Por ter um potente poder estimulante, tornou-se nacionalmente popular. Possui propriedades antibacterianas, diuréticas, antioxidantes, adstringentes, dilatadoras e estimulantes
Apesar de o guaraná estar categorizado como superfruta, devido à sua poderosa propriedade energética, estimulante e fortificante, estudos recentes apontam que o pó produzido a partir dela também apresenta propriedades antioxidantes. E estas pesquisas devem ser consideradas, segundo o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf).
“Uma série de fitoquímicos bioativos — como as metilxantinas (cafeína, teofilina e teobromina) — e os compostos fenólicos (catequinas), em conjunto, vêm comprovando que o guaraná (Paullinia cupana) traz propriedades antioxidantes, vasodilatadoras, anti-inflamatórias, antitumorais e antidiarreias. Os fitoquímicos, por causa destas vantagens, contribuem para este desempenho. Contudo, os mecanismos de ação no organismo ainda precisam ser entendidos”, aponta relatório da entidade.
Pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Santa Maria (RS) e publicadas pela Phytotherapy Research, em março de 2011, indicam que a ingestão habitual de guaraná pode reduzir desordens metabólicas, incluindo hipertensão e obesidade. “Mas somente os estudos futuros irão nos apontar e consolidar estes resultados e o guaraná deve ser confirmado como uma superfruta”, pondera Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do Ibraf.
A Características
O guaraná é uma espécie vegetal arbustiva e trepadeira da família das Sapindáceas, nativo da Venezuela e da floresta Amazônica, na região Norte do Brasil. Sua fruta é pequena, vermelha e contém sementes pretas. No País, é bastante popular graças aos refrigerantes com este sabor.
As sementes são muito ricas em cafeína, por causa da substância chamada guaraína: contêm uma quantidade de 4% a 8% maior de cafeína que os próprios grãos de café. Também são abundantes em ácidos tânicos, alcaloides teofilina e teobromina.
Seu nome provém do termo indígena “varana” ou do tupi “wara’ná”, que significa árvore que sobe apoiada em outra. Cultivado inicialmente na Amazônia, pelos índios Maués, hoje a produção desta superfruta ganha destaque em território baiano, mais propriamente no Baixo Sul, tornando este Estado o maior produtor de guaraná do País.
Agricultura familiar
O cultivo de guaraná é de grande importância socioeconômica para a região, por ser explorado em pequenas propriedades e ser uma atividade típica da agricultura familiar. A área cultivada na Bahia é de oito mil hectares, com produção de 2,6 mil toneladas e uma produtividade média superior a 500 quilos por hectare, contra menos de 300 kg/hectare da região produtora da Amazônia.
A produtividade dos plantios baianos é muito superior, considerando que o Estado reúne condições mais propícias ao desenvolvimento da planta, com boa distribuição de chuvas ao longo do ano, solos de maior fertilidade e baixa incidência de doenças, como a antracnose.
Os frutos
Os frutos de guaraná possuem coloração vermelha e, em menores proporções, alaranjada e amarela. Quando estão maduros, costumam ser abertos parcialmente, deixando à mostra de uma a três sementes de tom castanho-escuro, com a metade inferior recoberta por um espesso arilo branco.
Segundo o Sebrae Mercados (Serviço de Apoio à Micro e Pequenas Empresas), a colheita é realizada neste estágio, para que as cápsulas (casca) não se abram totalmente, evitando a queda das sementes.
Produtividade ainda é baixa
O Brasil é o único produtor comercial de guaraná do mundo, com produtividade média de 298 quilos por hectare, que é considerada baixa. Este resultado é devido ao plantio de mudas de clones selecionados e de variedades tradicionais não melhoradas, além da idade avançada dos guaranazais, alta incidência de pragas e doenças e falta de tratos culturais adequados.
O Sebrae Mercados orienta o produtor rural a sempre buscar sementes ou mudas (clones) selecionadas. Especialistas recomendam ainda que o guaranazeiro seja propagado pelo enraizamento de estacas (ramos retirados da planta, herbáceos, não lignificados e com as folhas totalmente expandidas).
A produção de mudas por sementes não é aconselhada, por causa da grande variabilidade genética existente entre as plantas de guaraná, porque produzem um pomar desuniforme e de produtividade muito variável.
Cultivares
Para auxiliar na procura por mudas melhores, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem lançado cultivares selecionadas e de alta produtividade, a exemplo da BRS Saterê e BRS Marabitana. Ambas apresentam resistência estável à doença antracnose (principal doença do guaranazeiro), resistência completa à hipertrofia da gema vegetativa e galha do tronco e suscetibilidade superfrutas à hipertrofia da gema floral. Em 2011, a unidade da Amazônia Ocidental lançou quatro cultivares de guaranazeiro: BRS Cereçaporanga, BRS Mundurucânia, BRS Luzeia e BRS Andirá.
Lançada em 2013, a BRS Saterê tem boa produtividade e resistência a doenças. É recomendada para o plantio em todo o Estado do Amazonas. Tem alta produção, cacho com alta densidade de frutos de forma globosa e coloração avermelhada, variando de um quilo a 1,5 kg de sementes secas por planta ao ano, o que representa uma produtividade de 400 quilos por hectare a 600 kg/ha de sementes secas, 500% a 600% maior do que a produtividade atual obtida no Amazonas.
Também lançada em 2013, a BRS Marabitana possui as mesmas propriedades. O que as diferencia são as características físicas da planta, tais como formato, cor, folhas e ramos. A BRS Marabitana, por exemplo, tem frutos de cor amarela e a Saterê, vermelha. O teor de cafeína da primeira é de 3,8% e da segunda, 4%.
“A estratégia de lançar novas cultivares é uma forma de controlar a antracnose, aumentando a diversidade genética dos plantios e, assim, criando uma barreira genética às doenças, especialmente a antracnose, que afeta os cultivos amazonenses”, explica o pesquisador André Atroch, da Embrapa Amazônia Ocidental.
Cultivar de guaraná Saterê, que tem frutos vermelhos e teor de cafeína de 4%
Produção comercial
De acordo com o Sebrae Mercados, a produção comercial de guaraná costuma se estabilizar após três anos do plantio, no caso dos clones; e em cinco anos, para as plantas tradicionais. Além disto, a sobrevivência dos clones no campo, depois de um ano do cultivo, supera em 90%, enquanto nas plantas provenientes de sementes, geralmente, fica abaixo de 80%.
A instituição orienta o produtor a despolpar e torrar o guaraná para comercialização. Após a colheita, os frutos devem ser colocados em sacos ou amontoados em um espaço limpo, por até três dias, para que ocorra a fermentação. O local de estoque deve ter piso de cimento ou cerâmica e, de preferência, ser fechado, para evitar acesso de animais.
“A fermentação facilita a retirada da casca, tanto manualmente ou com equipamentos apropriados. Após o despolpamento, as sementes são lavadas em água limpa e classificadas em dois tamanhos, por peneira com malha de seis milímetros”, informa o Sebrae Mercados.
Preparação
Depois de classificá-las, as sementes devem ser torradas separadamente, ação que facilita a uniformização do ponto de torrefação, alcançando um produto homogêneo. A torrefação deve ser realizada em um tacho de barro ou metálico, em fogo brando, mexendo as sementes constantemente, para melhor distribuição do calor. A torrefação em tacho de barro é mais comum e leva de quatro a cinco horas, enquanto no tacho metálico, este tempo é de cerca de três horas e meia.
Conforme o Sebrae Mercados, para a indústria de refrigerantes, as sementes de guaraná estarão prontas quando chegarem ao “ponto de estalo” ou umidade em torno de 5% a 7%. Para o guaraná em bastão, a umidade deve ser de 8% a 12%.
As sementes precisam ser armazenadas em sacos aerados, se possível de fibras naturais, como aniagem ou juta. Em condições adequadas, o tempo de armazenamento pode alcançar até 18 meses.
Utilização
Segundo o mercado atual, o guaraná pode ser processado e consumido na forma de pó, bastão, xaropes e extratos. Nos refrigerantes, o conteúdo mínimo exigido de sementes de guaraná é de 0,2 gramas e o máximo de dois gramas por litro e/ou seu equivalente em extrato.
É também aplicado na fabricação de bebidas energéticas, sorvetes, fármacos, cosméticos, confecção de artesanato, entre outras utilidades.
Mercado
A produção brasileira de guaraná, relata o Sebrae Mercados, é praticamente toda consumida dentro do Brasil. Estima-se que, pelo menos, 70% de sua produção seja absorvida por fabricantes de refrigerantes.
O restante é vendido na forma de xarope, bastão, pó, extrato, entre outros subprodutos. Somente pequenas quantidades são exportadas, o que demonstra que este tipo de cultura deveria receber mais incentivo, ressalta a instituição.