Segmento que envolve a criação de animais de estimação faturou R$ 20,37 bilhões em 2017, alta de 4,95% sobre o ano anterior, segundo dados da Abinpet.
Um mercado que cresce anualmente, em média, bem acima dos índices da economia nacional. Esse é o atual cenário do setor de pets que, por definição, é o segmento do agronegócio relacionado ao desenvolvimento das atividades de criação, produção e comercialização de animais de estimação.
Englobando as áreas de pet food (alimentos), pet vet (produtos veterinários), pet care (equipamentos, acessórios, produtos de higiene e beleza animal) e pet serv (serviços), esse nicho do agro faturou R$ 20,37 bilhões em 2017, conforme dados publicados em maio deste ano, pela Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
O valor representa um crescimento de 4,95% no faturamento desse mercado no País, em relação a 2016, já descontada a inflação do período que, no ano passado, foi de 2,95%.
Consumo interno e exportação
De acordo com o presidente executivo da Abinpet, José Edson Galvão de França, o Brasil é o terceiro maior mercado do mundo para produtos relacionados aos animais de estimação, ficando atrás somente dos Estados Unidos (42%) e do Reino Unido (6,7%), e representando 5,3% desse market share, atualmente.

França: “Produção brasileira do setor é voltada principalmente para consumo interno”. Foto: Abinpet
“A produção brasileira do setor é, principalmente, voltada para o consumo interno, mas parte dela também é exportada. No entanto, registramos queda nas exportações de 11%, entre 2016 e 2017, de R$ 236,3 milhões (FOB) para R$ 210,1 milhões (FOB). Essa desaceleração do País, como fornecedor de produtos pet, vem desde 2015, quando o Brasil faturou R$ 351,4 milhões (FOB) contra R$ 497,4 milhões (FOB), no ano anterior”, informa o executivo.
França destaca que o setor nacional de pet food é o mais expressivo em exportação: “A produção brasileira nessa área, em 2017, chegou a 2,66 milhões de toneladas, um aumento de 3% em relação a 2016, quando produziu 2,58 milhões de toneladas. Esses números colocam o Brasil em segundo lugar no mundo em produção de pet food, atrás apenas dos EUA”.
Conforme números oficiais mais recentes (de 2013) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – o que significa que, hoje, devem ser ainda maiores –, existem mais de 132 milhões de animais estimação em todo o território nacional, somando mais de 52 milhões de cães, 38 milhões de aves, 22 milhões de felinos e 18 milhões de peixes, além de aproximadamente dois milhões de outros pequenos animais.
“Nossa população total de pets é a quarta maior do mundo, atrás da China (289 milhões de bichos), dos EUA (226 milhões) e do Reino Unido (146 milhões). No total, são 1,56 bilhão de animais de estimação ao redor do globo. O Brasil ainda está em segundo lugar no ranking da população de cães e gatos, atrás dos norte-americanos, que possuem em torno de 73,6 milhões desses animais”, pontua França.

Brasil é o segundo no mundo em produção de pet food, atrás somente dos EUA
Mudança das relações
Na visão do presidente executivo da Abinpet, “a grande mudança do mercado pet, se compararmos com o que tínhamos há 20 anos, está na saída dos animais de estimação dos quintais e na entrada deles nas casas”.
“Os pets passaram a ser verdadeiros membros da família. Por causa disso, o mercado recebeu impulso para criar novos produtos e serviços, e a investir cada vez mais em inovação e diferenciação, seja em segmentos convencionais – como o de alimentação, com tecnologias empregadas na fabricação de petiscos, snacks e tipos variados de rações –, seja em novos serviços, como pet sitter, dogwalker, hotéis etc.”
Ele ainda salienta que, por causa do aumento da concorrência, o grande diferencial está na qualidade dos serviços oferecidos, principalmente em razão da alta demanda: “Observamos a necessidade de trazer novidades, dentro daquilo que já é ofertado, para termos produtos e serviços nacionais competitivos”.
Gastos dos tutores
Conforme o executivo Rodrigo Chen, sócio proprietário da Padaria Pet – responsável por trazer, dos Estados Unidos ao Brasil, o conceito de padaria e confeitaria para cachorros –, em torno de 76% dos brasileiros têm, pelo menos, um animal de estimação em casa.
“É o que nos mostra uma pesquisa recente feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), com o objetivo de identificar o comportamento dos tutores em relação aos gastos com os animais de estimação. O estudo ainda revelou que as despesas chegam a uma média de 189 reais por mês. E tratando-se das classes A e B, esses gastos sobem para 224 reais”, informa Chen.
Gargalos
Mesmo diante de um cenário promissor, o presidente executivo da Abinpet, alerta para o fato de que esse mercado ainda enfrenta certos entraves, alguns gargalos que impedem seu pleno desenvolvimento.
“Não há políticas públicas adequadas, especialmente em torno da tributação e da falta de um marco regulatório setorial para a criação e comercialização de animais de estimação no Brasil”, critica França.
Ele avalia que uma mudança – para melhor – das políticas públicas traria maior segurança jurídica para o incremento dos negócios em pilares econômicos, que são a indústria, o comércio, os serviços e a criação em si dos animais de estimação.
“Vale ressaltar que a maioria das empresas desses três últimos pilares é formada por micro e pequenas empresas, ou seja, elas precisam de atenção especial e regras que permitam seu crescimento.”
Diretor de Marketing e vendas da Mars Petcare, do Grupo Mars, Daniel Calderoni, diz que o Brasil ainda enfrenta, economicamente falando, um momento complicado e a indústria pet não sai ilesa.
“Buscamos ser cada vez mais eficientes em nossos processos para entregar sempre a melhor equação possível de custo e qualidade para nossos clientes. Além das nossas estratégias de longo prazo, nós nos baseamos nas oportunidades que temos no Brasil”, diz o executivo.
Calderoni cita como exemplo o fato de o percentual de animais de estimação que se alimentam com produtos manufaturados ainda ser considerado pequeno. “Estima-se que há, pelo menos, 60% de potencial de crescimento nesse setor.”
Convívio benéfico
Daniel Calderoni reforça que não é de hoje a conexão entre seres humanos e pets. “Nos últimos anos, os animais de estimação adentraram as casas dos brasileiros e ganharam o status de membros da família. Com essa relação cada vez mais próxima, os tutores têm o prazer de cuidar de seus pets, oferecendo o melhor para eles”, comenta.
Ele acredita que os pets representem uma parte essencial da sociedade, fornecendo “um apoio valioso ao facilitar a interação humana e os contatos sociais”. “As evidências científicas têm demonstrado os inúmeros benefícios advindos dos pets, não só para seus tutores, mas também para a sociedade como um todo.”
- Os animais de estimação somam hoje no país mais de 52 milhões de cães. Foto: Luísa Baran Alvarenga
- número de gatos passa dos 22 milhões no País. Foto: Sylvia Wachsner
Evolução do setor
No que diz respeito à alimentação, no Brasil, a maioria dos animais – em torno de 63% dos cães e 55% dos gatos – ainda consome rações secas. Mas isso vem mudando, conforme o mercado se adapta ao tipo de tratamento oferecido pelos donos dos animaizinhos.
Para o diretor de Marketing e vendas da Mars Petcare “o segmento de pet food está em evolução e, à medida que os tutores passam a entender a importância de oferecer uma boa alimentação ao seu pet, é natural que busquem produtos de qualidade que, seguramente, têm a quantidade ideal de nutrientes diários para o pet, seja ela uma alimentação natural ou manufaturada”.
Calderoni relata que as grandes novidades do setor de pet food industrializado estão na alimentação úmida e nos snacks para os bichinhos de estimação.
- Por causa da concorrência, o grande diferencial no mercado pet…
- …está na qualidade dos serviços oferecidos sejam de tosa, banho ou outros.
Peso da tributação
O presidente da Abinpet, José Edson Galvão de França, acredita que a arrecadação de impostos, especialmente por parte do governo federal, deveria ser repensada de forma a promover o incentivo às atividades dos setores econômicos e não via aumento da tributação, como é recorrente no Brasil.
“Isso impacta diretamente no preço final dos produtos. Hoje, o setor pet é tributado em 51,2%, a maior carga tributária de todo o mundo. Em outros países, esse número fica entre 7% e 20%”, informa França.
O executivo ainda tece outras críticas: “O alimento completo, que é essencial na vida dos ‘nossos amiguinhos’, é considerado pelo governo Federal como um ‘produto supérfluo’. Essa percepção equivocada se reflete nas gôndolas, pois a tributação aumenta o preço final em 51,2%, como já mencionei. Ou seja, a cada real investido, 51 centavos são de impostos”.
Representatividade
Mesmo diante desse cenário nada otimista em torno da política tributária do Brasil, o mercado pet ainda tem motivos para comemorar, especialmente porque vem ganhando força por parte das instituições representativas desse segmento econômico no País.
É o caso da própria Abinpet, que desenvolveu o Projeto Pet Brasil, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Esse programa foi implantado para auxiliar e orientar empresas que queiram exportar seus produtos e serviços – sejam elas iniciantes, já exportadoras ou internacionalizadas.
“O projeto setorial Pet Brasil busca fortalecer a imagem desse segmento brasileiro, bem como auxiliar as empresas nacionais a serem mais competitivas também internacionalmente”, diz França.
Vantagens
O executivo ainda informa que o Projeto Pet Brasil oferece aos envolvidos oportunidades de palestras e reuniões sobre temas ligados à exportação, à participação em feiras e eventos internacionais, além de rodadas de negócios com investidores estrangeiros.
“O resultado desse trabalho de parceria é fortalecer a imagem do mercado pet brasileiro no exterior, atraindo investimentos e negócios para cá.”
Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, dentro do Programa de Desenvolvimento e Inovação das Empresas do Setor Pet – PDI Pet, foi desenvolvido um sistema de avaliação que, por meio de uma série de critérios pré-estabelecidos, identifica o estágio em que a empresa analisada se encontra.
Para cada estágio, o programa oferece um suporte diferenciado, abrangendo as áreas de inteligência de mercado, marketing, promoção de negócios e imagem, além de estratégias para internacionalização. Mais detalhes, acesse http://petbrasil.org.br.
Nutrição clínica
Para dar mais força ao mercado pet no Brasil, especialmente na área de cuidados com a alimentação dos bichos de estimação, o Colégio Brasileiro de Nutrição Animal-CBNA e parceiros sugerem a criação da “Sociedade Brasileira de Nutrição Clínica de Cães e Gatos”. Essa proposta foi feita e registrada durante o 17º CBNA Pet, realizado em maio deste ano, em Campinas (SP).
Essa ação tem sido encabeçada pelo professor Aulus Cavalieri Carciofi, da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) – Campus de Jaboticabal e membro do Comitê Técnico de Pet do CBNA.
“A ideia é somar ao Colégio Brasileiro de Nutrição Animal. Esta sociedade é o próprio CBNA, mas como trabalhamos com outras espécies também, ele faz parte do grupo pet. Trata-se de um subgrupo dentro dos nossos estudos de nutrição de pets”, disse o professor, durante o encontro.
Missão
Médico veterinário e presidente do CBNA, Godofredo Miltenburg garante que a missão dessa “nova Sociedade” será a de “congregar, unir esforços na divulgação de conhecimentos científicos, apoiando a produção de pesquisas, promovendo o interesse e a conscientização da comunidade técnica e do público, de uma maneira geral, sobre o papel e a importância da alimentação adequada”.
Ele ainda explica que o trabalho tem como foco os profissionais e pesquisadores interessados em alimentação individual de cães e gatos, uma das tendências mais importantes em nutrição desses pets.
“Quase sempre as dietas são escolhidas, primeiramente, pelos alimentos, o que pode levar à falta de nutrientes. Por isso, na elaboração de uma alimentação individual, é importante, em primeiro lugar, considerar o nutriente. E essa regra vale não apenas para dietas individualizadas, mas é o princípio para a formulação de ração de animais de produção também”, defende o professor Aulus Carciofi.
Para o presidente do CBNA, “é cada vez mais reconhecido e importante o espaço da nutrição e da nutrição clínica de cães e gatos, seja como ferramenta coadjuvante ou como protagonista no tratamento e prevenção de enfermidades”.
A ideia
Miltenburg ainda lembra que a criação dessa nova instituição surgiu a partir da constatação, pelo Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, da necessidade de estabelecer ações que favoreçam a prática da boa nutrição e o uso da nutrição clínica em cães e gatos, bem como dar suporte aos médicos veterinários e zootecnistas que atuam nessa área.
O tema, além dos profissionais, também desperta interesse em tutores de cães e gatos. Isso porque as informações sobre nutrição e nutrição clínica têm sido fortemente difundidas.
“Por isso, é tão importante que elas estejam alinhadas com a realidade científica, evitando uma decisão incorreta sobre a melhor e mais saudável maneira de alimentar os pets, recorrendo à alimentação desbalanceada, que pode ocasionar o aumento na incidência de doenças nutricionais, que temos observado na rotina da nutrição clínica”, alerta o professor Aulus Carciofi.

Pets agora são parte da família, realidade que impulsionou o mercado pet, já que 76% dos brasileiros têm pelo menos um animal de estimação em casa
Marjorie Avelar Especial para A Lavoura
Fontes: Abinpet, Mars Petcare, Padaria Pet e Colégio Brasileiro de Nutrição Animal