Participação de mulheres e idosos com mais de 65 anos na direção dos estabelecimentos agropecuários cresceu, respectivamente, em 19% e 21% entre os anos de 2006 e 2017. Mas foi o acesso à internet no campo que mais chamou a atenção pelo salto de 1.790%, passando de 75 mil para mais de 1,4 milhão de propriedades rurais conectadas
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem disponibilizando, desde o dia 19 de dezembro, um conjunto de 52 pranchas na Plataforma Geográfica Interativa, que integra o caderno temático “Geografias da Agropecuária Brasileira – Uma Visão Territorial dos Resultados Preliminares do Censo Agropecuário 2017”.
Cada prancha traz mapas sobre temas pesquisados nos Censos de 2006 e 2017, acompanhados por gráficos e textos explicativos. O produto é voltado para estudantes, pesquisadores, gestores públicos e terceiro setor.
O caderno temático faz parte da atualização anual do Atlas Nacional Digital do Brasil 2018 e pode ser acessado www.ibge.gov.br/apps/atlas_nacional. Também traz um conjunto de 151 mapas e 135 gráficos elaborados a partir dos dados preliminares do Censo Agropecuário 2017, que foram divulgados em julho de 2018 e disponibilizados pelo link http://ow.ly/65dj30n6HJi.
Os mapas incluem a localização de todos os estabelecimentos agropecuários, bem como a distribuição geográfica dos principais produtos agrícolas: soja, milho, cana-de-açúcar, café, arroz, feijão e mandioca. Esse material também está na Plataforma Geográfica Interativa do IBGE, que permite acrescentar e manipular camadas de informações como, por exemplo, a malha das rodovias e ferrovias.
Ainda é possível recortar os dados do Censo Agro 2017 para regiões específicas, como a Amazônia Legal ou o Semiárido. Confira apresentação em Power Point em http://ow.ly/ZUVY30n6K41.
Comparações com 2006
De acordo com o IBGE, esses mapas comparam as informações dos censos agropecuários de 2006 e 2017, mostrando fenômenos como o avanço da fronteira agrícola na Região Norte, o aumento no número de estabelecimentos que utilizam agrotóxicos e a ampliação do acesso à internet, por exemplo.
Os mapas ainda trazem a distribuição geográfica dos estabelecimentos agropecuários conforme sua faixa de tamanho, além da escolaridade, a idade, e a cor/raça do (a) produtor(a).
A análise geográfica dos dados preliminares do Censo Agropecuário 2017 aponta que, em relação à distribuição dos estabelecimentos agropecuários, dois casos ilustram tendências quase simétricas: Ceará e Rio Grande do Sul. No primeiro caso, houve retração da área ocupada por estabelecimentos agropecuários.
Em 2006, 53% do território do Estado eram ocupados por estabelecimentos, enquanto, em 2017, esse valor caiu para 46,3%. Curiosamente, o número de estabelecimentos aumentou: em 2017, eram 13.300 estabelecimentos a mais do que em 2006. Isso indica uma significativa desconcentração do território utilizado, ou seja, mais produtores agropecuários usando uma área menor.
Agrotóxicos
O Rio Grande do Sul, por sua vez, teve a experiência inversa. Houve um ligeiro aumento na porção do território estadual apropriado por estabelecimentos agropecuários: de 76,0%, em 2006, para 77,0%, em 2017. Ainda assim, o número de estabelecimentos decaiu de modo muito significativo. Eram 76.420 estabelecimentos a menos, em 2017, queda de 17,3%.”
Com exceção do Distrito Federal, houve aumento no número de estabelecimentos agropecuários usuários de agrotóxicos em todas as unidades da federação. Os maiores aumentos percentuais ocorreram em Espírito Santo (29,5%) e Mato Grosso (28,1%).
Embora a Região Centro-Oeste tenha uma intensa atividade agrícola, o maior percentual de estabelecimentos usuários de agrotóxicos continua nos Estados da Região Sul: 72,1% dos estabelecimentos de Santa Catarina, 71,2% dos estabelecimentos do Rio Grande do Sul e 63,8% dos estabelecimentos do Paraná usavam agrotóxicos.
Cultivos principais
Os dois principais cultivos do País continuam sendo a soja e o milho e os mapas retratam a evolução de ambos no território: na Região Norte ocorreu a maior expansão proporcional da área colhida de soja (339,1%), embora isso represente somente 8% da expansão da soja no Brasil, no período.
A maior expansão da área colhida de soja ocorreu no Centro-Oeste: de 7.730.388 para 14.148.202 hectares, um crescimento de 83%. Em 2017, a localidade era responsável por 46,4% da área colhida da soja em território nacional.
Mais de 70% do aumento total da área ocupada com sistemas agroflorestais no Brasil ocorreu no Semiárido: dos 5.614.188 hectares que o País ganhou, entre 2006 e 2017, 3.941.120 hectares estavam naquela região.
Faixa etária
Outra dimensão importante das transformações nos espaços agropecuários brasileiros é a estrutura etária dos produtores. Os dados dos Censos mostram um envelhecimento dos produtores agropecuários brasileiros.
Em todos os Estados brasileiros, à exceção do Acre, as faixas de menor idade (menor que 25 anos, 25-35 e 35-45) viram sua participação no total de produtores cair. Enquanto isso, as faixas 45-55, 55-65 e 65 anos ou mais tiveram aumento de participação, sobretudo as últimas duas.
O maior aumento, em pontos percentuais, ocorreu em Goiás, onde a faixa de 65 anos ou mais experimentou um aumento de 7,0%, entre 2006 e 2017.
Resumo do Censo
Em artigo de opinião veiculado no próprio site, o Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná) traça um resumo do Censo Agropecuário 2017, com base no levantamento do IBGE:
* Áreas das propriedades: Um dos pontos relevantes diz respeito à proporção de estabelecimentos em terras próprias, que cresceu em relação ao censo anterior (de 76% para 82%, atualmente) e a participação desses estabelecimentos na área total cultivada, que diminuiu de 90,5% para 85,4%.
* Pessoas nas propriedades: Sobre pessoas ocupadas, segundo o censo de 2017, o número é de 15,04 milhões. Na comparação com o censo de 2006, houve uma redução de 1,5 milhão de pessoas, bem como a média de pessoas ocupadas, que caiu de 3,2 para três pessoas por estabelecimento.
* Tratores e defensivos agrícolas: O contraponto foi o aumento do número de tratores, que cresceu 49,7% no período, chegando a 1,22 milhão de unidades. O uso de defensivos agrícolas também cresceu 20% em comparação ao censo anterior: 1,68 milhão de produtores utilizam agrotóxicos, o que representa 33,1% do total.
* Irrigação: A tecnologia via ampliação de irrigação deu um salto de 52% sobre o censo anterior, com 502 mil estabelecimentos e cobrindo uma área de 6,9 milhões de hectares.
* Internet: A internet nos estabelecimentos agropecuários cresceu 1.790%, passando de 75 mil para 1.425 mil estabelecimentos, mas ainda representando somente 28% do total.
* Participação de mulheres e idosos: A participação de mulheres e idosos com mais de 65 anos na direção dos estabelecimentos agropecuários cresceu, respectivamente, em 19% e 21% no período. No censo de 2006, as mulheres representavam 13% dos produtores e os idosos 17,5%.
* Estudos do pessoal do campo: O grau de instrução revela que 79% dos produtores têm instrução até o nível fundamental e cerca de 6% tem terceiro grau ou mais estudos.
* Cor ou raça do pessoal do campo: Levantamento realizado pela primeira vez no censo de 2017 foi com relação a cor ou raça dos produtores, em que 52% são pretos ou pardos e 45% são brancos, distribuição semelhante à da população brasileira.