A partir da produção de uma das mais famosas bebidas brasileiras, a região de Salinas, em Minas Gerais, ganha visibilidade ímpar, após conquistar a Indicação Geográfica na categoria Indicação de Procedência, em 2012
A cachaça está presente na história do país, desde os tempos da colonização, e são inúmeras as versões para o aparecimento dessa bebida destilada, originalmente brasileira. uma delas relata que, por volta de 1532, os portugueses teriam trazido a cana-de-açúcar e as técnicas de destilação da ilha da madeira e aprimorado por aqui.
Outra remete a um período posterior: à história de um escravo que trabalhava em um engenho, no Estado de Pernambuco. Ele armazenava a “cagaça”, um caldo esverdeado e escuro que se forma durante a fervura do caldo de cana. O líquido fermentava naturalmente e, por causa das alterações de temperatura, evaporava e condensava, formando pequenos pingos de cachaça nos tetos do engenho.
Histórias à parte, fato é que a aptidão para produzir a cachaça artesanal trouxe, há quatro anos, mais visibilidade para a região de Salinas, em Minas Gerais, como forma de expressão de suas potencialidades no contexto econômico, social e cultural no Brasil.
Título
Genuína e premiada aguardente, feita de cana-de-açúcar, a cachaça artesanal é cada vez mais cobiçada por sua qualidade única e tradição. Prova disso é que, em 2012, a bebida fabricada em terras mineiras recebeu o título de Indicação Geográfica (IG) na categoria Indicação de Procedência (IP), concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Idealizado por produtores locais, organizados através da Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas (APACS), o projeto para conquistar a IG começou quase três anos antes, período em que trabalharam com afinco para agregar mais valor ao produto. Agora, a Indicação Geográfica da cachaça produzida nos alambiques de Salinas colabora para o fomento e valorização da bebida de Minas, tanto no mercado interno quanto externo, aumentando o potencial para as exportações. As portas para os Estados Unidos e Europa, por exemplo, se abriram depois da certificação.
História e tradição
A produção de cachaça artesanal em território mineiro teria começado no fim do século 19, seguindo os rastros da atividade pecuária, na época do povoamento daquela região. Encarregados da lida com o gado, os escravos teriam experiência na produção dessa bebida destilada.
Há relatos que, em 1876, fugindo da seca da Bahia, Balduíno Afonso dos Santos teria trazido as primeiras mudas de cana-de-açúcar caiana a Minas Gerais, após se instalar às margens do Rio Serra Ginete. Alguma produção em escala comercial já seria uma realidade no município, no início do século 20, por causa da qualidade do produto.
Na década de 1930, o fazendeiro João da Costa apresentou a variedade de cana Java, que se adaptou muito bem ao clima e solo mineiro, se espalhando rapidamente. As boas perspectivas para a fabricação da cachaça artesanal, em Minas, começaram a partir dos anos de 1940, pelas mãos do fazendeiro Anísio Santiago, primeiro produtor a identificar e a legalizar a produção desse tipo de bebida.
A experiência positiva proporcionou o surgimento de novos produtores, iniciando uma atividade que mudou todo o panorama econômico da região: a produção da cachaça. Desde então, a região de Salinas vem se consagrando como maior polo de produção da cachaça artesanal do Brasil.
Características territoriais
Situado ao norte de Minas Gerais, o território que corresponde a Salinas é a principal referência na produção de cachaça artesanal no Estado, por ser a maior produtora tanto em volume quanto em número de marcas comercializadas.
Sua produção tem como principal característica a uniformidade do solo e o clima semiárido. A região apresenta baixo índice pluviométrico, com média anual de 700 milímetros. As chuvas vão de novembro a março, época ideal para o plantio da cana-de-açúcar.
Como fatores determinantes, que fazem a diferença no processo da produção da cachaça artesanal, são destaques: a utilização de variedades de cana apropriadas, o fermento orgânico natural, a higiene dos alambiques e a tradição dos produtores.
Produção
Obtida a partir da destilação do mosto fermentado da cana-de-açúcar, a cachaça de Salinas é produzida exclusivamente em alambiques e condensadores de cobre. Por isso, é um produto tipicamente artesanal.
Embora existam outras espécies de cana na região, desde a década de 1930, a Java é a principal variedade usada na produção da bebida destilada. Apesar da implementação de novas tecnologias, em benefício da estrutura de produção, o método ainda é passado de geração a geração. Pode-se afirmar que as marcas das cachaças da região de Salinas são as mais famosas do Brasil.
Importância notável
O curso superior de Tecnologia em Produção da Cachaça, implementado pelo Ministério da Educação em 2004, e a inauguração do museu da Cachaça, em 2012 (ambos no município mineiro de Salinas), são reflexos da importância econômica, histórica e cultural daquela região. Consagradas pelo reconhecimento, a fama e a notoriedade de Salinas serviram para agregar ainda mais valor de mercado à cachaça artesanal. vale destacar que a conquista do título de Indicação de Procedência, em 2012, favoreceu a implementação de selos de controle no combate às falsificações e tornou-se um meio mais fácil para que o consumidor possa identificar, em qualquer lugar, a verdadeira cachaça da região de Salinas.
Qualidade Premiada
Em 2014, uma das várias marcas presentes em Salinas foi medalhista de ouro em um concurso internacional. Com 30 anos de existência, a “Cachaça Salinas” levou o “Concours Mondial de Bruxelles – Spirits Selection 2014”, uma das mais importantes competições internacionais de destilados. A marca concorreu com mais de 200 das melhores fabricantes de cachaça do País.
Diretor comercial do Grupo Salinas, responsável pela fabricação da cachaça premiada, Thiago Medrado ressalta que a maior conquista está na valorização da cachaça da região no mundo. “A conquista desta medalha é o reconhecimento da excelência da Salinas com o seu produto mais vendido, durante toda a sua história”, comemora.
Fonte: Sebrae, INPI e Ministério da Agricultura