Entre outros resíduos mais encontrados e em maior quantidade no litoral brasileiro, além dos restos de cigarros, estão os materiais plásticos (52,5%) nas mais variadas formas, como plástico filme, pequenos tubos plásticos, hastes plásticas e isopor
Um estudo inédito no Brasil, coordenado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), revela dados preocupantes: a cada oito quilômetros das praias de todo o País, banhistas dividem espaço com mais de 200 mil bitucas de cigarro, 15 mil lacres, tampas e anéis de lata, 150 mil fragmentos de plásticos diversos, sete mil palitos de sorvete e churrasco, além de 19 mil hastes plásticas de pirulitos e cotonetes.
Conforme noticiou a Agência Brasil, vinculada à Empresa de Comunicação Brasileira (EBC) do governo federal, esses dados são frutos da segunda fase do projeto “Lixo Fora D’Água”, que visa combater as fontes de poluição marinha por resíduos sólidos e um acordo de cooperação com a Secretaria de Meio Ambiente de Santos (SP), com o apoio da Agência de Proteção Ambiental da Suécia.
Criado em 2018, o projeto identificou, desde então, que as três principais fontes de vazamento de lixo e resíduos para o mar são as comunidades nas áreas de palafitas, os canais de drenagem que atravessam a malha urbana e a própria orla da praia em sua faixa de areia.
De acordo com o estudo, entre os resíduos mais encontrados e em maior quantidade nas praias estão os materiais plásticos e de forma variada, como plástico filme, pequenos tubos plásticos, hastes plásticas e isopor (52,5%); a bituca de cigarro, responsável por 40,4% do lixo coletado; e borracha, metal, madeiras, embalagens e outros (7,11%).
“Os resultados desse projeto inédito são fundamentais para enfrentar o problema do lixo no mar. Mais do que limpar praias e retirar resíduos do oceano, o plano de ação permitirá às cidades o desenvolvimento de melhores práticas para evitar que os resíduos continuem a poluir o estuário e a orla da praia”, comenta o diretor presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho.
Biodiversidade, paisagens e cultura
Rico em biodiversidade, belíssimas paisagens e muita cultura regional, o Brasil é o país número um em atrativos naturais na América Latina e o segundo no mundo, de acordo com o ranking de 2019 do Relatório de Competitividade em Viagens e Turismo, publicado pelo Fórum Econômico Mundial.
Um dos exemplos disso, e que foi motivo de bastante comemoração, é a inclusão do Estado do Pará na rota de cruzeiros pelos mares do Brasil. Algo em torno de 1,4 mil turistas estrangeiros, que viajavam em um transatlântico no início de janeiro deste ano, foram recebidos com festa em torno da cultura regional.
De acordo com a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, o segmento turístico foi responsável por movimentar algo em torno de 8,1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, totalizando 152,5 bilhões de dólares, conforme estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, em inglês).
A pesquisa também aponta que o setor empregou 6,9 milhões de pessoas, correspondendo a 7,5% do total de postos de trabalho criados no Brasil.
Riscos ambientais
O cenário é positivo, no entanto, episódios criminosos ou não, que colocam a natureza em risco – muitos deles provocados pela intervenção humana –, podem prejudicar tais atividades e, consequentemente, a geração de renda no País.
“Há uma clara relação entre a proteção da natureza e o desenvolvimento econômico, não só no Brasil, mas em todo o mundo”, afirma Marion Silva, coordenadora de Áreas Protegidas da Fundação.
Segundo ela, “temos de aproveitar os produtos que a natureza oferece como atrativos turísticos e também desenvolver estratégias para frear problemas ambientais existentes que podem colocar em risco essa oportunidade”.
“Para isso, é preciso envolver atores de diferentes setores da sociedade, como empreendedores do turismo, órgãos públicos, pesquisadores, instituições privadas e sociedade civil”, sugere Marion.
O que pode comprometer
A Fundação Grupo Boticário indica quatro riscos ambientais que podem comprometer o turismo e a economia no Brasil:
1) Derramamento de óleo
Entre os desastres ambientais mais recentes no Brasil está o vazamento de petróleo no Oceano Atlântico, que chegou à costa em agosto e continua afetando praias do Nordeste. Pesquisadores identificaram que, em alguns casos, haverá um dano permanente para o ecossistema marinho, para a economia local e para a saúde humana, considerando que parte do óleo levará décadas para reduzir sua contaminação química.
Segundo um estudo do Ministério do Turismo, as atividades relacionadas ao turismo da região movimentam cerca de R$ 45 milhões por ano, baseadas principalmente nas praias e nas paisagens naturais. Os impactos também afetam a pesca e a culinária, já que a absorção de óleo por espécies marinhas resulta em uma cadeia alimentar contaminada.
2) Queimadas
Em 2019, foi registrado o maior número de focos de queimadas em território brasileiro dos últimos sete anos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mais de 100 mil focos de incêndio foram registrados em todo o País, sendo 20 mil apenas no Mato Grosso, especialmente em terras amazônicas.
De acordo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), as perdas econômicas no bioma derivadas do uso do fogo variam entre US$ 12 milhões e 97 milhões de dólares por ano, devido à liberação de toneladas de carbono, perda da biodiversidade, desequilíbrio ecossistêmico, alterações climáticas, erosão do solo e danos ocasionados pela exportação de fumaça para outras regiões. E o problema não fica restrito à Amazônia.
Outros biomas, como Mata Atlântica, Pampa, Cerrado e Pantanal, também tiveram aumento do número de focos de incêndio ao longo do ano.
3) Turismo predatório
Oposto ao turismo sustentável, o turismo predatório é uma modalidade em que a visitação gera impactos ambientais, culturais e sociais negativos aos destinos turísticos. Esse tipo de prática impacta diretamente no desenvolvimento econômico da região.
Por um lado, o turismo predatório está associado a turistas que não seguem regras, contribuindo com o esgotamento de recursos naturais, desequilíbrio social e econômico, além da descaracterização cultural. Por outro lado, locais turísticos devem ser preparados com infraestrutura adequada para receber visitantes e blindar o patrimônio local, equilibrando a geração de renda e a qualidade de vida.
Os danos a patrimônios históricos e culturais, recursos naturais e de urbanismo podem ser irreversíveis e os custos com a reparação dos mesmos podem ser mais caros que a construção de infraestrutura para receber os visitantes. O prejuízo econômico torna-se ainda maior caso a região crie uma reputação ruim pela falta de gestão turística, refletindo no declínio de visitantes e da geração de renda.
4) Desmatamento
Assim como as queimadas, o desmatamento também gera grande impacto econômico, social e ambiental, atuando na perda da biodiversidade, na degradação do habitat e no agravamento da crise climática global.
A erosão provocada pelo manejo incorreto do solo foi responsável pela perda de produtividade em 23% da superfície terrestre, o que representa perda de cerca de 10% do Produto Interno Bruto global anual.
Os dados são do relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistema (IPBES), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Fontes: Agência Brasil e Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza