Fazenda no Paraná realiza primeira colheita de cevada em sistema de integração com floresta
Ivo Carlos Arnt Filho, proprietário da Fazenda Pousada dos Gaúchos, em Tibagi, no Paraná, apostou na integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e, em dezembro de 2023, realizou a primeira colheita de cevada na área, que foi plantada intercalada ao plantio de eucalipto.
O produtor conta que “logo após esta colheita, a área de soja, agora, vai dar espaço a um pasto de outono, onde serão colocados bezerros para desenvolvimento e engorda”.
Ele trabalha com gado angus de elite e dedica bastante atenção à qualidade da produção pecuária.
Monocultivo e integração com eucalipto
Ivo explica que a cevada foi plantada em duas áreas: uma em monocultivo e outra em integração com eucalipto.
“As áreas eram um lado da outra, com as mesmas condições de solo, fertilidade e manejo”, destaca.
Ele relata que, em agosto de 2023, houve uma onda de calor muito forte na região, fora do comum para a época.
“Isso desencadeou uma grande quebra na produção”, afirma.
O produtor salienta que “no entanto, as perdas foram diferentes em cada área: enquanto no plantio puro de cevada a perda foi total para a produção de cerveja, na área com integração com floresta os grãos de cevada foram classificados especificamente para esta classificação”, sublinha.
Ivo avalia que existe uma grande possibilidade de que, no decorrer do tempo, com a presença das árvores, houvesse um conforto térmico que amenizou o calor para os grãos.
“Mesmo com as perdas, foi possível colher 2.000 kg/hectare de cevada na área com eucalipto, com o grão viável para produzir cerveja. Já na área de plantio puro, foram colhidos 1.400 kg/hectare, e o grão serviu somente para ração”, ressalta o produtor.
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Efeito de quebra-ventos e sombreamento
Segundo o pesquisador da Embrapa Florestas Vanderley Porfírio-da-Silva, que coordena a pesquisa, essa situação será estudada, mas é possível que as árvores tenham modificado as condições microclimáticas ao exercer um efeito de quebra-ventos e sombreamento, colaborando para que o impacto do calor fosse minimizado.
“Se tivermos El Niño este ano, por exemplo, tudo indica que as árvores vão proteger o plantio”, prevê o especialista, que alerta, ainda, para o fato de a fazenda estar situada em região subtropical, com ocorrência de moradores, o que torna a adesão à ILPF ainda mais emblemática.
Para o especialista, trabalhar a produtividade com manejo de solo adequado e adoção de tecnologias é fundamental.
“A ciclagem de nutrientes proporcionada pela presença de árvores por meio da ILPF também é parte do diferencial da tecnologia”, afirma.
Desenho do sistema e manejo florestal
Porfírio-da-Silva conta que, há cerca de dois anos, a propriedade começou a fazer parte de um trabalho de pesquisa da Embrapa Florestas com a Klabin, dentro do projeto Modelo silvipastoril para celulose e carne de baixo carbono, vinculado ao programa de fomento Planta com a Klabin.
De acordo com o pesquisador, a partir da necessidade de recuperar pastagens degradadas, o produtor aceitou a parceria com o projeto, que está estudando a ILPF com o manejo diferente do que é conhecido até então: “enquanto praticamente 100% dos produtores que aderiram à tecnologia manejam o componente florestal para produção de toras, o projeto estuda o manejo florestal para produção de biomassa para atender indústrias como papel e celulose, que é o caso da Klabin” frisa.
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Maior volume de biomassa de troncos por área
Porfírio-da-Silva explica que o manejo para toras geralmente pressupõe um desenho do sistema com uma a três linhas de árvores e o produtor realiza práticas silviculturais como desrama, também conhecido como poda, e desbastes, que é a retirada de árvores finas e/ou defeituosas, para favorecer o crescimento das árvores remanescentes e obter toras de maiores diâmetros para serraria. “Já não há manejo para biomassa, a quantidade de árvores é maior, não são realizadas desramas e desbastes, pois o objetivo é obter maior volume de biomassa de troncos por área”, esclarece.
Equilíbrio da celulose
O especialista da Embrapa destaca que esse é um ponto importante da pesquisa, que o produtor já entendeu: “Nós temos de ver, cientificamente, a questão do equilíbrio da celulose, hemicelulose, lignina, para poder atender o objetivo principal do nosso cultivo de eucalipto, que é a produção de papel”, detalha.
Para ele, é importante definir, dentro do desenho do sistema, também a época ideal de corte, quando as árvores estão mais aptas a fornecer os componentes químicos necessários para a indústria.
“Já percebemos que isso coincide com o tempo de vida útil das pastagens aqui da região. Ou seja, o corte de árvores e seu replantio, o período de formação da nova pastagem e a entrada do gado são coincidentes, e uma pastagem nova, aerada, tem maior volume de produção e valor nutritivo”, avalia Ivo.
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Retorno financeiro
O pesquisador da Embrapa salienta que esse modelo de planejamento dentro de uma área de pecuária proporciona uma loteação maior de animais com melhor qualidade de pastagem “E, a cada seis anos, o produtor também terá o retorno financeiro com a venda de madeira”, prevê.
Porfírio-da-Silva conta que, no caso da Fazenda Pousada os Gaúchos, já existia o cultivo agrícola e a produção agropecuária.
“As árvores foram introduzidas depois e isso requer planejamento não apenas de plantios, cultivos, entrada de gado, entre outros, mas também uma logística que beneficie todas as operações”.
Na opinião do especialista, a introdução de floresta nesse sistema é para gerar benefícios, e não complicar o sistema.
Planejamento é fundamental
Por conta disso, segundo o produtor do Paraná, o planejamento é fundamental para definir a distância entre renques, espécies a serem plantadas, níveis de sombreamento, tipos de equipamentos que serão utilizados.
“Mesmo com tantas variações, já vislumbramos que o sistema é válido e, além dos 130 hectares destinados à pesquisa, já planejamos implantar mais 70 hectares em nossa área de produção”, afirma.
“Hoje, já estamos vendendo os resultados: economicidade, receita, melhoria de pastagem nesse sistema, e também uma melhoria da imagem da pecuária”, comemora o agricultor.
E a recomendação que Ivo faz a outros produtores é: “Planeje a propriedade, desenhe, planeje os talhões, implante aos poucos. É uma tecnologia nova, mas com grande potencial de agregação de valor à propriedade!”, conclui.
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Fonte: Embrapa Florestas
Foto abertura: Breno Lobato-Embrapa
Projeto Modelo silvipastoril para celulose e carne de baixo carbono
Porfírio-da-Silva ensina que os sistemas tradicionais de produção, tanto da floresta plantada para a produção de madeira para celulose, quanto da bovinocultura de corte, se caracterizam pelo monocultivo. “Há, atualmente, uma pressão crescente para que tais sistemas modifiquem sua forma atual de produção, na busca de atender aos objetivos de sustentabilidade dos negócios direcionados à produção de celulose e de carne bovina no Brasil”, ressalta.
Esse projeto, de acordo com o pesquisador da Embrapa, visa estabelecer diretrizes para um sistema de produção (integração pecuária-floresta) que integra a produção de madeira para celulose e a produção de carne bovina na mesma área e ao mesmo tempo.
Segundo ele, os sistemas de integração pecuária-floresta (sistemas silvipastoris) podem ser usados para mitigar ou neutralizar os gases de efeito estufa emitidos pelo gado. “Espera-se fornecer base científica para que os produtores rurais possam atender ao mercado da ‘carne de baixo carbono’, ao mesmo tempo em que comercializamos os plantios florestais para a indústria de celulose e papel, obtendo assim uma renda diferenciada nas áreas atualmente destinadas somente para pastagens”, destaca.
De olho na certificação
A Fazenda Pousada dos Gaúchos possui diversas certificações e trabalhos com agricultura regenerativa.
Desfazendo o mito de que grandes propriedades não podem trabalhar com estes conceitos, a fazenda tem certificações do Instituto Pró-Terra e agora busca as certificações de Carne Carbono Neutro, além de estar participando das pesquisas da criação de protocolo da certificação de “carne de baixo carbono”. “Não podemos nos acomodar. O produtor que é empreendedor e quer a sustentabilidade, está sempre à procura de novas tecnologias e só tem a ganhar”, orienta Ivo.