando atenção para o fato de que, com a paralisação na atividade econômica motivada pela pandemia do coronavírus, as emissões de gases do efeito estufa caíram 8%, no entanto, somente 30% destes gases são oriundos de veículos leves, que foram os que efetivamente deixaram de circular. O restante vem do transporte pesado, de pessoas e de cargas. Portanto, a diminuição poderia ser ainda maior se houvesse uma substituição do diesel.
“O objetivo é fazer um link entre a poluição e problemas respiratórios e trazer a discussão para o transporte pesado. Qual é o papel do biometano no contexto de descarbonização das cidades?”, questionou.
Níveis altíssimos de concentração de CO2
Respondendo à pergunta do VP da Abiogás, o professor Gonçalo fez uma apresentação em que mostrou como chegamos a níveis altíssimos de concentração de CO2 na atmosfera devido ao uso cada vez maior dos combustíveis fósseis ao longo da evolução da espécie humana. No entanto, o professor apontou que, se por um lado a alta concentração de CO2 é prejudicial para o planeta, por outro, o grande mal para a saúde das pessoas está na emissão de particulados e NOx.
“Já existe um estudo que aponta a relação direta entre o aumento de particulados e mortalidade por covid-19”, revelou.
Para o professor, a solução está no aproveitamento do gás metano como combustível, substituindo o diesel na motorização pesada.
“Tem que acontecer o mais rápido possível, principalmente no campo”, comentou. Gonçalo rechaçou o uso de carros elétricos como alternativa, argumentando que sua introdução no Brasil destruiria a indústria automobilística e a eletrificação não diminuiria o consumo de combustíveis fósseis.
Segundo ele, a mobilidade precisa de políticas públicas e o trilho é o do RenovaBio. “A financeirização do carbono é fundamental. Transformar o carbono em moeda é promover a distribuição de renda”, finalizou.
Para mostrar o que já está sendo feito pelas empresas neste sentido, André Bermudo apresentou a Convergas, que, desde 1992, atua na fabricação de equipamentos para a conversão a gás e biometano, tanto para veículos pesados no transporte coletivo, caminhões e equipamentos industriais.
Os cilindros se dividem em duas categorias: para armazenamento do gás no seu estado original (gasoso) ou líquido. Já em relação ao gerenciamento do motor, o sistema empregado é o diesel gás, que permite a redução nas emissões de partículas e carbono.
“A diferença de emissão de CO2 é de 15%. Já em relação à taxa de substituição do diesel, estamos trabalhando para que chegue a 60%. Atualmente, os percentuais variam entre 30% a 40%”, afirmou.
Uma frota mais limpa
Com esta expertise, André Bermudo elencou uma série de cases de clientes como Man, Iveco, Mercedez-Benz, Scania entre outros, que adotaram a tecnologia visando uma frota mais limpa. A conversão para gás permite o abastecimento com o biometano, que apresenta as mesmas características do gás natural.
O mais recente lançamento da Convergás, que será apresentado no segundo semestre deste ano, é o caminhão movido a GNV da montadora Foton, primeiro projeto da categoria VUC (veículo urbano de carga), fruto da parceria entre Convergas, FOTON e Ecomoby. O veículo faz parte de um projeto do Carrefour, e a expectativa é de uso do biometano como combustível.
Segundo André, a autonomia do gás em relação ao diesel é de um para um (a diferença de 3% para menos em relação ao gás é tão pequena que não chega a ser contabilizada). Já em relação à viabilidade econômica, ele explicou que vai variar muito em função do projeto, mas, como média, a empresa trabalha com um payback de 20 a 22 meses para um consumo de 5 mil litros de diesel por mês, considerando o preço do gás de 25% a 30% menor que o do diesel.
Fechando o webinar, Gustavo Bonini apresentou a jornada de sustentabilidade da Scania e o potencial do combustível, cujo objetivo é liderar mudanças para promover um transporte sustentável. “Ser sustentável não é opção. É necessidade. E o que entendemos por sustentabilidade inclui não apenas o aspecto ambiental, como também o econômico e o social”, pontuou.
Segundo Gustavo, a Scania têm feito grandes investimentos no desenvolvimento de veículos a gás, que, na visão dele, será uma ponte para o biogás. “A solução flex nos traz produtos que já podem estar usando o GNV e que também estão aptos para serem abastecidos por biometano”, afirmou.
Gustavo apresentou os números de investimento da Scania, que de 2016 a 2020 investiu R$ 2,6 bilhões e tem previsão de investimento de R$ 1,4 bilhão até 2024. “Na nossa fábrica de São Bernardo do Campo temos mais de 250 engenheiros trabalhando no desenvolvimento de veículos a gás”, afirmou.