Empresas apostam que o hidrogênio verde pode mudar essa realidade de dependência nacional das importações (Foto: Wolfgang Ehrecke/Pixabay)
O Brasil é o quarto maior consumidor global de fertilizantes, indispensáveis para a produção de alimentos. Além disso o país importa mais de 95% de seus fertilizantes nitrogenados e a importância do agro brasileiro na produção global de alimentos só tende a aumentar
Para isso, empresas apostam que o hidrogênio verde pode mudar essa realidade de dependência nacional das importações. O hidrogênio (H2) combinado ao nitrogênio (N) formam a amônia (NH3).
O hidrogênio verde ou renovável, em geral, é produzido por meio da eletrólise da água, com uso energia elétrica de fontes renováveis, ou por meio da reforma de gás da biomassa, e vem sendo apontado como instituto dos combustíveis fósseis, na luta pela redução das emissões de carbono.
Na fabricação dos fertilizantes nitrogenados, ele pode substituir o uso do gás natural. Estima-se que a indústria mundial de fertilizantes nitrogenados, que utiliza basicamente gás natural, emite mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente por ano.
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A Atlas Agro, por exemplo, empresa de fertilizantes com sede na Suíça, está construindo fábricas de fertilizantes nitrogenados verdes em escala industrial nos Estados Unidos e na América Latina, que utilizarão hidrogênio verde em seu processo de produção.
Uma das unidades será em Uberaba, Minas Gerais, onde a empresa planeja produzir 500 mil toneladas por ano de fertilizantes nitrogenados com hidrogênio verde a partir de 2027. O investimento total é estimado em aproximadamente US$1 bilhão.
O modelo de negócios aposta na produção de fertilizantes verdes competitivos aos convencionais, substituindo assim produtos importados que possuem uma pegada de carbono significativa tanto da produção quanto do transporte.
“A nossa empresa é 100 % verde. Esse é o grande motivo da gente existir hoje. A rota que definimos é de eletrólise e utilizando hidrogênio verde, porque o gás natural, hoje, é um dos grandes emissores de carbono para a atmosfera”, disse o diretor de operação da Atlas, Rodrigo Santana, em entrevista à epbr.
Já no Paraná, a Companhia Paranaense de Energia vai investir mais de R$3 milhões na construção de uma planta-piloto para a produção de hidrogênio de baixo carbono oriundo de biomassa – resíduos orgânicos, dejetos, bagaço de cana, entre outros.
O hidrogênio servirá como insumo para também fabricar amônia e ureia usados em fertilizantes.
O projeto conta com recursos do Programa de P & D Aneel e parceria da Associação dos Pesquisadores da Região Norte do Brasil (Apreno). Ao longo dos próximos dois anos, o foco do trabalho será desenvolver tecnologia que promova a sustentabilidade do mercado do hidrogênio no Paraná. O lugar ideal para instalação da planta combinada para produção de hidrogênio, amônia e ureia está em estudo.
“Este é um modelo de negócios interessante, pois poderá aproximar diferentes ciclos: o aproveitamento da biomassa gerada em uma propriedade para produzir hidrogênio e a aplicação deste na fabricação de fertilizantes que servem como insumo ao agronegócio, tudo acontecendo na mesma localidade”, destaca o gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Copel GT, Leandro Foltran.
Produção descentralizada
A estratégia de viabilizar a produção descentralizada de fertilizantes nitrogenados vai ao encontro da necessidade de reduzir a dependência brasileira de insumos importados apontada por especialistas.
O gerente desse projeto de pesquisa na Copel, Fabio Sevscuec, destaca mais um diferencial dessa iniciativa.
“Nosso objetivo é desenvolver equipamentos compactos e modulares que possam ser usados em pequenas e médias propriedades, permitindo essa produção distribuída do hidrogênio, amônia e ureia”, diz.