De forma prática, o resgate dos sabores do campo valoriza a comida saudável e a agropecuária paulista
A mistura de diferentes costumes resultou, de modo natural, em uma gastronomia bastante diversificada, que varia de região para região no Estado de São Paulo. Essa diversidade deve-se, em grande parte, à influência dos descendentes de imigrantes europeus, que se uniram às culturas das populações nativas, africanas e de outras partes do mundo. Essa pluralidade de sabores está ao alcance de quem quiser aprender sobre a arte da culinária por meio dos cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-SP).
Os cursos do Senar-SP dedicados à culinária caseira e regional resgatam os saberes e sabores de cada região, partilhando o conhecimento tradicional, para que mais e mais pessoas possam aproveitar essa experiência, ao mesmo tempo em que oferece informações sobre nutrição e saúde, educação alimentar e higiene, desde a aquisição das matérias-primas até o preparo da comida.
Desde 1995, Íris Parizotto, instrutora do Senar-SP, desenvolve trabalhos na área da promoção social por meio de cursos de alimentação e nutrição em todas as regiões do Estado. Os programas são destinados a produtores rurais que queiram aperfeiçoar suas técnicas e também a trabalhadores rurais e seus familiares que buscam oportunidades de negócios através da qualificação profissional que estas ações promovem.
“Muitos conseguiram emprego e outros acabaram abrindo seu próprio negócio”, conta Íris, ressaltando a parceria entre a entidade e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SP), que dá assistência em questões de empreendedorismo.
Os preferidos
Segundo a instrutora, os cursos preferidos na área de alimentos são os de processamento de leite, de frutas, de banana verde, de mandioca e de milho. Também muito requisitado é o curso de Culinária Caseira Regional, cujo conteúdo programático varia de acordo com a localidade em que é realizado.
Segundo a instrutora, cada lugar possui a sua tradição gastronômica enraizada na cultura através de seus ancestrais. “É importante estudar essas raízes e conduzi-las de maneira que permaneçam na história de cada município, para que as tradições sejam repassadas aos jovens, a fim de não se perderem, em razão da globalização e de novas tendências alimentares que põem em risco várias culturas e receitas típicas”, destaca Íris.
Um dos aspectos importantes que o Senar-SP trata em suas ações é a manipulação dos produtos a partir de um manual de boas práticas, garantindo assim que o produtor e o trabalhador rural possam manipular os produtos com segurança.
Vanessa Gonçalves Teixeira Andrade, dona de uma fazenda em Bananal, é associada ao Sindicato Rural da cidade. Ela tem uma pequena produção de bovinocultura de leite e por isso se interessou pelo curso de Processamento Caseiro de Leite e também participou do curso de Processamento Artesanal de Frutas.
“Gosto muito de cozinhar, principalmente doces. Na Feira do Produtor de Bananal vendo bolos, doces e geleias que faço”, diz ela que quer começar a produzir queijo, aproveitando o leite produzido na propriedade. “Na medida do possível, eu faço os cursos e meus dois funcionários da fazenda também”, relata Vanessa.
História diferente
Luciana Rodrigues Nery tem uma história bem diferente. Ela é de Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, onde trabalhava no ramo de beleza. Pouco depois do Carnaval de 2020, ela viajou para a cidade de Cruzeiro, no interior de São Paulo, para visitar um amigo. Quando ia voltar para sua cidade, a rodoviária estava fechada devido à pandemia de Covid-19. Pensou em ficar apenas mais alguns dias, até a situação se normalizar.
Soube dos cursos do Senar-SP, por meio do amigo, participou de alguns deles, e continua em Cruzeiro até hoje. “Um dos primeiros cursos que fiz foi o de Biomassa – Processamento Artesanal de Banana Verde, seguido do curso de Culinária Caseira Regional, além de cursos sobre horta, hortaliças e poda. Há pouco tempo, concluí o curso sobre cogumelos”, conta.
Luciana tem planos de montar um negócio em Barra Mansa. “Todas as informações dos cursos que fiz se complementam. Fiquei encantada sobre como podemos melhorar a qualidade de vida por meio da alimentação e com a sustentabilidade ambiental”, salienta ela, com o compromisso de, quando abrir seu negócio, usar os produtos cultivados por agricultores de Cruzeiro e da região do Vale do Paraíba.