Controle biológico e insumos orgânicos são cada vez mais utilizados na agricultura convencional. Eficácia e redução de custos são os principais motivos para esse movimento, porém a legislação e a demora nos registros emperram o crescimento do setor.
Pensar em sustentabilidade pode ser muito mais do que respeitar o meio ambiente. Redução de custos e maior produtividade são algumas das vantagens em longo prazo para quem utiliza práticas sustentáveis e técnicas alternativas de cultivo, reduzindo danos ambientais.
André Guimarães, da Conservação Internacional, organização que utiliza ferramentas científicas e econômicas na promoção da chamada Economia Verde, aponta um exemplo do controle biológico na agricultura convencional: “No Brasil praticamente todos os produtores de soja, hoje, utilizam o baculovirus para combater a lagarta da soja. Além de preservar o solo e água, devido a não utilização de defensivos tóxicos, o vírus é muito mais econômico”.
A Embrapa Soja estima que o baculovirus seja responsável por uma economia de mais de R$ 13 milhões por ano, uma vez que elimina a aplicação de aproximadamente 1,2 milhão de litros de inseticidas nas lavouras brasileiras. “A sustentabilidade é um caminho inevitável quem seguir o caminho contrário estará fora do mercado”, afirma André.
Biológicos em cena
Muitos agricultores já perceberam as vantagens de utilizar insumos orgânicos e controle biológico na produção. É o que diz Gustavo Ranzani Herrmann, diretor industrial Koppert Itaforte, líder mundial em proteção biológica de plantas e polinização natural. “O controle biológico vai além do mercado de produtos orgânicos, pois há uma demanda crescente no mercado convencional, por conta de problemas com resíduos químicos, exigências de mercado e resistência de pragas e doenças”.
A Koppert, presente nos cinco continentes com 25 subsidiárias, ano passado faturou € 120 milhões e, segundo Herrmann, pretende investir pesado no mercado brasileiro, “cerca de US$ 50 milhões nos próximos cinco anos”. “Além disso, de 10 a 15% do faturamento serão investidos em pesquisa e desenvolvimento”.
Entre os lançamentos deste ano, a Koppert apresenta o “Spical”, um ácaro que se alimenta de outros ácaros nocivos à agricultura, indicado especialmente para o cultivo de morangos. O Neoseiulus californicus, conhecido simplesmente por ácaro predador, é um dos insumos registrados no MAPA como produto fitossanitário com uso aprovado para agricultura orgânica.
Atrás desse nicho, outras grandes empresas conhecidas por seus portfólios de agrotóxicos, começaram a migrar seus investimentos para estes produtos. A Bayer CropScience anunciou, no início do ano, a compra da também alemã Prophyta, fornecedora de produtos microbianos para proteção de lavouras.
Entretanto, o Brasil ainda tem muito que fazer para fomentar o sucesso desse tipo de produto. Quando se fala em registro pelos órgãos responsáveis de insumos ou fitossanitários, o quadro que se vê não é dos melhores.
Insumos a espera de aprovação
“A lentidão dos processos é assustadora e transparência é algo que também não existe!”. A frase é de Ulrike Loewenhaupt, uma das pessoas engajadas na aprovação de insumos orgânicos no país. Ela se refere à falta de informação e de vontade política no diálogo entre o movimento orgânico, o Governo e seus representantes, mais especificamente o MAPA.
Em 2009, o então presidente Lula, emitiu o Decreto 6.913/09 que previa registro diferenciado dos Insumos Orgânicos dentro da Lei dos agrotóxicos 7.802/89. Ulrike explica: “Achávamos que a regulamentação deste Decreto iria progredir em tempo hábil, o que não aconteceu, e, no primeiro dia de 2011, entrou em vigor a Lei orgânica 10.831/03, que obrigava a certificação somente de insumos com registro no MAPA”.
Ulrike viu o seu produto, o Rocksil, perder o registro. o defensivo à base de pó de rocha, está há três anos aguardando ser avaliado pelo MAPA. Outros insumos também estão na espera pelo registro, que pode ser feito pela lei de agrotóxicos ou pelo decreto dos fitossanitários. em ambos, o tempo de registro é demorado.
Dificuldades para o registro
Falta de profissionais e de diálogo entre os órgãos responsáveis colaboram para a lentidão nos processos de análise e registro de insumos. “tanto para o registro de um agrotóxico convencional, como para um produto fitossanitário, não há técnicos suficientes para a demanda existente. e as condições de trabalho também são desfavoráveis”, afirma a engenheira agrônoma do MAPA, Letícia Altafin, responsável pela fiscalização e registro de agrotóxicos e produtos fitossanitários com uso aprovado para agricultura orgânica. “Para os insumos orgânicos, por existir uma lei específica, o tempo para registro é de até 70 dias, para os agrotóxicos convencionais pode levar de 3 a 5 anos”, informa.
No caso dos insumos orgânicos, outro problema consiste no fato de a regulamentação ser feita por três órgãos: MAPA, ANVISA e IBAMA Ulrike aponta que, “quando questionados, cada órgão joga a responsabilidade sobre o outro”. Altafin acredita que “um sistema digital e unificado entre os três órgãos daria mais agilidade ao processo”.
O Brasil, desde 2008, é campeão mundial no uso de agrotóxicos. Segundo dossiê feito pela associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), 1/3 dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado. dados da Fiocruz apontam que em 2010, 5.463 pessoas foram vítimas de intoxicação por agrotóxicos. Os casos mais graves causam transtornos neurológicos, levando à depressão profunda. dos 195 óbitos causados por intoxicação de agrotóxicos, 175 foram suicídios.
Concentrar esforços na aprovação de insumos alternativos e sustentáveis para agricultura significa poupar recursos naturais não renováveis, como o solo e a água e valorizar a saúde dos agricultores e trabalhadores rurais.