Cultivo dessas espécies pode favorecer a formação dos sub-bosques por terem crescimento rápido e capacidade de sombrear o solo
Eucalipto e pinus, as duas espécies florestais mais cultivadas no Brasil, não impedem o crescimento de plantas nativas em seu sub-bosque. Pelo contrário, por terem crescimento rápido e capacidade de sombrear o solo, podem favorecer o desenvolvimento de árvores e arbustos nativos e compor projetos de reflorestamento, seguindo as regras do Código Florestal Brasileiro e legislações afins.
A conclusão é de um estudo da Embrapa que identificou 1.136 espécies de árvores e arbustos nativos encontradas em sub-bosques de eucalipto e pinus e registradas em cerca de 100 trabalhos científicos compilados em documento técnico da entidade. Entre essas espécies figuram algumas ameaçadas de extinção, como a araucária, a imbuia, o pau-brasil e o palmito-juçara.
A composição das cinco famílias com maior representatividade de espécies é semelhante a que é encontrada em matas ciliares da Mata Atlântica e do Cerrado do Brasil, os dois biomas compreendidos no estudo. Espécies de elevado valor comercial também foram registradas, tais como cedro, cerejeira, copaíba, jatobá, jequitibás e peroba-rosa.
Autor do documento técnico, o pesquisador Carlos Cesar Ronquim, da Embrapa Territorial (Campinas, SP), conclui que esses dados mostram ser viável o uso dessas árvores como alternativa para a restauração florestal das áreas de Reserva Legal, seguindo as regras do Código Florestal Brasileiro e legislações afins. O Código (Lei 12.651/2012) permite o uso de árvores exóticas na recomposição dessas áreas, desde que na proporção máxima de 50% e intercaladas com espécies nativas regionais.
O pesquisador informa que a principal dificuldade para o desenvolvimento das espécies nativas é a concorrência com as gramíneas, eliminadas apenas com sombreamento ou herbicida. E acrescenta que utilizar árvores de crescimento rápido para gerar sombra em menor tempo pode ser uma forma mais econômica de criar as condições necessárias para o reflorestamento.
“O eucalipto vem sendo melhorado há mais de cem anos, para crescer rapidamente, mesmo em solo de baixa fertilidade. Então, se você tem uma área que precisa regenerar, e ela está degradada, o plantio de eucalipto, avaliando as condições locais, pode ser efetivo para surgimento de sub-bosques”, complementa Ronquim.
Custo benefício
As espécies exóticas comerciais também podem gerar renda para cobrir pelo menos parte das despesas dos produtores rurais para a recomposição das espécies nativas. “A restauração é vista por muitos agricultores como um ônus, geralmente porque eles ‘perdem’ parte da área produtiva e não obtêm ganho econômico direto. Além disso, a recomposição tem custo elevado”, avalia Ronquim. “A combinação de espécies comerciais exóticas e nativas em programas de restauração pode ser uma alternativa para reduzir esses custos.”
Nessa modalidade, de acordo com o pesquisador, o plantio exclusivo com espécie exótica, como o eucalipto, passa a ser apenas um estágio de transição. “Completada a sua função de catalisador da vegetação nativa do sub-bosque e atingido um padrão de comercialização, essa espécie é retirada e vendida”, explica. “Já há métodos de colheita que minimizam os danos tanto às árvores nativas plantadas em consórcio quanto às espécies que se regeneram espontaneamente no sub-bosque”, acrescenta.
O trabalho mostra que a riqueza, a densidade e a estrutura da regeneração natural nos plantios de espécies exóticas dependem de uma combinação de fatores: localização no território brasileiro, distância de remanescentes florestais nativos, idade do plantio, espécie cultivada, densidade de copas, entre outras. Na avaliação do pesquisador, o eucalipto é mais adequado do que o pinus para projetos de recomposição florestal porque tem ciclo de produção de madeira mais curto.