De hábitos noturnos e comportamento solitário, o tamanduaí passa a maior parte do tempo nas árvores e mede cerca de 30 centímetros, com um peso máximo de 400 gramas (Foto abertura: André Pessoa)
A restauração e a proteção dos manguezais no Delta do Parnaíba, uma das áreas mais biodiversas do Brasil, têm desempenhado um papel crucial na preservação do tamanduaí (Cyclopes didactylus), o menor tamanduá do mundo.
Localizado entre os estados do Piauí e Maranhão, o Delta é uma região de transição ecológica, conectando a Amazônia, a Caatinga e a Mata Atlântica.
A descoberta recente do tamanduaí na região revelou uma população separada há 2 milhões de anos daquelas que vivem na Amazônia, fazendo deste pequeno animal um símbolo da conservação ambiental no litoral nordestino.
De hábitos noturnos e comportamento solitário, o tamanduaí passa a maior parte do tempo nas árvores e mede cerca de 30 centímetros, com um peso máximo de 400 gramas.
“Até pouco tempo, acreditava-se que esses tamanduás ocorriam apenas na Amazônia”, explica a veterinária Flávia Miranda, coordenadora do Instituto Tamanduá.
Estudos genéticos indicam que, após a formação do delta e da Caatinga, que separou a Mata Atlântica da Amazônia há milhões de anos, os tamanduaís evoluíram de forma independente.
Classificado pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) como “dados deficientes”, pouco se sabe sobre a espécie, destacando a urgência de mais estudos e ações de conservação.
Desde 2008, com o apoio da Fundação Grupo Boticário, pesquisas na região mudaram a compreensão sobre o tamanduaí. Descobriu-se que existem, na verdade, sete espécies diferentes do animal distribuídas pela América Central e do Sul.
No Delta do Parnaíba, o Instituto Tamanduá identificou mais de 30 indivíduos da espécie e construiu uma base de pesquisa com laboratório de campo.
“Agora, também conseguimos coletar sêmen da espécie, o que nos permite fazer pesquisa reprodutiva monitorada, crucial para a preservação e possível reintrodução dos animais no futuro”, relata Flávia.
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Recuperação de dois hectares de vegetação nativa
Uma ação fundamental para a conservação foi a criação da Reserva Extrativista (Resex) Casa Velha do Saquinho, que, junto à Resex Marinha do Delta do Parnaíba, busca proteger o habitat da espécie.
Além disso, o projeto promove a regeneração dos manguezais, já restaurando quase 2 hectares de vegetação nativa, e propõe alternativas econômicas para a população local, como o turismo de base comunitária.
Para Marion Silva, bióloga da Fundação Grupo Boticário, a preservação do tamanduaí reforça a necessidade de ampliação de áreas protegidas e investimentos em ciência para proteger a biodiversidade.
Ela destaca que os manguezais são essenciais não só para a vida selvagem, mas também para a segurança hídrica, resiliência costeira e mitigação das mudanças climáticas.
Apesar dos avanços, o Delta do Parnaíba, com suas mais de 80 ilhas e manguezais, enfrenta ameaças crescentes. Desde o turismo predatório até a expansão de usinas eólicas e a presença de animais domésticos, a região é vulnerável à degradação.
Segundo Flávia Miranda, “25% dos manguezais brasileiros já foram perdidos, e as mudanças climáticas, o aquecimento das águas e a acidificação dos oceanos adicionam mais desafios à sua conservação”.
A preservação do tamanduaí e dos manguezais no Delta do Parnaíba é um esforço contínuo, com importância local e global.
A luta para proteger este habitat singular destaca a necessidade de políticas ambientais eficazes, unindo conservação e desenvolvimento sustentável para garantir o futuro das espécies e das comunidades que dependem deste ecossistema.