Produtos derivados da árvore de origem indiana ganham mercado como eficientes, seguras e econômicas alternativas ao uso de defensivos e adubos químicos nas lavouras e criações
O aumento das exigências na agricultura e pecuária por processos e produtos inofensivos ao meio ambiente impulsiona o mercado de soluções de controle biológico de pragas e fertilização orgânica.
Neste cenário, produtos derivados da árvore de origem indiana Nim – nome científico “neem (Azadirachta indica)” – ganham destaque como alternativas eficientes, seguras e econômicas ao uso de defensivos e adubos químicos nas lavouras e criações.
Na Índia, as propriedades do Nim são utilizadas na medicina, cosmética, agricultura, entre outras áreas, há mais de quatro mil anos.
Defensivos e fertilizantes
Produzidos a partir do princípio ativo extraído das folhas, frutos, cascas, sementes e madeira da árvore indiana, defensivos, antiparasitários e repelentes à base de Nim combatem, sem dano ambiental, os mais variados insetos e parasitas, como, por exemplo, nematoides, carrapatos, lagartas, besouros, percevejos e outros.
Instituições como Embrapa, Unicamp e UFPR já atestaram a confiabilidade do Nim, realçando que ele pode combater mais de 400 tipos de pragas agrícolas. Atualmente, segundo a Embrapa, o Brasil tem aproximadamente seis milhões de árvores de Nim, com potencial para ultrapassar a Índia – o maior produtor – em poucos anos.
A Preserva Mundi (www.preservamundi.com.br), empresa participante da Organicsnet, um projeto da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), é especializada no cultivo e fabricação de produtos derivados da planta. Romina Lindemann, sua diretora-geral, explica que o defensivo feito a partir do Nim age somente no organismo que pretende destruir, incluindo ovos e larvas, sem incidir sobre outros seres benéficos à manutenção correta dos ecossistemas.
Como fertilizante, o Nim é recomendado como fonte de nitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio e potássio para diversas culturas, desde hortaliças, passando por grãos, até cana-de-açúcar.
“Pelo seu ‘DNA’, livre de moléculas químicas, os produtos derivados do Nim são atóxicos ao homem e animais, bem como biodegradáveis”, explica Lindemann.
Preserva Mundi
Localizada na cidade de São João de Pirabas (PA), a cerca de 200 km de Belém, a Preserva Mundi cultiva, há cinco anos, uma plantação orgânica, certificada pela empresa suíça IMO Control, com mais de 160 mil árvores de Nim. Dentro de um modelo de negócio vertical, a empresa também industrializa os produtos derivados da planta.
Segundo Lindemann, a região Norte foi a escolhida porque tem temperatura e umidade – similares à Índia – que favorecem ao plantio e ao desenvolvimento do Nim. Atualmente, a Preserva Mundi fornece produtos para mais de 75 produtores rurais, entre pequenos, médios e grandes, espalhados pelo País. “Nossas vendas têm crescido 45% ao ano”, conta Lindemann.
“A verdade é que o Nim pode ser um grande aliado do produtor rural brasileiro no tocante à redução de custos e para tornar mais ‘limpa’ a produção”, ensina Lindemann. “O que falta é massificar a informação sobre seus benefícios, com foco numa agropecuária orgânica”.
Soma-se às vantagens econômicas e ambientais do Nim, o fato da produção da Preserva Mundi ser feita em parceria com comunidades ribeirinhas locais, colaborando para geração de emprego e renda na região.
“Desta maneira, incorporamos a sustentabilidade na estratégia de negócios, já que abarcamos de modo equilibrado na nossa atividade as questões financeiras, ambientais e sociais”, conclui Lindemann.
Exemplos
- O produtor Dauro Schettini cria 600 cabeças de gado leiteiro na cidade de Santo Antônio do Aventureiro (MG). Ao incorporar o pó de Nim na dieta do rebanho, ele reduziu custos, tempo de manejo e abandonou o controle químico no combate à mosca-do-chifre. Isso aconteceu porque o Nim presente nas fezes do gado, após ser ingerido misturado à alimentação tradicional, interrompeu o desenvolvimento dos ovos da mosca. Schettini gastava, em média, R$ 200 por mês na compra de produtos químicos. Com o uso do Nim, as despesas caíram para cerca de R$ 60 mensais.
- Pesquisa da Universidade Federal Rural de Pernambuco comprovou a eficiência do Nim no combate ao ácaro vermelho em lavouras, como, por exemplo, da mandioca. Segundo os pesquisadores da UFRPE, a aplicação do óleo de Nim reduziu significativamente o desenvolvimento dos ovos da larva do organismo.
Texto: Renato Ponzio Scardoelli
Proteção para a Pimenta-do-reino
Uma das mais antigas e graves doenças da pimenteira-do-reino (Piper nigrum L.), a fusariose, também conhecida por podridão de raízes, pode ser controlada alternativamente com folhas de nim (Azadirachta indica A. Juss.). A tecnologia, desenvolvida pela Embrapa Amazônia Oriental (Belém-PA), consiste na incorporação de folhas de nim indiano ao solo onde as mudas crescem, permitindo que elas sejam transplantadas para o local definitivo totalmente livres da fusariose.
Fusariose
Causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. Piperis, presente no solo, a fusariose dizima pimentais e causa prejuízos que não ocorrem no exterior, pois, em outros países produtores, a doença está sob controle. Não há cultivares comerciais resistentes nem tratamento químico eficaz contra o fusarium. Isso potencializa ainda mais os benefícios da nova tecnologia, especialmente entre agricultores familiares e pequenos produtores, pois é de fácil aplicação e baixo custo. Como o controle é feito na fase de mudas, permite a implantação de novos pimentais com material propagativo sadio, retarda o aparecimento natural da doença no campo e diminui sua disseminação para novas áreas de plantio.
Presente em quase todos os cultivos, há 50 anos a doença atormenta os pipericultores, especialmente os paraenses, maiores produtores brasileiros da especiaria, responsáveis por aproximadamente 80% da produção nacional de pimenta-do-reino, item que lidera a lista das exportações do Estado. São também produtores os estados do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
Uso do nim
“O uso de folhas de nim indiano é 100% eficaz no controle da fusariose quando aplicadas na formação das mudas”, afirma a responsável pela pesquisa, a fitopatologista Celia Regina Tremacoldi, baseada nos resultados dos experimentos. A pesquisadora revela que a vida útil de um pimental pode ser superior a 12 anos, mas em áreas de fusariose não tem passado de cinco ou seis anos. “Se as mudas forem transplantadas doentes, esse tempo diminui mais ainda: já no primeiro, ou no máximo segundo ano, o produtor perde metade do plantio”, alerta a pesquisadora, lembrando que, além disso, as folhas de nim fazem com que as mudas se desenvolvam melhor e mais fortes.
“O controle total da doença nas mudas já ocorre com 10g/l de folhas de nim, frescas ou secas, trituradas incorporadas no solo. Mas recomenda-se a incorporação de 50g/l, para promover, além da proteção à doença, um melhor desenvolvimento das mudas”, garante Célia Tremacoldi.
O nim foi introduzido na Embrapa Amazônia Oriental pelo pesquisador Armando Kouzo Kato, já falecido, que trouxe a espécie florestal da República Dominicana para realizar pesquisas de tutor vivo da pimenta-do-reino. Com esse fim, ele introduziu o nim na Transamazônica em 1999, começando com apenas oito agricultores.
“Hoje temos nim à vontade na região e, agora, devido a essa nova tecnologia, podemos alavancar novamente o plantio da pimenta-do-reino na Transamazônica”, avalia, entusiasmado, o pesquisador Pedro Celestino Filho, supervisor do Núcleo de Apoio à Pesquisa e Transferência de Tecnologia (Napt) da Embrapa Amazônia Oriental sediado em Altamira (PA).
#XôFusariose
A Embrapa Amazônia Oriental tem divulgado o lançamento da “Tecnologia para o controle da podridão de raízes em mudas de pimenteira-do-reino” em seu endereço no Twitter: http://twitter.com/#!/AmazonOriental. As mensagens sobre o assunto estão identificadas com a palavra-chave (hashtag) #XôFusariose, slogan da campanha de divulgação da nova tecnologia no Twitter.