A maioria das espécies do bioma foi classificada em alguma das categorias de ameaça da União Internacional de Conservação da Natureza (Foto: Renato Lima)
Um estudo publicado recentemente na revista Science apresentou a Lista Vermelha das quase cinco mil espécies de árvores que ocorrem na Mata Atlântica, uma das florestas mais biodiversas e ameaçadas do mundo.
“O quadro geral é muito preocupante”, diz Renato Lima, professor da Universidade de São Paulo que liderou o estudo.
A extinção de espécies é um dos impactos mais extremos que o ser humano tem sobre a natureza. Extinção é para sempre e, a cada espécie perdida, perdemos milhões de anos de uma história evolutiva única e a oportunidade de aprender com essa história.
Assim, evitar a extinção de espécies é o maior desafio para combater a atual crise global de perda da biodiversidade, que tem impacto direto nas nossas vidas, incluindo questões ligadas ao risco de pandemias, bioeconomia, biomateriais, desenvolvimento de medicamentos e vários outros serviços ecossistêmicos.
O primeiro passo para frear esse processo de extinção de espécies é saber onde estão e qual é o grau de ameaça de cada espécie, o que permite a construção das chamadas Listas Vermelhas de Espécies.
Estas listas nos ajudam a tomar a decisão de quais são as espécies prioritárias para investir tempo e recursos de conservação da biodiversidade.
“A maioria das espécies de árvores da Mata Atlântica foi classificada em alguma das categorias de ameaça da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN). Isso era esperado, pois a Mata Atlântica perdeu a maioria das suas florestas e, com elas, as suas árvores. Mesmo assim, ficamos assustados quando vimos que 82% das mais de duas mil espécies exclusivas desse hotspot global de biodiversidade estão ameaçadas”, completa Lima.
Espécies emblemáticas em extinção incluem o Pau-Brasil
Muitas espécies emblemáticas da Mata Atlântica, como o Pau-Brasil, Araucária, Palmito-juçara, Jequitibá-Rosa, Jacarandá-da-Bahia, Braúna, Cabreúva, Canela-Sassafrás, Imbuia, Angico e Peroba, foram classificadas como espécies ameaçadas de extinção.
Um total de 13 espécies endêmicas – espécies que ocorrem apenas na Mata Atlântica e em nenhum outro lugar do mundo – foram classificadas como possivelmente extintas, ou seja, podem ter desaparecido do planeta.
Por outro lado, cinco espécies que antes eram consideradas extintas na natureza foram redescobertas pelo estudo.
O estudo usou mais de três milhões de registros de herbários e de inventários florestais, além de informações detalhadas sobre a biologia, ecologia e usos das espécies de árvores, palmeiras e samambaiaçús.
Desmatamento ameaça 50% das espécies de árvores do planeta
Hans ter Steege (Naturalis Biodiversity Center, Holanda), coautor do trabalho, relembra que o estudo não se limitou à avaliação da ameaça de extinção apenas na Mata Atlântica.
“Fizemos projeções sobre qual seria a magnitude do impacto da perda de florestas sobre as espécies de árvores em escala global.”
Essas projeções incluíram os principais maciços de florestas tropicais do mundo. “As projeções indicam que entre 35-50% das espécies de árvores do planeta podem estar ameaçadas apenas devido ao desmatamento”, conclui ter Steege.
Além destas projeções, o estudo propõe um fluxo metodológico e ferramentas para implementá-lo em larga escala, permitindo avaliar o grau de ameaça de milhares de espécies simultaneamente.
“Isso também permite aplicar a mesma abordagem para outras regiões do mundo ou até outras formas de vida, como orquídeas ou bromélias, por exemplo”, lembra Gilles Dauby (IRD, França), também coautor do estudo.
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Cenário é preocupante
O cenário é muito preocupante, principalmente porque o estudo considerou apenas ameaças passadas (desmatamento) e não as ameaças futuras, como as mudanças climáticas, que podem acelerar os riscos de extinção de espécies.
O que podemos fazer frente a esse cenário? Além da conservação das espécies em jardins botânicos e bancos de germoplasma, existem os chamados Planos de Ação Nacionais (PANs), instrumentos de promoção de políticas públicas direcionadas à conservação e à recuperação de espécies ameaçadas no Brasil, em especial àquelas em risco iminente de desaparecer.
Outra saída para buscar reverter as perdas de espécies de árvores na Mata Atlântica é a restauração florestal, como comenta André de Gasper, professor da FURB e coautor do estudo.
“Projetos de restauração, em áreas abertas ou em fragmentos degradados, podem selecionar preferencialmente as espécies regionais mais ameaçadas da Mata Atlântica, visando estimular a produção de sementes e mudas destas espécies e a recuperação das suas populações de árvores na natureza”.