Pesquisa indica que bom resultado pode estar relacionado ao tamanho do animal, considerando que as raças mestiças jersolandas são menores que as holandesas.
Resultado do cruzamento entre as raças Jersey e holandesa, a vaca Jersolanda emite menos gases de efeito estufa (GEEs) ao dia, quando comparada à holandesa. é o que atesta um estudo científico conduzido pela Embrapa Pecuária Sudeste (SP), após um ano de experiências em campo e laboratório.
O trabalho da estatal é importante para a pecuária brasileira levando em conta que, segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a emissão de GEEs proveniente da fermentação do sistema digestivo da bovinocultura está estimada em 18,4%. A agropecuária, de modo geral, é responsável por 32% das emissões de gases no país, também conforme as estimativas anuais de emissões feitas pelo órgão federal, para o ano de 2016.
Coordenada pela pesquisadora Patrícia Anchão, da Embrapa Pecuária Sudeste, a análise de emissões de gases de efeito estufa foi feita entre as vacas holandesas e jersolandas em lactação, em dois sistemas de pastejo diferenciados: extensivo, com baixa taxa de lotação; e intensivo irrigado, com índice de lotação elevada.
Para chegar aos resultados, foram observadas 24 vacas leiteiras, sendo 12 holandesas e 12 jersolandas. As avaliações consideraram duas lactações, contabilizando quase 300 dias. As medições foram realizadas em três momentos, durante cada período de lactação: no inverno, primavera e verão.
Comparativo
De acordo com a pesquisa, nos dois sistemas de pastejo analisados, a raça Jersolanda apresentou menor emissão de GEEs ao dia: entre 9% e 13% menos metano que a holandesa, dependendo do grau de intensificação dos piquetes. Além disso, em relação à capacidade de lotação, é possível ter uma vaca a mais por hectare, fazendo um comparativo com a holandesa.
Coordenadora das experiências científicas com a raça Jersolanda, Patrícia Anchão explica que, embora a produção de leite não tenha obtido diferença entre as duas raças (ambas mantiveram a média de 25 quilos ao dia), a emissão de metano da Jersolanda foi menor por quilo de leite produzido, em uma das lactações avaliadas.
Mesmo assim, a pesquisadora destaca que as emissões das holandesas estão próximas das observadas em outros países: em torno de 18 gramas de metano emitido para cada quilo de leite produzido.
Porte do animal
Também pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre Berndt destaca que a menor emissão de gases pode estar relacionada a algumas características da vaca Jersolanda, tais como o tamanho do animal, considerando que os mestiços jersolandos são de menor porte que os holandeses.
Ele ainda ressalta que animais menores, geralmente, comem menos e, por consequência, emitem menos gases de efeito estufa. Como as vacas jersolandas produziram a mesma quantidade de leite que as holandesas em uma das lactações, a emissão por litro de leite ficou menor para os animais do primeiro grupo.
Teores de gordura e proteína
A Embrapa ainda destaca dois fatores que podem fazer a diferença para o pecuarista leiteiro e para a indústria láctea: a Jersolanda produziu leite com teor de proteína superior à holandesa. Já o teor de gordura não apresentou diferença.
Conforme a estatal, tanto o teor de gordura quanto o de proteína afetam o preço final do leite ao pecuarista, que pode receber uma bonificação pela qualidade da matéria-prima fornecida aos laticínios. Esses teores estão relacionados ao rendimento industrial, por exemplo, para fabricação de queijos.
IPLF
A pesquisa da Embrapa Pecuária Sudeste também estimou o número necessário de árvores para neutralizar a emissão de gases de efeito estufa, por quilo de leite produzidos por hectare, considerando os princípios do sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Nos sistemas intensivos, seriam necessárias cerca de 40 árvores para neutralizar as emissões de GEEs de uma vaca Jersolanda. No caso da holandesa, o produtor teria de plantar 12 árvores a mais, totalizando 52, para obter o mesmo resultado.
Na opinião do pesquisador Alexandre Berndt, essa experiência conduzida pela estatal indica mais um caminho para a redução da emissão de gases de efeito estufa na pecuária. Significa também que as vacas da raça Jersolanda podem ser uma alternativa para que os sistemas de produção de leite registrem menores emissões de GEEs, em todo o território nacional.
Pesquisadores também vêm estudando formas para reduzir essas emissões, com a adoção de sistemas integrados, como o ILPF, recuperação de pastagens degradadas, uso de aditivos na nutrição, elevação da lotação animal e aumento da produtividade em sistemas de produção.
Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste