Aplicativo MeAuDote ajuda tutores a encontrarem animais abandonados, por meio da adoção responsável. A longo prazo, a intenção é extinguir a situação de rua de pets, no Brasil
Trinta milhões de bichinhos perambulando pelas ruas do Brasil. Essa é a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação ao número de pets abandonados no País. O cenário preocupante tem movimentado ações de ativistas da causa animal, que vão desde a promoção de feiras de adoções a aplicativos que ajudam futuros tutores a encontrarem um “novo companheirinho”.
Uma das plataformas gratuitas lançadas recentemente – em 28 de junho deste ano – é o aplicativo MeAuDote, que já́ contabilizava (até o dia 10 de julho) 15 doações realizadas direta e/ou indiretamente pelo app.
A ideia de desenvolver a plataforma veio do empresário e advogado Francisco Tadeu Moreira, CEO do MeAuDote e membro da Comissão de Proteção dos Direitos dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de São Bernardo do Campo (SP).
“Há alguns anos, eu ajudo como voluntário na causa animal, auxiliando principalmente as ONGs (Organizações Não-Governamentais). Fiquei frustrado por um tempo, pois o trabalho é algo necessário, mas sem fim. É como ‘enxugar gelo’’, porque levamos rações, medicamentos, roupas e, após algum tempo, está faltando tudo novamente”, lamenta o executivo.
Diante dessa realidade, ele começou a pensar em outras soluções, “algo que pudesse resolver, de fato, esse problema (do abandono) e dar uma vida digna ao animal, não apenas com ração e medicamento, mas com uma família que lhe desse amor, carinho e amparo”.
Adoção responsável
“Cheguei à conclusão que a solução definitiva seria a adoção responsável porque, a partir dela, os animais obtêm o que necessitam e as ONGs deixam de precisar de suprimentos, pois os pets foram doados. Foi aí que surgiu a ideia do MeAuDote.”
O app gratuito pode ser utilizado por ONGs, abrigos, centros de zoonoses, pessoas com animais em casas temporárias, “enfim, qualquer um com vontade de ajudar os animais a encontrarem um lar”.
Pelo aplicativo, as pessoas que quiserem doar ou adotar um pet não precisam mais buscar referências nas redes sociais. “Elas podem obter o app, de graça, e escolher aquele animal que mais se encaixa no perfil da família”, diz o CEO.
Como funciona na prática
Qualquer pessoa pode fazer o download gratuitamente do MeuAuDote, preenchendo um cadastro, que servirá para manter os dados do doador e do adotante, garantindo, assim, a segurança do animal.
“Após a escolha, o interessado entra em contato com o doador e combina como será concretizada a doação. Damos liberdade entre as partes, porque algumas ONGs aceitam doar, normalmente, e outras exigem entrevistas e mais informações do interessado em adotar”, comenta Moreira.
Concretizada a adoção, o doador retira o anúncio do aplicativo, informando o e-mail da pessoa que adotou. “Por fim, essa adoção é somada ao nosso ‘Adotômetro’, um contador que fica dentro do aplicativo, contabilizando as adoções.”
Mais ferramenta
Conforme o CEO, também há uma ferramenta, do app MeAuDote, em que a pessoa opta por um filtro, de forma a aparecer apenas os anúncios de pets que se enquadrem no perfil que o adotante deseja, como, por exemplo, apenas cães, gatos, pássaros, roedores etc.
“Ainda pode limitar o porte do animal, idade, distancia via geolocalização (GPS), raça (caso queira um bichinho de raça especifica) e sexo. Além disso, as pessoas poderão ficar informadas a respeito de eventos de doação de animais e se voluntariar para ajudar os animais em sua região, por meio do app”, informa Moreira que, no momento, não conta com nenhum patrocínio. Todos os custos da startup MeAuDote saem do bolso dele.
Triste estatística
Para o executivo, o número alarmante de 30 milhões de animais abandonados no Brasil se deve a uma série de fatores:
- Ignorância: alguns indivíduos acreditam que animais SRD (Sem Raça Definida) – ou popularmente conhecidos como vira-latas –, são inferiores aos de raça;
- Status: muitas pessoas querem animais não por amor, mas por status, “para poder postar fotos e vídeos em redes sociais com um animal de raça que esteja na novela, filme ou que algum famoso tenha igual, enfim, futilidades diversas que não deveriam ser a verdadeira intenção na hora de acolher um pet”, critica o CEO do MeAuDote.
- Falta de informação: muitas pessoas adquirem um bichinho sem pesquisar nada antes. “Animal é um ser vivo e dá trabalho como um filho pequeno. Precisa ser alimentado, receber cuidados médicos veterinários etc. Além disso, trazem despesas como alimentação, medicamentos, higiene entre outros”, diz Moreira.
Saúde e meio ambiente
Fora o lado afetivo do abandono, animais perambulando pelas ruas podem trazer problemas de saúde aos humanos, provocar acidentes e poluir o meio ambiente.
“O impacto é imenso e difícil de mensurar. Os animais podem transmitir diversas doenças pelas fezes, salivas etc. Podem causar acidentes de trânsito, pois muitos não nasceram na rua, mas foram abandonados por seus tutores. Em relação ao meio ambiente, isso causa grande desequilíbrio, considerando que muitos animais são abandonados perto de zoológicos ou no meio das florestas”, relata Moreira.
Para sobreviver, esses bichinhos começam a caçar outros animais e são alvos de predadores maiores. “Isso gera um desequilíbrio no ecossistema local, podendo extinguir alguma espécie daquele lugar ou gerar uma superpopulação de predadores, dos animais abandonados, devido à fartura de alimento. Mas claro que tudo isso depende da quantidade de animais em um determinada região”, comenta o CEO do MeAuDote.
Políticas públicas
Na visão do executivo, faltam politicas públicas consistentes e efetivas no Brasil. “Nossas políticas públicas são precárias, fora que não são todas as cidades que possuem um CCZ (Centro de Controle a Zoonoses). Os recursos, que deveriam ser investidos nessas áreas, não são eficientes e as leis são brandas em torno dos crimes de abandono e de maus-tratos, o que leva à impunidade e, consequentemente, ao ‘encorajamento’ dessas condutas criminosas”.
Moreira ainda menciona mais entraves latentes, considerando “a falta de vontade política, corrupção com desvio de verbas, que deveriam ser destinadas à causa, à falta de conscientização da população como um todo para o assunto, entre outros”.
“Muito poderia ser feito, começando por campanhas públicas de conscientização da adoção responsável, castração, abandono, maus-tratos etc. Uma legislação completa e específica para o tema poderia ser feita, implantando punições severas que levem, de fato, ao encarceramento de criminosos.”
Ele também sugere que deveria existir mais fiscalização e delegacias especializadas nesse tipo de delito, além de hospitais veterinários públicos espalhados pelo País, “para cuidar dessa população imensa de animais abandonados, com campanhas de vacinação e castração”.
Bom exemplo
Conforme o CEO, um bom exemplo vem da cidade de Campinas (SP), onde foi criado o Samu Animal, que atende aos pets abandonados em situação de alto risco.
“Esse programa conta com uma ambulância equipada para o transporte de bichinhos feridos por atropelamento, maus-tratos ou que estejam gravemente debilitados por doenças”, relata Moreira.
Serviço
Para mais informações sobre o app MeAuDote, acesse o Facebook (www.facebook.com/MeAuDote), Instagram (www. instagram.com/meaudote/?hl=pt-br) e Twitter (https://twitter.com/MeAuDote)