Viveiro de cinco mil mudas clonadas de árvores superprodutivas irão produzir pinhão em apenas oito anos depois do plantio
Com quase três anos de existência, aproximadamente cinco mil mudas de araucária crescem em um viveiro atrás do casarão histórico da Fazenda Capão Alto, em Castro, no Paraná.
Andersen do Espírito Santo, responsável por implantar, dentro da fazenda de 320 anos, os projetos ‘Pinheiros do Século 21’ e ‘Resgate da Árvore Símbolo do Paraná’, iniciativas privadas com apoio do governo estadual, explica que na Capão Alto está um dos 20 viveiros implantados no Estado que têm como meta produzir até 100 mil mudas de araucária ao ano para replantar 10 milhões delas no território paranaense.
Ele ressalta que a expectativa é de que as araucárias já comecem a produzir pinhão quando completarem oito anos.
Atividade rentável
Santo conta que, para salvar a araucária do risco de extinção, as iniciativas transformam o plantio, a colheita e o corte da madeira em uma atividade rentável, com regras adequadas.
“Basicamente, as iniciativas permitem que pinheiros de ciclo precoce, plantados e registrados no órgão ambiental, possam ser explorados comercialmente”, detalha.
Ele completa que a ação só é possível graças ao trabalho de cientistas da Universidade Federal do Paraná-UFP , liderados pelos pesquisadores Flávio Zanette e Ivar Wendling, com apoio da Embrapa, que realizaram nas últimas quatro décadas um enorme avanço no melhoramento genético da araucária.
“Através da técnica da enxertia, os professores clonaram pinheiros com DNA excepcional, capazes de produzir pinhas maiores, em maior quantidade e mais cedo”, revela.
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Autossustentável
Para Koob Petter, diretor do Grupo Koelpe, que administra a fazenda tombada pelo Patrimônio Histórico do Paraná, a implantação do viveiro é uma oportunidade de garantir que a fazenda se torne autossustentável, com a venda das mudas.
“A Capão Alto é um espaço de preservação da História e da natureza, com pinheiros centenários, alguns com mais de 400 anos, que deixam a paisagem mais bonita e encantam os turistas”, expõe.
Em sua opinião, faz muito sentido adotar esses projetos que querem a reposição da floresta de araucária no Estado e que ainda são economicamente viáveis, garantindo que o local seja preservado pelas próximas gerações.
Enxertia acelera processo de produção de pinhão
Flávio Zanette, um dos pesquisadores da UFPR que desenvolveram a técnica, explica que, enquanto um pinheiro comum começa a produzir pinhões aos 20 anos de idade, gerando entre 25 a 30 pinhas de três quilos cada por ano, os pinheiros clonados começam a produzir aos oito anos e são superprodutivos já aos 13.
“Na maturidade, produzem 300 pinhas – ou mais – , com peso médio superior a três quilos e se mantêm produtivos por até 200 anos. Algumas dessas árvores chegam a produzir 500 pinhas por ano e outras produzem pinhas que chegam a pesar seis quilos”, completa Zanette.
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Campeã em produtividade
O pinheiro que deu origem a este trabalho de pesquisa está em Caçador (SC) e foi plantado por Vânio Czerniak há mais de três décadas, com semente selecionada geneticamente.
“A árvore começou a produzir aos nove anos e é campeã mundial de produtividade: já chegou a mais de 600 pinhas em um só ano, o equivalente a 30 anos de produção de um pinheiro comum”, relata o pesquisador da UFP.
De acordo com o cientista, o resultado econômico pode ser três vezes superior ao obtido com o cultivo da soja numa mesma área e esse é o principal incentivo para que produtores rurais optem pelo plantio e ajudem no reflorestamento da araucária no Estado do Paraná.
Zanette considera que “o pinheiro deixa de ser um problema no quintal ou na lavoura, já que é protegido por lei, e passa a ser uma oportunidade de renda”.
Pinheiros clonados podem evitar extinção da árvore símbolo do Paraná
A técnica de enxertia desenvolvida pelo pesquisador Flávio Zanette, do setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná, conhecido como o ‘pai da araucária de proveta’, é referência e pode salvar o pinheiro da extinção por torná-lo a uma planta de alto interesse econômico.
Ele explica que o enxerto em árvores frutíferas é comum e é usado por produtores para diminuir o tempo de geração de frutos, além de reduzir o tamanho das plantas para facilitar o manejo.
Segundo ele, nas araucárias, a enxertia é mais recente.
“É uma planta tão admirada pelos brasileiros e isso me motivou a estudar a biologia da araucária. Consegui comer pinhões de plantas que eu mesmo enxertei há seis anos e esse era o grande objetivo”, comemora.
Outra característica interessante, de acordo com o pesquisador, é que os pinhões tendem a não perder a qualidade ao longo do tempo, pois não avançam de geração. “As árvores vêm de uma mesma matriz, são clones e não perdem suas características com o passar dos anos”.
Além disso, as araucárias enxertadas ainda reservam um fator econômico importante para as próximas gerações.
“Em 70 anos, a madeira dos pinheiros plantados agora poderá ser aproveitada e a legislação atual permite isso”, revela Zanette.
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Viveiro da Capão Alto tem mudas de pinheiro de três variedades
Andersen do Espírito Santo, responsável por implantar os projetos na Fazenda, ressalta que o viveiro da Capão Alto, implantado em 2021, tem árvores de três variedades em cultivo: uma proveniente da árvore de Caçador (SC), outra de uma araucária conhecida como ‘Gigante’, da família Nerbas (SC), e a terceira da variedade o Kaiowa.
Ele detalha que cada uma tem características diferentes em relação ao tipo da árvore, produtividade, tamanho da pinha e do pinhão.
“No Jardim Clonal, 154 árvores são cultivadas para extração de material genético de propagação e, no viveiro atualmente 1.589 mudas clonadas das três espécies estão em desenvolvimento”, explica.
Parceria com a Embrapa
Recentemente, o Viveiro de Pinheiros Capão Alto firmou contrato de parceria com a Embrapa Florestas de Colombo (PR), onde o professor Ivar Wendling também trabalha em pesquisas de desenvolvimento e enxertia para implantar um Jardim Clonal de cultivares especiais e superprodutivas femininas (variedades BRS 405, 406 e 407) e também masculinas (BRS 426, 427 e 428).
Já no setor de ‘porta-enxertos’, o responsável pelos projetos informa que 4.886 mudas feitas com pinhões comuns, da própria fazenda, estão crescendo para que em um ou dois anos recebam os enxertos com o material genético extraído do Jardim Clonal do próprio Viveiro de Pinheiros Capão Alto.
“Na Fazenda, um pomar com 12 árvores serve de amostra e laboratório para as pesquisas”, sublinha.
Segundo ele, nesta safra, já estão plantadas aproximadamente nove mil sementes que deverão germinar entre 30 a 60 dias para então serem transplantadas para os potes de ‘porta-enxertos’ em quatro meses.
Santo enfatiza que o Viveiro de Pinheiros Capão Alto tem certificado de inscrição no Registro Nacional de Sementes e Mudas, o Renasem, documento obrigatório para a exploração comercial da araucária.
“As mudas de pinheiro do Paraná com ciclo mais curto são vendidas para produtores rurais que querem investir em reflorestamento e explorar comercialmente o Pinhão”, salienta.
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O responsável pelos projetos Andersen do Espírito Santo, relata que o pinheiro (Araucária Angustifólia) era a espécie dominante na floresta original da região Sul do Brasil, ocupando uma área de 200 mil quilômetros quadrados.
“Mas, a partir do século XIX, o pinheiro do Paraná foi intensamente explorado pelo alto valor econômico de sua madeira, até chegar, hoje, a apenas 2% da área original”, contabiliza.
Majestosa, a árvore pode atingir 50 metros de altura e diâmetro de 2,5 metros no tronco. “Imagem única na nossa paisagem, infelizmente, é ameaçada de extinção e, por causa disso, seu corte é proibido por lei”, acentua Santo.
Ele complementa que, “curiosamente, a mesma lei que protege as árvores é a que dificulta, na prática, seu cultivo. Os paranaenses acostumaram-se a arrancar as mudas que nascem casualmente com receio de depois não poderem cortá-la”.
O profissional orienta ainda que a Lei Estadual 20.223/2020, por sua vez, define regras para o estímulo, plantio e exploração da araucária no Paraná.
“O direito de explorar direta e indiretamente a espécie é garantindo, exclusivamente, àquele que plantar na modalidade ‘plantação de Araucaria Angustifolia’, definida como povoamento com finalidade comercial”.
Em sua opinião, é preciso respeitar o espaçamento regular entre indivíduos e as plantações devem ser realizadas fora dos remanescentes naturais nativos, das Reservas Legais, das Áreas de Preservação Permanente e demais áreas protegidas.
“Com essa legislação mais recente, o projeto do professor Zanette ganhou mais força e pode se tornar o caminho para que a araucária volte a se destacar nas paisagens do Estado do Paraná”, conclui Santo.