Do alto da Serra Gaúcha, exatamente em sua zona mais protuberante, vinícolas familiares e vinhedos cultivados marcam a paisagem de Altos Montes, que se expressa pela identidade cultural e territorial de seus vinhos finos
Uma das principais referências quando se fala em vitivinicultura, no Brasil, é a região de Altos Montes, que abrange as cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua, na Serra Gaúcha, a nordeste do Estado de Rio Grande do Sul. Somente os dois municípios contam com aproximadamente duas mil propriedades vinícolas, basicamente formadas por mão de obra familiar.
Em 2012, a localidade obteve a Indicação Geográfica (IG), por meio do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), na categoria Indicação de Procedência (IP). O selo IG atesta as características singulares aos vinhos e espumantes da região, atribuindo melhor reputação, maior valor intrínseco e identidade própria ao local e seus respectivos produtos.
Na área onde se delimita a IP de Altos Montes, prevalece uma grande superfície de vinhedos, que possibilita inferir considerável potencial de expansão do local, para a elaboração de seus produtos característicos, com a reconversão dos próprios vinhedos.
História e tradição
A videira tem papel destacado na criação da identidade de Altos Montes, que foi colonizado por imigrantes italianos no final do século 19. A implementação de vinhedos e as diversas vinícolas, fundadas nos anos de 1920 e 1930, estruturaram a disseminação de muitas variedades de vinhos finos da região.
A princípio, a produção familiar era desenvolvida, exclusivamente, em pequenas propriedades. Mas com a paralela evolução na fabricação local de vinhos finos de qualidade, diversas vinícolas foram criadas ao longo das décadas seguintes.
A natureza passou por transformações por causa do processo de ocupação e utilização do solo, deixando marcas na paisagem, entre as quais se destacam as vinícolas familiares e os vinhedos cultivados. Por isso, os vinhos finos de Altos Montes expressam sua identidade territorial e cultural.
Condições topoclimáticas
A bebida dessa região sul-rio-grandense, que conta com o registro de Indicação de Procedência (IP), apresenta qualidade única, por causa de seus elementos naturais, tais como solo, clima e altitude. Assim ocorre em Altos Montes, onde, principalmente, as condições topo-climáticas de sua extensão territorial interferem positivamente no sabor de seus vinhos, considerando que sua matéria prima – a uva – apresenta excelente acidez, elevada pigmentação e médios teores de açúcar.
A região, que envolve as cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua, possui clima vitícola IH (Índice Heliotérmico) e a temperatura noturna mais baixa da Serra Gaúcha. Com isso, o período de maturação das uvas é mais longo, com colheitas mais tardias em relação à média das localidades vizinhas, o que propicia maior intensidade aromática dos vinhos brancos e tintos, e na intensidade de coloração dos tintos.
A altitude do lugar também é um agente importante para tais peculiaridades: sua parte mais próxima do nível do mar chega a 550 metros, enquanto a mais elevada está posicionada a 885 metros, ao longo da área contínua.
Pela média, é possível dizer que os vinhedos de Altos Montes se encontram em uma faixa de 700 metros de altura.
Paisagem
Em relevos de planaltos, seus territórios são recortados por vales encaixados nas grandes linhas de falhas e fraturas das rochas vulcânicas, pertencentes à formação da Serra Gaúcha. Suas paisagens ainda incluem topos de patamares, encostas e fundos de vales, com declividades e exposições variadas.
Existe ainda uma diversidade de elementos paisagísticos no meio rural de Altos Montes, com relevos recortados por encostas íngremes e vales profundos, cobertos por florestas de araucárias. Um exuberante cenário multicolorido é formado pelos vinhedos e fruteiras.
Benefícios
Os espumantes e vinhos da região de Flores da Cunha e Nova Pádua são bem diversificados, com qualidades que refletem as características do meio geográfico, juntamente ao saber-fazer local.
Recentemente, a vitivinicultura da região de Altos Montes passou por uma evolução, graças à organização coletiva dos produtores, que incluiu o emprego de novas tecnologias em vinhedos e vinícolas, resultando em um grande aprimoramento na qualidade dos vinhos e espumantes.
Outro bom desempenho decorrente dessa organização tem sido o fomento do potencial turístico de Altos Montes. O roteiro enoturístico da região, além de apresentar uma estrutura para atendimento em visitas e degustações de vinhos, preserva a identidade cultural, mantendo a originalidade resgatada da colonização italiana. Por isso, as premiações nacionais e internacionais, assim como o próprio selo IG, comprovam a qualidade e a reputação de seus produtos.
Fontes: Sebrae e Apromontes