Dados econômicos devem fazer parte do programa produtivo, antes de adotar o sistema de Integração lavoura-Pecuária-Floresta
Como todo sistema a ser implantado no campo, a adoção do Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) exige um planejamento do produtor rural, que deve avaliar a aptidão da fazenda, sua viabilidade agronômica, logística e mercado. Os indicadores econômicos também são ferramentas importantes para a escolha.
Dados de uma recente pesquisa da Embrapa Agrossilvipastoril (MT), realizada em parceria com o Instituto MatoGrossense de Economia Agropecuária (Imea), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) e Rede de Fomento de ILPF, ajudam nessa tomada de decisão.
O grupo de trabalho, que atua na unidade da estatal em Sinop (MT), coleta dados diretamente nas propriedades monitoradas, com o objetivo de utilizar informações reais para testar um modelo de avaliação econômica que seja mais apropriado para os sistemas integrados. Outros indicadores também contribuem para auxiliar os produtores na gestão e tomada de decisões.
Oito anos de avaliação
Para chegar aos números, foram consideradas quatro diferentes configurações de ILPF, em uma Unidade de Referência Tecnológica e Econômica (URTE), localizada na Fazenda Gamada, no município mato-grossense de Nova Canaã do Norte. Os resultados da avaliação dos oito anos iniciais do sistema são indicativos sobre o tempo de retorno do investimento, a rentabilidade de modelos – com mais ou menos árvores e com diferentes espécies –, além do comportamento do fluxo de caixa.
Analista do Imea, Miqueias Miquetti explica que a comparação entre os quatro tratamentos serve como exemplo para que agropecuaristas possam prever o comportamento financeiro de um sistema produtivo que pretendem adotar.
“Se o produtor espera algo que seja sustentável ao longo dos anos, do ponto de vista econômico, ele vai escolher um tratamento ou um tipo de espaçamento. Mas se o que quer é ir tocando a fazenda dele, pagando os custos e gerando um fluxo de caixa mínimo para se manter e, no final de dez, 15 ou 20 anos, ter um volume de dinheiro maior, pode optar por outro tratamento. Vai depender do modelo de negócio e de onde estiver localizada a propriedade”, ressalta o analista.
Resultados
Três dos tratamentos empregados na Fazenda Gamada contaram com eucalipto como componente arbóreo, disponível em renques de linhas simples, duplas ou triplas. O quarto tratamento usou a teca em renques de linhas triplas.
Em todos eles foram plantadas lavouras nos três primeiros anos, com o cultivo de arroz, soja/feijão e soja/milho com braquiária. Após o terceiro ano agrícola, os animais de corte entraram na área. Além disso, já foi realizado um desbaste nas árvores, utilizando estacas para fazer mourões tratados, para emprego na fazenda, e a lenha para alimentar o secador de grãos da propriedade.
Segundo a Embrapa Agrossilvipastoril, os dados econômicos da fazenda mostraram que a lucratividade, o retorno do investimento e o fluxo de caixa variaram conforme as características de cada uma das configurações.
Retorno financeiro
Conforme a estatal, o tratamento com linha simples de eucalipto, por exemplo, como possibilitou maior lotação de animais e maior área agricultável, foi o primeiro a indicar um retorno do investimento (payback), o que já ocorreu do quarto para o quinto ano do sistema.
Esse tratamento também apresentou o maior índice de lucratividade no período avaliado, com um real de lucro para cada real investido. O Valor Presente Líquido Anual (VPLA) é de R$ 228,90 por hectare, superando os demais tratamentos a que foi comparado.
O tratamento que utilizou a teca como componente arbóreo também apresentou números atraentes no mesmo período, no entanto, contou com uma previsão de maior lucratividade ao longo do tempo, com a venda da madeira de alto valor agregado. Nesse caso, nos oito anos iniciais do sistema, para cada real investido, o lucro foi de 77 centavos e o VPLA por hectare foi de R$ 158,50.
Já o tratamento que utiliza eucalipto em linha tripla apresentou-se mais vantajoso por ter menor custo com manejo das árvores, quando comparado à teca, considerando que são necessárias menos operações de desrama e poda. Também teve menor custo com manejo de rebanho, pois a taxa de lotação é menor do que no tratamento com linha simples. Além disso, outra vantagem foi o corte das árvores mais cedo que a teca, o que pode trazer maior lucratividade em menor tempo.
Outros indicadores
Conforme a Embrapa Agrossilvipastorial, outro indicador importante foi o chamado “lucro operacional líquido após o imposto”, conhecido como Nopat. Ele mostra o dinheiro disponível para o produtor a cada ano, a partir da relação entre receitas e despesas totais, impostos e depreciação de equipamentos.
Depois de oito anos, foi possível ver como o lucro oscilou de acordo com as operações, como o desbaste de árvores e o manejo operacional de culturas. No exemplo da Fazenda Gamada, em 2016, a venda de teca que veio do desbaste, mesmo sendo ainda madeira fina, garantiu o maior lucro desse tratamento.
Perfil da propriedade
Considerando os dados apresentados, Miqueias Michetti, analista do Imea, destaca a possibilidade de o agropecuarista programar o comportamento financeiro de cada tipo de sistema. Com isso, ele pode identificar a configuração que melhor se adequa ao seu perfil e ao tipo de investimento que deseja ou pode fazer.
“A escolha do espaçamento e do componente que vai usar é muito importante para estruturar o tipo de negócio que vai ter. Se eu quero um fluxo de caixa contínuo, eu não posso esperar 20 anos. Então, vou escolher uma configuração com menor quantidade de árvores, com linhas simples, por exemplo”, comenta o analista do Imea.
Michetti continua relatando que “se eu quero um fluxo de caixa mínimo para manter minha fazenda, mas daqui a 15 anos quero uma aposentadoria, aí posso escolher outra configuração, com uma árvore de madeira mais valorizada, como a teca”.
Ele ainda ressalta que os números desse levantamento são um recorte das áreas observadas durante oito anos. Com o passar do tempo, a entrada do dinheiro da venda das madeiras e as variações climáticas e de mercado, os índices de lucratividade finais poderão ser diferentes.
Expectativa
A expectativa é que, até a metade de 2017, o trabalho de avaliação possa resultar na disponibilização de uma ferramenta para que os produtores façam avaliações e simulações de seus projetos de ILPF.
Segundo o pesquisador da Embrapa Júlio César dos Reis, em um primeiro momento, é provável que somente a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) seja contemplada, uma vez que ainda são necessárias mais pesquisas sobre a utilização do componente arbóreo.
Fonte: Embrapa Agrossilvipastoril
Integração Lavoura Pecuária-Floresta em números
Publicação conta com parceria da Rede de Fomento ILPF, Embrapa, Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Dow AgroSciences, John Deere, Parker e Syngenta.
Acelerar a adoção dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta em todo o país, a partir da determinação das linhas de base de implantação desses métodos no campo, buscando informações complementares para apoiar ações estratégicas de transferências de tecnologias.
Esse é o foco da publicação “ILPF em Números”, lançada no início deste ano pela Rede de Fomento ILPF, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Dow AgroSciences, John Deere, Parker e Syngenta. O principal objetivo desse trabalho é intensificar o emprego de técnicas de sustentabilidade na agricultura nacional.
O material reúne dados obtidos pela pesquisa encomendada pela Rede de Fomento ILPF e realizada pelo Kleffmann Group em 2016. Informações gerais sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, sobre os benefícios de seu uso e sobre o trabalho de transferência de tecnologia desenvolvido pela Rede também fazem parte do documento.
11,5 milhões de hectares
Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP), Ladislau Skorupa diz que o resultado final da pesquisa apontou a área de adoção de sistemas ILPF no brasil de 11,5 milhões de hectares.
“Os Estados que se destacam em área são Mato Grosso do Sul (2 milhões de hectares); Mato Grosso (1,5 milhão); Rio Grande do Sul (1,4 milhão); Minas Gerais (1 milhão)”, cita ele, informando que as culturas selecionadas para a pesquisa foram a soja e o milho verão, sendo que ao todo foram realizadas em torno de oito mil entrevistas.
“O universo amostral da pesquisa levou em consideração o ponto de vista do produtor de grãos, que agrega ou pode agregar a atividade pecuária em sua propriedade (ou também da produção florestal) e o ponto de vista do pecuarista de bovinos (de corte e de leite), que agrega ou pode agregar a produção de grãos em sua propriedade (ou também da produção florestal)”, explica.
Mais dados
Entre as informações disponíveis estão a área ocupada pelos sistemas de ILPF no país e em cada Estado, o percentual adotado de cada configuração e a estimativa de crescimento da adoção da tecnologia. O material ainda traz a estimativa de sequestro de gás carbônico (CO2) pela ILPF e a projeção para os próximos anos.
De acordo com o pesquisador, além da estimativa de adoção em hectares para o ano agrícola 2015/16, a pesquisa também buscou informações, junto aos entrevistados, sobre a época em que ocorreu a adoção.
A pesquisa mostra também que a adoção de sistemas ILPF, no Brasil, têm conseguido forte incremento, nos últimos anos.
“Embora haja imprecisão nesses dados, uma vez que as respostas foram espontâneas, essa é a melhor informação disponível”, pondera Skorupa, acrescentando que a estimativa é de incremento médio de 10%, nos últimos cinco anos, entre os pecuaristas; e de 4% entre os produtores de grãos.
Baseando-se nessas estimativas, nos últimos cinco anos, a adoção de sistemas ILPF no Brasil foi da ordem de 5,96 milhões de hectares, com uma estimativa de sequestro de 21,8 milhões miligramas de gás carbônico equivalente (CO2eq).
“Com isso, a meta do Plano ABC de incrementar quatro milhões de hectares, até 2020, já terá sido cumprida”, garante Skorupa.
Segunda fase
Em um primeiro momento, a publicação ILPF em Números contém apenas os dados gerais do brasil. Em uma segunda fase, já em andamento, o material será incrementado com informações específicas de cada região do país.
“A expectativa é de que, até o meio do ano (2017), todas as sete regiões do projeto TT (Transferência de Tecnologia) ILPF contem com versões locais para serem utilizadas em eventos, capacitações e em outras atividades de transferência de tecnologia em ILPF”, diz o pesquisador.
Tecnologia sustentável
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente comenta que o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é uma tecnologia voltada para a produção sustentável, que reúne as possíveis combinações das atividades agrícolas, pecuárias e florestais realizadas em áreas comuns. Pelos cultivos, que podem ser consorciados, em sucessão ou rotacionados, especialistas buscam intensificar e compartilhar os benefícios gerados pelas diferentes atividades.
Skorupa destaca ainda que a introdução do componente florestal é opcional e dependerá do interesse do produtor na hora de garantir uma pequena produção de madeira, para fins diversos, ou como fonte de sombreamento para os animais na fase de pecuária.
“Exemplo disso é que o produtor pode optar por conduzir o seu sistema indefinidamente apenas com os componentes lavoura e pecuária (ILP) na mesma área. Esta é a modalidade mais comum da estratégia ILPF”, informa o especialista.
Segundo o pesquisador, a ILPF pode ser utilizada de diferentes formas, com inúmeras culturas e diversas espécies animais, adequando-se às características regionais, às condições climáticas, ao mercado local e ao perfil do produtor: “É uma estratégia que pode ser adotada por pequenos, médios e grandes produtores”, diz.
André Casagrande
Equipe SNA / SP
Fonte: Embrapa Meio Ambiente