Escassez de conteúdo, fontes questionáveis e linguagem complexa distanciaram o público de pautas ambientais, afirmam os entrevistados
Na semana do Meio Ambiente, uma recente pesquisa realizada pela Bulbe Energia, revelou que pautas ambientais ocupam a última posição no ranking dos assuntos mais buscados de forma ativa no país no Google Brasil.
Segundo a pesquisa, apesar da vasta oferta de informações da empresa de tecnologia de busca na internet — ao longo do último ano, o termo “sustentabilidade” gerou cerca de 18 milhões de conteúdos — , nem sempre isso foi acompanhado pelo interesse ativo da população.
A pesquisa, realizada com centenas de entrevistados de todas as regiões, investigou o grau de atenção dos envolvidos em relação a temas ambientais, compreendendo qual lugar assuntos sobre sustentabilidade ocupam na rotina do brasileiro. Os dados mostram que, no atual momento, menos da metade dos participantes (42,6%) consome regularmente conteúdos sobre meio ambiente e sustentabilidade — o menor percentual de adesão entre os dez temas avaliados.

O interesse sobre questões ambientais tende a surgir principalmente em momentos de crise, como desastres naturais ou impactos diretos no dia a dia das pessoas Foto Pixabay/Divulgação
Diferença de engajamento
Na sondagem da Bulbe Energia, que desvendou os tópicos mais consumidos e discutidos nacionalmente em 2025, a diferença de engajamento ficaou ainda mais evidente quando comparado a outras áreas de informação. Saúde e bem-estar lideram o ranking, com 70,2% de adesão, seguidos por finanças pessoais (66%) e esportes (65,4%). A sustentabilidade ambiental, apesar de sua relevância, segue à margem do consumo espontâneo de notícias e conteúdos nas redes sociais, jornais e demais meios de comunicação.
Para André Mendonça, diretor de operações da Bulbe, esse baixo engajamento da população em temas ambientais não acontece por acaso.
Segundo ele, entre os principais obstáculos para o consumo contínuo desses conteúdos, 27,6% dos entrevistados indicam que informações sobre meio ambiente “circulam pouco no dia a dia” ou são difíceis de encontrar. “Já quase 19% apontam que, no geral, as fontes são consideradas pouco confiáveis ou contraditórias”, informa.
Mendonça complementa que o formato e a linguagem também afastam parte do público: 16% classificam conteúdos voltados ao ambiental como longos, densos ou pouco objetivos, enquanto 12,2% reclamam da ausência de exemplos práticos ou recursos visuais que facilitem a compreensão.

Menos da metade dos participantes (42,6%) consome regularmente conteúdos sobre meio ambiente e sustentabilidade — o menor percentual de adesão entre os dez temas avaliados na pesquisa Foto Pixabay/Divulgação
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Interesse reativo
De acordo com a pesquisa, um em cada quatro brasileiros entrevistados se consideram mal-informados sobre meio ambiente — incluindo os que se classificam como nada, pouco ou razoavelmente informados. Essa percepção ajuda a explicar por que a pauta ambiental ainda ocupa um espaço tão restrito no repertório informativo da população.
“Na prática, conforme comprovam as experiências dos entrevistados, o interesse sobre questões ambientais tende a surgir principalmente em momentos de crise, como desastres naturais ou impactos diretos no dia a dia das pessoas”, ressalta o diretor da Bulbe.
Fora essas situações, Mendonça revela que o contato com o tema costuma aparecer de forma passageira e superficial, muitas vezes por meio do consumo de filmes, séries ou conteúdos virais nas redes sociais — “formatos que até atraem a atenção momentânea, mas raramente promovem um engajamento contínuo ou aprofundado”, salienta.

A sustentabilidade ambiental, apesar de sua relevância, segue à margem do consumo espontâneo de notícias e conteúdos nas redes sociais Foto Pixabay/Divulgação
A lacuna ambiental na formação dos brasileiros
O especialista destaca ainda que “olhando de perto certos termos-chave quando o assunto é sustentabilidade, temas como pegada de carbono, ciclo da água, combustíveis fósseis, entre outros, apresentam baixa presença no ‘repertório ambiental’ dos brasileiros”, detalha o diretor da Bulbe.
Ele completa que “embora esses conceitos sejam parte do ensino básico, a maior parte da população não os lembra com clareza atualmente”.
Em sua avaliação, um possível motivo está no contato limitado com essas questões durante a formação escolar: 43% dos entrevistados afirmaram ter tido pouco ou nenhum contato com temas ambientais na época da escola, seja por abordagens superficiais ou ausência total no currículo. Na vida adulta, o aprendizado sobre o tema ocorre principalmente por meio da mídia, redes sociais e experiências cotidianas, enquanto a educação formal representa uma parcela menor desse conhecimento.
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Dificuldade de compreensão
Para o diretor de operações da Bulbe, isso ajuda a explicar por que tantos brasileiros ainda têm dificuldade de compreender a gravidade da crise climática.
“Muitos desses conceitos são complexos e pouco contextualizados no cotidiano das pessoas, o que dificulta o entendimento e, consequentemente, a percepção dos impactos reais dessas questões no planeta. Essa falta de familiaridade contribui para que a urgência das mudanças climáticas não seja plenamente compreendida pela população”, completa.
Metodologia
Mendonça conta que, entre os dias 26 e 27 de maio de 2025, a Bulbe Energia ouviu 500 pessoas de diversos segmentos produtivos, faixas etárias, classes sociais e regiões do país. Mulheres e homens foram entrevistados individualmente, respondendo às perguntas por meio de questionário estruturado em formato online.