Apenas 19,9% dentre os mais de cinco milhões de estabelecimentos agropecuários do País receberam algum tipo de assistência técnica rural, segundo Censo Agropecuário do IBGE
Se por um lado o agronegócio é um dos responsáveis por um desempenho mais satisfatório da economia brasileira, por outro, esse setor deixa a desejar, principalmente, quando se trata de assistência técnica a homens e mulheres do campo.
De acordo com o Censo Agropecuário de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). apenas 19,9% dentre os mais de cinco milhões de estabelecimentos agropecuários do País receberam algum tipo de assistência técnica rural. Ainda aponta uma profunda discrepância entre as regiões: no Nordeste, por exemplo, apenas 7,4% dos produtores receberam algum tipo de apoio nessa área, enquanto o Sul chegou a 48,6%.
Pesquisador da Unidade Meio Ambiente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o engenheiro agrônomo Alfredo Jose Barreto Luiz analisa os números, alertando que esses dados são bem preocupantes, levando em conta que um dos fatores de sucesso no campo passa, necessariamente, pelo nível de conhecimento técnico de trabalhadores e trabalhadoras rurais.
Mestre em Estatística e Métodos Quantitativos, doutor e pós-doutor em Sensoriamento Remoto, o cientista destaca outros números: entre as unidades da Federação, aquelas com melhor percentual de atendimento foram o Distrito Federal (82,5%), que fica no Centro-Oeste; seguidas por Santa Catarina (55,2%), Rio Grande do Sul (51,8%), Paraná (46%) – os três Estados do Sul do País; e São Paulo (42,1%), localizado no Sudeste.
Cenário da pecuária
Quando avalia por área produtiva, a bovinocultura é o setor com a menor taxa de assistência técnica em todas as regiões brasileiras (25,2%).
“São Paulo tem o oitavo maior rebanho do País e o quadro surpreende”, diz o pesquisador, “pois apesar de concentrar grande parte da agroindústria nacional e abrigar importantes universidades e centros de pesquisa agropecuária, menos da metade dos produtores paulistas recebe assistência técnica e, entre eles, a maior parte diz seguir orientação própria”.
Segundo números do IBGE, a taxa de assistência técnica na pecuária também é bem desigual, conforme a região: 9,9% no Nordeste e 50,9% no Sul.
Agricultura
Luiz relata que, para buscar uma agricultura de baixo carbono (Plano ABC), iniciou-se em 2018 o projeto Práticas Estratégicas para Mitigar as Emissões de Gases de Efeito Estufa nos Sistemas de Pastagens do Sudeste brasileiro.
Essa pesquisa foi desenvolvida em conjunto pela Embrapa, Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Zootecnia da USP, IBGE e Universidade da Califórnia (EUA), com o apoio a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).
“Um dos objetivos foi estudar os fatores críticos para a transferência de tecnologia para auxiliar a tomada de decisões na cadeia produtiva da pecuária bovina”, lembra o engenheiro agrônomo, acrescentando que, “para além dos objetivos específicos do Plano ABC, devemos ter em vista o aprimoramento em produtividade e qualidade da pecuária brasileira”.
Ele ainda salienta que, “para tanto, é necessário que as informações sobre as modernas tecnologias disponibilizadas pela pesquisa cheguem à linha de frente, aos produtores rurais”.
“Isso só será possível se houverem canais eficientes de comunicação para que as orientações técnicas necessárias alcancem os usuários finais.”
Aprendizagem rural
Coordenador técnico da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), vinculado ao Sistema CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Eduardo Gomes de Oliveira diz que o crescimento do agronegócio está vinculado a diversos fatores.
“Alguns são atribuídos diretamente a questões produtivas, como melhoria de tecnologias – biotecnologia nas sementes, máquinas mais eficientes, novos insumos, adoção de novas tecnologias – e outros a fatores externos – clima, taxa de câmbio, mercado globalizado, entre outros –, que podem ter seus efeitos minimizados na utilização de métodos e análises temporais, modelos matemáticos e de tendências”, informa Oliveira, em entrevista à revista A Lavoura.
Segundo o coordenador, a assistência técnica em campo, que corresponde a 19,9% dos estabelecimentos (segundo o Censo Agropecuário 2017) e que receberam algum tipo de apoio nessa área, “trabalha-se sob a ótica de melhorias contínuas, que visam à melhoria da relação entre o ‘ótimo produtivo’ e o ‘ótimo econômico’, para que a sustentabilidade, em seu conceito mais amplo, esteja atendida”.
Para Oliveira, no que tange às diferenças entre formatos de assistência técnica, “o Senar vem atuando, em todo o território nacional, para a ampliação da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), customizada conforme as diversas realidades e níveis tecnológicos, nas mais variadas atividades produtivas”.
Isso vem oportunizando o acesso ao serviço de Assistência Técnica e Gerencial continuada e de qualidade, aos produtores rurais, até então desassistidos. “Já somamos mais de 100 mil propriedades impactadas pela ATeG do Senar em todo o Brasil, em 19 atividades produtivas, com resultados expressivos no aumento da renda dos produtores, ganhos de produtividade e melhorias no gerenciamento das propriedades”, informa o coordenador.
A análise completa dos dados sobre assistência técnica, feita pelo pesquisador da Embrapa Alfredo Luiz, foi divulgada na revista Agroanalysis (páginas 26 e 27), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para ter acesso gratuito, clique aqui.