Para o bem-estar do “companheirinho”, muitos tutores utilizam os serviços de hotéis, quando precisam viajar; de creches, enquanto trabalham; de dogwalker e pet sitter, que levam os pets para passear; e até contratam plano de saúde
A mudança das relações afetivas entre as pessoas e seus animais de estimação – a chamada “humanização dos pets” – vai além da alimentação adequada, do banho e tosa e das consultas veterinárias. Por causa disso, os “novos filhos” têm ganhado tratamentos especiais de dar inveja a qualquer um.
Para o bem-estar do “companheirinho”, muitos tutores utilizam os serviços de hotéis, quando precisam viajar; de creches, enquanto trabalham; de dogwalker e pet sitter, que levam os pets para passear; e até contratam plano de saúde.
De olho nesse nicho, empresários têm apostando em serviços, antes pouco populares. E o investimento vale a pena, considerando que o setor de pet care – que inclui equipamentos, acessórios, produtos e serviços de higiene, beleza e bem-estar animal – ocupou o terceiro lugar em faturamento no ano passado, com 7,9% de todo esse mercado, atrás somente de pet food (68,6%) e pet serv (15,8%), conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
Amor pelos cães
O amor pelos cachorros, desde a infância, uniu uma bióloga com um administrador de empresas para, juntos, abrirem um novo negócio na cidade do Rio de Janeiro, que tem dado certo desde 2010: a empresa Cão Carioca, que oferece o serviço de pet sitter, entre outros, qualificados por eles como “cuidados caninos”.
Ambos especialistas em comportamento canino, Camila e Martin Córdoba empregam, atualmente, cerca de 20 pessoas, entre biólogos, adestradores, passeadores e médicos veterinários, que são selecionados conforme a experiência, qualificação e aptidão.
Segundo Camila, o público-alvo da Cão Carioca envolve pessoas com pouco tempo disponível e que precisam de uma ajuda com seus cães, ou ainda tutores que estejam enfrentando algum problema na “educação” do pet.
Valor agregado
Na visão dela, o mercado de “cuidados caninos”, que vai além do trabalho de pet sitter (esse serviço também é oferecido pela Cão Carioca, mas somente com profissionais qualificados), ainda vai crescer muito.
“Isso porque qualquer pessoa poderia ser uma passeadora ou pet sitter, mas apenas um profissional treinado, qualificado, supervisionado e com um bom suporte técnico poderá fornecer o nível de cuidado e segurança que o tutor de um pet precisa e exige, atualmente”, diz Camila.
Das casas e apês para as ruas
O crescimento do mercado pet, e mais especificamente dos cuidados com o bem-estar dos animais de estimação, tem aberto novos espaços nas ruas das cidades brasileiras. Um dos exemplos foi a dog’s day, que em 2018 chegou à terceira edição, realizada no dia oito de julho deste ano, em um estacionamento de um grande parque de Goiânia (GO).
Responsável pelo projeto, o designer gráfico e adestrador de cães Leandro Meireles – especia lista em comportamento canino, há mais de dez anos, e dono da Mr. & Dog Trainer –reuniu de DJs e bandas de música a profissionais do setor de pet, para um dia de festa e interação com os bichinhos.
Seus parceiros ofereceram atendimentos veterinários gratuitos, banho e tosa ao vivo, distribuição de brindes das empresas parceiros do evento, exposição e execução de fotos pela fotógrafa de pets Lara Monteiro; além de uma mostra de vídeos sobre raças, adestramento e provas caninas.
Tutor temporário
Outro serviço inovador do mercado pet envolve a dificuldade de o tutor deixar seu cão ou gato para trás, enquanto sai, principalmente, para viajar. Essa foi a inspiração para que Eduardo Baer e Fernando Gadotti, até então colegas de MBA em Stanford (EUA), criassem a startup dog hero.
Lançada no País em agosto de 2014, a empresa já reúne mais de 15 mil anfitriões (como são chamadas as pessoas que recebem os “hóspedes”) de 650 cidades brasileiras e mais de 280 mil animais cadastrados. Em maio do ano passado, a dog hero expandiu seus serviços para a América Latina e hoje conta com mais de mil “cuidadores” na Argentina.
A plataforma funciona como marketplace, que conecta donos de cães a anfitriões, oferecendo o serviço de cadastro de pessoas de confiança, que hospedam o cãozinho, mantendo a rotina de carinho e cuidados que seus tutores oferecem no dia a dia. Em apenas alguns cliques, os donos de pets podem escolher um anfitrião perto da casa do interessado.
Creches para cães
O corre-corre do trabalho também dificulta a vida dos pais que precisam, muitas vezes, deixar seus filhos em uma creche, em segurança, para buscá-los ao fim do dia. O que é corriqueiro na vida de humanos tem se popularizado cada vez mais na relação entre as pessoas e seus pets.
Daí as creches terem ganhado espaço nas cidades, a exemplo da Estação Animal Massaro, que funciona em Ribeirão Preto (SP).
App criado por Eduardo Baer (à esquerda) e Fernando Gadotti, o dog hero (detalhe) já conta com mais de 15 mil anfitriões
A ideia, que surgiu há 14 anos, veio das irmãs e da mãe delas – uma família de médicas veterinárias: Ana Carolina Massaro Rosa, Nátalie Massaro Rosa Ballaben e Claudia Massaro, respectivamente.
“Queríamos um local seguro onde os cães pudessem ser livres e curtissem tudo o que lhes foi privado na ‘humanização’: correr sem coleiras, brincar com água, cavar buracos, brincar com outros cachorros, latir, ou seja, serem cães”, conta Ana Carolina, lembrando que, naquela época, “havia muitos relatos de acidentes em praças ou terrenos, que eram usados para esse fim, mas como não eram cercados e monitorados, os cães eram colocados em perigo”.
Monitoramento online
A creche Estação Animal Massaro, conforme a médica veterinária, “preza pela qualidade de vida e de espírito desses pequenos seres, que fazem um bem enorme e completam nossa vida tão corrida e estressante”. “Nossos clientes têm acesso às nossas redes sociais. Lá, eles podem verificar como foi prazeroso o dia de seus pequenos, pois são postadas fotos e vídeos.“
O intuito da creche, segundo Ana Carolina, “é atingir aquele tutor que quer oferecer qualidade de vida ao animal, mas não tem tempo suficiente para realizar isso ou não sabe como fazer”.
“O dia a dia das cidades está tão corrido, que muitos animais ficam o dia inteiro sozinhos nas residências. Quando o tutor chega do trabalho, por exemplo, está cansado e não consegue passear ou até mesmo brincar com seu animalzinho”, relata a médica veterinária.
Plano de saúde
Outro nicho pungente do mercado pet é o plano de saúde para animais de estimação. Isso porque, assim como os humanos, as doenças podem aparecer de repente, causando impacto no bolso dos tutores, que teriam de pagar pelas consultas particulares, o que geralmente saem muito caras.
Basta fazer uma rápida pesquisa na internet para conferir a quantidade de planos de saúde para pets, que oferecem serviços básicos, como consultas e exames clínicos com veterinários. Há outras modalidades mais diferenciadas, como cobertura de parto; implante de microchip, para conseguir localizar o animalzinho em caso de desparecimento; e até auxílio para o funeral do animalzinho.
Já os programas mais completos oferecem castração, vacinas e até reembolsos de procedimentos realizados fora da rede credenciada, nos mesmos moldes dos planos para humanos.
Emergência
Para Júlia Martins e o marido Paulo Leonardo Pinto, moradores do Rio de Janeiro e donos de duas cachorrinhas, a vantagem de ter o plano de saúde pet “é podermos ficar despreocupados em relação aos imprevistos, uma vez que o tratamento veterinário é bem caro; e a desvantagem é que o serviço ainda não é muito popularizado e não é aceito em muitos locais”.
Negócio em alta
Sócio-fundador da Saúdepets – Consultoria e Corretora em Planos de Saúde e Assistência para Cães e Gatos, de São Paulo, Bernd Nestrojil espera um crescimento de 200% nos negócios, em 2018.
“Começamos a operar no mercado há dois anos, para sentir a receptividade dos produtos pelos consumidores. Por meio de alguns anúncios-testes no Facebook, percebemos que os donos de animais de estimação têm uma grande preocupação com o bem-estar deles. E com os custos altos dos procedimentos veterinários, eles procuram por alternativas”, informa o executivo.
Ele acredita que ainda está bem no início da conscientização do seu público-alvo. A maioria está entre 25 e 40 anos, e contrata planos para pets de zero a oito anos de idade.
Inovações do mercado
Para quem tem condições financeiras de bancar alimentos mais caros, o mercado pet no Brasil tem oferecido alternativas das mais variadas – e até mesmo pra lá de luxuosas –, como é o caso da Padaria Pet.
A franquia de petiscaria e confeitaria para cães e gatos nasceu em 2015, após uma viagem aos Estados Unidos, feita pelos sócios e irmãos Ricardo e Rodrigo Chen. Lá, eles se depararam com o conceito de padaria e confeitaria para os bichinhos.
“O chamado ‘pet friendly’ – espaço de convivência entre tutores e animais de estimação – já era bem difundido naquela época, nos EUA. A ideia foi, então, trazida para replicar esse modelo no Brasil, ou seja, ter um espaço de convivência entre animais e humanos, oferecendo produtos inovadores e diferenciados”, lembra Rodrigo Chen.
Localizada em Cotia, na Grande São Paulo, a fábrica é devidamente registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e seus produtos são desenvolvidos por universidades e doutores em Nutrição Animal.
Carro-chefe
De acordo com Rodrigo Chen, a linha de petiscos é o carro-chefe da Padaria Pet, desenvolvida para cães, sem o uso de corantes artificiais ou qualquer substância que prejudique os animais.
“Existem vários formatos e aromas, que podem ser usados também como forma de recompensa. Além das linhas de confeitaria e petiscaria, nossa rede oferece produtos diferenciados, como cerveja, docinhos, sorvetes, gelatinas, bolos de caneca para micro-ondas, cookies, bolos, muffins, waffers e a linha natural para animais diabéticos, com problema renal ou obesidade”, cita o executivo.
Os irmãos Rodrigo (à esquerda) e Ricardo Chen, da Padaria Pet, oferecem produtos inovadores e diferenciados, como bolos de aniversário especiais (detalhe)
A Padaria Pet também fornece o serviço completo de buffet e lounge para festas de aniversário, banho e tosa, galeria de arte, judô para cachorro, boutique para venda de acessórios, entre outros.
Lançamentos
Lançada em abril deste ano pela empresa, a pipoca para cães é feita com farinha de arroz, antioxidante e sem uso de corantes. Já o café pet é elaborado à base de alfarroba, palatabilizante e aroma de café. Todos os ingredientes são próprios para o consumo do animal.
A cerveja para cachorro, por sua vez, é elaborada à base de caldo de carne e vitaminas, enriquecida com fibras, vitaminas A, C e D, extrato de malte e levedo de cerveja, que elimina o processo de fermentação. Não é gaseificada, nem contém teor alcoólico. A Padaria Pet também trabalha com sistema de franqueamento.
Fontes:
www.caocarioca.com.br
www.doghero.com.br
www.saudepets.com.br
www.padariapet.com.br
Estação Animal Massaro – Facebook e Instagram @massaro.creche e massarocreche @le-dogtrainer @fotografiapet_laramonteiro