Problemas climáticos e ambientais, no Brasil e no mundo, somados à posição retraída de vendedores no mercado interno, diminuíram a oferta do grão impulsionando o valor da cotação nos últimos dois meses. Segundo a Abitrigo, período de turbulência se estenderá, no mínimo, até meados de setembro
Seca na Austrália, perdas na produção na Rússia, problemas logísticos na França, clima desfavorável para a nova safra nos Estados Unidos e Europa, em especial na região do Mar Negro. Soma-se isso tudo a uma maior demanda por parte dos países da Ásia e menor oferta dos produtores brasileiros, e o resultado é a forte alta nos preços de trigo no Brasil e em nível mundial.
A Argentina, principal fornecedora de trigo para o Brasil, foi a mais favorecida pelo aumento da demanda na exportação. A vantagem se deve pela competitividade do país no mercado internacional e pela rápida comercialização interna desta safra por parte do produtor local. Para se ter uma ideia, das 18,5 milhões de toneladas colhidas recentemente na última safra, 75% já foram comercializadas, restando um volume disponível mínimo que poderá ir para exportação.
Segundo a Associação Brasileira Indústria Trigo (Abitrigo), “esse cenário gerou uma forte elevação nos preços do trigo argentino, da ordem de 26% nos últimos 60 dias, passando de US$ 190,00 por tonelada FOB para US$ 240,00”.
Mercado interno
O trigo nacional, por sua vez, vem acompanhando essa evolução dos preços internacionais, principalmente pela forte quebra de produção de 33% no Paraná, por problemas climáticos de seca e geadas.
Além disso, o último levantamento feito pelo Centro de Pesquisas Econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea), aponta que as cotações domésticas do trigo em grão estão em alta, impulsionadas pela posição retraída de vendedores.
“Apesar de a demanda não estar tão aquecida – muitos moinhos apontam ter estoque para, em média, dois meses –, produtores observam que a oferta interna de trigo de qualidade – PH 78 ou superior – é baixa e o dólar em patamar elevado segue encarecendo as importações”, diz o Cepea.
Nos últimos meses, o real apresentou grande desvalorização frente à moeda americana, que saltou de R$ 4,00 no início de novembro de 2019 para os atuais R$ 4,18 (+ 4,5%).
Os preços do trigo no Paraná avançaram de R$ 850,00 por tonelada para R$ 1.000,00 (+18%), e no Rio Grande do Sul passaram de R$ 700,00 por tonelada para R$ 900,00 (+28%) em algumas semanas. Pressão também de oferta em grandes mercados como São Paulo e Minas Gerais, que já tiveram toda a sua safra nacional comercializada.
A Abitrigo acredita que este período turbulento se estenderá, no mínimo, “até a entrada da próxima safra em meados de setembro, se tudo correr bem”.
Preço da farinha
O cenário é de forte pressão de custos para os moinhos de trigo do Brasil, fato que inevitavelmente gera um expressivo reajuste de preços das farinhas.
“Quanto aos derivados, moinhos começam a repassar os custos do trigo, fator que elevou as cotações das farinhas na semana passada. A demanda, na maior parte dos casos, segue estável, mas a moagem reduzida limita a oferta e, consequentemente, sustenta os preços. Quanto ao farelo, os valores do milho em alta atraíram compradores para o derivado do trigo, fator que impulsionou os preços”, afirma o Cepea.