A pandemia do coronavírus (Covid-19) e a guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita no mercado de Petróleo viraram de ponta-cabeça o cenário otimista apontado para a safra 2020/2021 do setor sucroenergético brasileiro
Segundo relatório divulgado nesta segunda-feira (23), pelo economista Haroldo José Torres da Silva, do Pecege – associação que gerencia os MBAs da USP/Esalq -, estima-se uma redução da produção de etanol para 25 bilhões de litros (-24% em relação aos níveis da safra 2019/2020, ocasião em que a produção total foi de cerca 33 bilhões de litros).
“Essa redução será mais drástica na produção de etanol hidratado, enquanto que o etanol anidro acompanhará o volume de vendas da gasolina”, afirma o relatório.
“É inevitável que a redução do preço do petróleo tenha efeito negativo sobre os preços domésticos do etanol: os preços mais baixos da gasolina levarão a um aumento de seu consumo em detrimento do etanol. Aliás, o etanol hidratado vem perdendo competitividade em relação à gasolina nas bombas nas últimas semanas”.
No mercado brasileiro, em 2020, o coronavírus e o conflito entre a Rússia e a Arábia Saudita deve implicar uma perda de receita de R$ 0,2252/litro de hidratado comparativamente a 2019.
Mais açúcar
Para compensar a queda nos preços do petróleo, Haroldo acredita que o setor se apoiará em uma maior produção de açúcar para a nova safra que se inicia em abril de 2020. Porém, ainda assim, as notícias não são das melhores.
“O açúcar desfrutou de uma recuperação de preços até meados de fevereiro, com o déficit global dando suporte as cotações”, afirma o economista. “Não obstante, com a disseminação do Covid-19, o preço do açúcar sofreu uma forte baixa em NY em março/2020. Há um correlação significativa e negativa (-0,67) entre os preços do açúcar e o avanço de casos da Covid-19”.
A queda recente dos preços do açúcar são derivadas, principalmente, da redução do consumo de açúcar, por conta das restrições de movimentação das pessoas- em quarentena.
“A safra 2020/2021 será mais açucareira comparativamente à safra 2019/2020, num momento que haverá uma contração no consumo desta commodity, em consequência da desaceleração econômica global trazida pelo coronavírus. Ademais, há um risco potencial ligado aos embarques e escoamento do açúcar, caso portos e terminais sejam fechados como medidas para contenção do virus”, avalia o Haroldo da Silva no relatório.
Respostas do setor
Diante do atual cenário, o presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CEISE Br), Luis Carlos Júnior Jorge, tem trabalhado para chamar a atenção de autoridades governamentais, nas esferas municipal, estadual e federal, a fim de que medidas urgentes sejam tomadas visando mitigar os impactos nas usinas.
Na semana passada, o presidente encaminhou ofício às prefeituras das cidades onde estão instaladas as empresas associadas à entidade solicitando que posterguem o recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), pelo período mínimo de 90 dias e que, após o prazo, parcelem o acumulado em 24 vezes, bem como para que adiem a cobrança/execução fiscal de dívidas ativas, também por 90 dias.
O presidente ressalta que ações como essa são extremamente necessárias, uma vez que a indústria começou, recentemente, a dar sinais de melhora depois de anos assolada pelas crises econômica e setorial que dissiparam milhares de empregos.
“Quando vagas na indústria são fechadas, outros setores também são atingidos, como o comércio e de serviços. Este é um momento de unir forças para que as empresas resistam à inevitável redução da atividade econômica brasileira e não percam sua competitividade, pois, se as dificuldades para produzir, ocasionadas pela falta de matéria-prima somada à baixa demanda, resultarem em falências, uma nova recessão será instalada sem termos como imaginar o seu tamanho ou fim”, explica Luis Carlos Júnior.