Agricultores ainda têm dificuldades de adotar medidas conservacionistas para o solo em suas propriedades, embora sua conservação e/ou recuperação sejam fundamentais para que o Brasil e o mundo vislumbrem um futuro melhor para o meio ambiente. A reflexão abre debate no Dia Nacional da Conservação do Solo, comemorado em 15 de abril no País
Quinze de abril é celebrado o Dia Nacional da Conservação do Solo, data instituída no Brasil em 13 de novembro de 1989, pela Lei n° 7.876, com o objetivo de promover reflexões sobre a conservação e uso dos solos, especialmente pela agricultura.
Em 2015, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) lançou o estudo – mais recente – Status of the World’s Soil Resources (Status dos recursos do solo do mundo, em tradução livre para o português), que mostrava: 33% dos solos do mundo estão degradados.
Ameaças como erosão, compactação e perda da matéria orgânica, entre outros, atingem quase um terço das terras do planeta. Na América Latina, cerca de 50% sofrem algum tipo de degradação e, de acordo com estudo de 2016 da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), aproximadamente 30% dos solos de áreas cultivadas no País (90 milhões de hectares) apresentam algum grau de degradação.
Ao avaliar esse cenário, trazendo-o para o campo, Edemar Valdir Streck, assistente técnico de Manejo de Recursos Naturais da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul/Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Emater-RS/Ascar), diz que produtores rurais ainda têm dificuldades de adotar medidas conservacionistas em suas propriedades.
“Há muita relutância entre os agricultores para adotar novas medidas, pois eles querem resultados melhores já na próxima safra”, comenta.
Conceitos de fertilidade
Streck explica que a fertilidade do solo é desenvolvida em três conceitos: a física, a biológica e a química. “Esses três parâmetros têm de ser desenvolvidos juntos, porque não existe melhoria física sem ter a melhoria na questão biológica, ou seja, uma depende da outra.”
Ele também ressalta que depender apenas da mecanização não garante um solo mais fértil: “É preciso que o solo tenha atividade biológica, tenha raízes, palhada, minhocas e também microrganismos”, informa.
De acordo com o técnico da Emater-RS/Ascar, um dos principais problemas que causa infertilidade no solo é sua compactação excessiva: “A compactação reduz a capacidade de absorção da água e seus nutrientes minerais, principalmente em solos argilosos”.
Para evitar esse fenômeno, conforme Streck, é necessário realizar o manejo correto da superfície, por meio da rotação correta de culturas e da utilização de palhadas, para não deixar o solo descoberto.
Em casos mais sérios, ele destaca a importância de realizar uma análise de solo estratificado, que deve ser feita pelo menos em duas camadas, de zero a dez centímetros e de 10 a 20 centímetros. Isso serve “para ver sem a partir de dez centímetros não tem problema de alumínio em profundidade, já que o alumínio é tóxico para o sistema radicular”.
“Se não há presença desse elemento, é recomendado utilizar plantas com raízes agressivas, como o capim-sudão. Mas se há presença de alumínio, a única solução é a utilização de máquinas, como o escarificador ou o subsolador.”
O futuro
Segundo a agrônoma Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, pesquisadora da Embrapa Solos e membro do comitê editorial e coordenadora da publicação da FAO para a América Latina e Caribe, a perspectiva é de que a situação possa piorar se não houver ações concretas que envolvam indivíduos, setor privado, governos e organizações internacionais.
“A principal conclusão do livro [da FAO] não é boa. A degradação dos solos no mundo é muito alta e pode trazer consequências desastrosas nas próximas décadas para milhões de pessoas nas áreas mais vulneráveis”, alerta Maria de Lourdes, mestre em Agronomia e Ciências Ambientais, doutora em Ciências, Pedologia e Geomática e pós-doutora em Mapeamento Digital de Solos.
Em declarações publicadas no ano de 2016, quando o relatório da FAO foi lançado, Maria de Lourdes afirmou que perdas anuais de culturas causadas por erosão eram estimadas em 0,3% da produção. Segundo ela, se o problema continuar nesse ritmo, o mundo pode ter uma redução total de mais de 10% até 2050.
Conforme a especialista, a erosão em solo agrícola e de pastagem intensiva varia entre cem a mil vezes a taxa de erosão natural e o custo anual de fertilizantes para substituir os nutrientes perdidos pela erosão, que chega a US$ 150 bilhões.
Outro problema que ameaça o solo é sua compactação, que pode reduzir em até 60% os rendimentos mundiais das culturas agrícolas. “No mundo, a compactação tem degradado uma área estimada de 680 mil quilômetros quadrados de solo, ou algo em torno de 4% da área total de terras”, revelou Maria de Lourdes, naquela ocasião.
Descarte incorreto do lixo: um grande vilão
Outra pesquisa – divulgada em 2018 pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) – aponta que o descarte incorreto do lixo é uma das principais causas da poluição do solo, que pode ser combatida pelo investimento em economia circular.
Segundo esse relatório, o Brasil ainda mantém mais de três mil lixões. Considerando que cerca de 40% de tudo que é enviado para o lixo é reciclável, conforme a Abrelpe, investir em práticas de reciclagem reduziria o índice de contaminação do solo e também diminuiria o consumo de recursos naturais, como água e matérias primas utilizadas para a produção de novas embalagens.
Economia circular
“A economia circular propõe eliminar o conceito de lixo por definição, garantindo a utilização dos recursos pelo máximo de tempo possível e com maior valor agregado. Ou seja, o modelo atual linear (em que extraímos, transformamos, consumimos e descartamos) está fadado ao fracasso”, afirma Daniela Lerario, CEO da TriCiclos no Brasil, empresa referência em engenharia de economia circular aplicada, que desenvolve soluções para as diversas etapas do ciclo de produção, uso e descarte do seu produto.
Conforme Daniela, “é necessária uma mudança efetiva na forma de desenhar produtos e serviços para que o resultado do consumo possa se tornar o início de um novo ciclo de uso, possibilitando uma economia de recursos naturais, de investimentos na cadeia pós-consumo e de emissões de carbono”.
“A contaminação do solo e da água é uma grande preocupação e, por isso, estamos do lado de empresas que se importam com o impacto que geram e querem colocar no mercado produtos e serviços mais circulares”, comenta a executiva.
Pronasolos: o maior programa do mundo
No Brasil, já existem instituições públicas e privadas que se preocupam, há anos, com o problema relacionado à conservação e recuperação solos, a exemplo do Pronasolos (Programa Nacional de Solos), desenvolvido em 2016 pela Embrapa Solos.
“O solo é um recurso natural de suma importância para a vida no planeta, sendo a base para a produção de alimentos, fibras e energia, para a adaptação às mudanças climáticas e a prestação de serviços ambientais. O conhecimento aprofundado de seus solos tem grande importância para que um país garanta a segurança alimentar da população e o seu desenvolvimento em bases sustentáveis”, resume o programa, considerado o maior de todo o mundo na área de conservação e recuperação de solos.
Para mais informações sobre o Pronasolos, baixe gratuitamente o e-book acessando o link encurtado http://ow.ly/BjUK30oqV6H.