Somente em Belém, as cadeias produtivas da floresta podem ser incrementadas em até R$ 170 bilhões até 2040 (Foto: Fabiola Sinimbú/Agência Brasil)
A bioeconomia, modelo de produção sem perda da biodiversidade, é uma das principais apostas de desenvolvimento na transição para uma economia de baixo carbono, necessária ao enfrentamento das mudanças climáticas. Na Amazônia, os resultados positivos dessa forma sustentável de negócio atraem, cada vez mais, investimentos de governos e da iniciativa privada.
O Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês) estima um potencial global de US$ 7,7 trilhões em oportunidades de negócio até 2030, conforme aponta o relatório Uma Oportunidade de Negócio que Contribui para um Mundo Sustentável.
Na capital do Pará, cidade que sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em novembro, o estudo Bioeconomia da Sociobiodiversidade estimou, em 2021, que as cadeias produtivas da floresta podem ser incrementadas em até R$ 170 bilhões até 2040.
Centro de inovação e bioeconomia

Dona Nena produz chocolate e outros derivados do cacau de forma artesanal na Ilha do Combu. Foto: Fabiola Sinimbú/Agência Brasil
Em Belém, uma das principais iniciativas de preparação para a COP30 é a criação do Distrito de Inovação e Bioeconomia de Belém (DIBB).
Com investimento de R$ 20 milhões, a revitalização de um casarão tombado reunirá 20 novas iniciativas de desenvolvimento em bioeconomia. A obra é fruto de parceria entre os governos federal e municipal, a Itaipu Binacional e a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, vinculada à Universidade Federal do Pará (UFPA).
O espaço será um centro de divulgação do modelo econômico sustentável e de apoio aos negócios locais — como o da empresária Izete Costa, conhecida como dona Nena, moradora da Ilha do Combu.
Filha de agricultores da comunidade Igarapé de Piriquitaquara, dona Nena cresceu vendendo cacau nativo nas margens do Rio Guamá, mas viu a produção diminuir com o passar dos anos, devido às mudanças climáticas e à expansão de outras culturas.
“Nós costumávamos descer de lá com três, quatro canoas cheias de frutos de cacau. Hoje, meus irmãos não descem nem com uma”, lamenta.
Para valorizar o fruto e manter viva a tradição, ela passou a produzir chocolate artesanalmente, com matéria-prima cultivada em seu quintal e nos de vizinhos. Hoje, sua fábrica beneficia 16 famílias da região, que vivem do manejo sustentável da floresta.
Além de conservar o bioma, o modelo de produção gerou acesso à água potável, por meio da captação de chuva, melhorou o saneamento e atraiu o turismo, fortalecendo a economia local sem a necessidade de intermediários.
“O povo precisa manter a floresta de pé? Precisa. Mas precisa de água tratada, de saneamento básico, de um montão de coisas, assistência à saúde, que faz com que ele se fixe aqui. Porque muitas vezes sai daqui, vem outra pessoa que vem desmatar. Porque ele não tem as condições adequadas para se manter aqui”, diz.
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Fábrica de chocolate de dona Nena beneficia 16 famílias. Foto: Fabiola Sinimbú/Agência Brasil
A solução, segundo a secretária adjunta de Bioeconomia do Pará, Camille Bemerguy, é investir mais em assistência técnica e fomento à produção local. Para isso, o governo lançou o PlanBio Pará, estratégia de longo prazo para valorizar o patrimônio genético e fortalecer as cadeias produtivas com base na ciência e inovação.
“É um plano de Estado, não é um plano de governo, para garantir a continuidade. A bioeconomia está ancorada dentro desse plano, o que dá um novo ambiente para isso, dá uma segurança jurídica para aqueles que querem investir aqui”, explica Camille.
Segundo ela, embora a bioeconomia seja praticada há muito tempo por comunidades tradicionais, foi necessário rever o modelo extrativista que prevalecia até então, além de buscar formas de escalar a produção e aumentar a visibilidade dos produtos.
Outro braço do PlanBio é o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, em construção às margens da Baía do Guajará, dentro do projeto Porto Futuro 2.
Com investimentos de R$ 300 milhões, o espaço abrigará o Observatório da Bioeconomia, o Centro de Cultura Alimentar, o Centro de Sociobioeconomia e um polo de turismo de base comunitária. Os efeitos dos investimentos já são visíveis.
“Você tinha cerca de 70 startups, e a maioria morria no meio do caminho, porque não tinha condições de avançar, sobrava uma no final, como um produto viável e de acesso ao mercado. Hoje, a gente já tem cerca de 300. Com o Parque de Bioeconomia e Inovação do estado, a gente quer ainda atrair mais 200 startups”, ressalta a secretária adjunta de Bioeconomia.
Com o setor mais estruturado, o governo do Pará espera que a bioeconomia represente 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual até 2030.
“Você precisa destravar certos elementos para que esse desenvolvimento efetivamente possa não ser, de novo, mais um ciclo, para que ele seja transformador. Então, [vamos] melhorar toda essa parte de infraestrutura, de conectividade, de tornar menos invisíveis esses atores que estão aqui e que tanto contribuíram para esse desenvolvimento”, conclui a secretária.