Decreto nº 12.688, publicado em 21 de outubro de 2025, determina aumento do uso de conteúdo reciclado em embalagens plásticas. Aditivos compatibilizantes desenvolvidos por uma startup brasileira tornam essa meta viável e já evitaram o descarte de mais de 800 toneladas em 2024
A COP 30 realizada em Belém colocou o Brasil no centro das discussões globais sobre mudanças climáticas. E, em meio a compromissos ambiciosos de redução de emissões e transição energética, uma pauta tem ganhado destaque: como aumentar a reciclagem real do plástico em escala industrial.
Em outubro deste ano, um mês antes da realização da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil publicou o Decreto nº 12.688/2025 (leia matéria em: Novo decreto de logística reversa futuro do plástico no Brasil), que regulamenta a logística reversa de embalagens plásticas e estabelece regras mais rígidas para a incorporação de conteúdo reciclado pós-consumo (PCR) nas embalagens.
Para Carla Fonseca cofundadora da startup IQX Inove, que desenvolve soluções inovadoras que aliam desempenho técnico e sustentabilidade na indústria plástica, a diretriz é clara: é preciso ampliar a circularidade e reduzir o uso de matérias-primas fósseis. “Mas como viabilizar esse avanço em um país onde boa parte dos plásticos rotulados como “recicláveis” não são, de fato, reaproveitados?”, questiona a especialista.

Carla Fonseca (à esquerda) e Silmara Neves, cientistas e co-fundadoras da startup IQX Inove Foto IQX Inove/Divulgação
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Compatibilização entre polímeros
De acordo com avaliação da cientista, a compatibilização entre polímeros é desafio técnico superado por inovação brasileira. “O gargalo da reciclagem está na baixa compatibilidade entre diferentes tipos de polímeros presentes nas embalagens”, explica.
Segundo Carla, essa mistura heterogênea dificulta o reaproveitamento, reduz o desempenho mecânico dos reciclados e limita o conteúdo de PCR possível em novas formulações.
A cientista conta que, para enfrentar esse entrave, a IQX Inove, empresa brasileira de aditivos químicos e premiada pelo BNDES Garagem como startup de impacto socioambiental, sediada em Valinhos-SP, desenvolveu uma linha de aditivos compatibilizantes que promovem adesão entre fases poliméricas distintas, melhoram a processabilidade e elevam o teor de PCR nas embalagens, mantendo a qualidade do produto final.

O gargalo da reciclagem está na baixa compatibilidade entre diferentes tipos de polímeros presentes nas embalagens Foto Agência Brasil EBC/Divulgação
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Aproveitamento de materiais

Mais de 800 toneladas de plástico deixaram de ser descartadas em aterros em 2024 Foto Prefeitura de Apucarana/Divulgação
Silmara Neves, também cofundadora da startup, complementa que os aditivos IQX, com dosagens entre 1% e 3%, permitem o aproveitamento de materiais que antes eram rejeitados — como plásticos multicamadas e misturados — e transformam rejeitos complexos em insumos valiosos para a indústria.
Ela destaca que a tecnologia já é utilizada por recicladores e transformadores de grande porte em diversas aplicações, como sacolinhas plásticas, embalagens flexíveis e produtos de utilidade doméstica.
E a cientista revela o resultado: mais de 800 toneladas de plástico deixaram de ser descartadas em aterros em 2024, sendo reincorporadas à cadeia produtiva com qualidade e desempenho.
Silmara enfatiza ainda que, além do aspecto ambiental, a tecnologia também gera efeitos sociais relevantes. “Nossa solução aumenta o valor dos materiais reciclados, gera demanda mais estável e fortalece cooperativas, muitas delas lideradas por mulheres”, afirma
- Produção de aditivos via extrusão reativa e aditivo produzido pela startup Foto IQX Inove/Divulgação
E completa: “Estamos mostrando que é possível unir descarbonização, rentabilidade e inclusão em uma mesma cadeia produtiva. Com a COP 30 acontecendo no País e novas regulamentações em vigor, o Brasil tem a chance de se posicionar como líder global em reciclagem”, reforça.










