Parceria entre os países avança em inovação, segurança alimentar e troca de tecnologias no campo (Imagem: ApexBrasil)
Durante o Fórum Econômico Brasil–Índia, evento paralelo à Cúpula dos Brics realizado na última segunda-feira (7) no Rio de Janeiro, líderes do setor agropecuário dos dois países destacaram o potencial da cooperação bilateral em áreas estratégicas como suco de laranja, pulses, leite e fertilizantes de alta tecnologia.
O CEO da CitrusBR, Ibiapaba Netto, ressaltou que há um caminho promissor para o fortalecimento da relação comercial entre os dois países no setor de bebidas.
“A relação do Brasil e Índia em termos da indústria do suco de laranja, ela é uma dessas relações que tem de tudo para se desenvolver muito e muito mais nos próximos anos”, afirmou.
Ele lembrou que o Brasil detém 75% do mercado global de suco de laranja, enquanto a Índia é o maior produtor de manga, produto análogo no mercado internacional.
“Existem ainda questões tarifárias a serem superadas para que a gente possa chegar com o produto no preço correto para o consumidor”, disse.
Gado de leite

Roberta Bertin, produtora de leite na Fazenda Floresta Brasil. Foto: Reprodução Facebook/Fazenda Florestas
No setor de leite, a CEO da Fazenda Floresta, Roberta Bertin, relatou avanços no intercâmbio de genética bovina.
A raça zebuína, que fundamentou a pecuária brasileira, está retornando à Índia através do aumento das exportações de material genético.
O projeto Brazilian Cattle, gerido pela ApexBrasil em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), visa expandir mercados para a genética bovina brasileira. Em 2023, as exportações de sêmen e embriões bovinos totalizaram US$ 6,11 milhões, um aumento de cerca de 30% em relação ao ano anterior.
Os embriões tiveram um crescimento percentual ainda maior, saltando de US$ 818,9 mil para US$ 1,41 milhão, um aumento de 73,3%. A Índia se tornou o principal importador, superando outros países da América Latina.
“A Índia é a maior produtora de leite do mundo. E o Brasil está participando nesse mercado. Estamos montando um laboratório de produção in vitro de embriões bovinos”.
A Fazenda Floresta, que se destaca no melhoramento do gado leiteiro, está enviando embriões para a Índia, com um lote de 200 embriões previsto para maio e mais 800 em 2026.
A parceria prevê ainda a criação de um centro de capacitação para produtores indianos.
“Nesse projeto vamos ensinar a parte de manejo e qualidade do leite, que é um dos desafios mundiais”, explicou. Roberta defendeu também a ampliação das exportações de genética bovina.
“Hoje estamos exportando somente gir leiteiros, e não girolando, que é a raça oficial de produção de leite no Brasil.”
A produtora também destacou o papel do Brasil como referência na produção de leite em clima tropical.
“Produzimos 35 bilhões de litros, empregamos mais de 4 milhões de pessoas. É uma produção sustentável e que gera muito emprego”.
O merado de pulses

Feijão mungo produzido no Brasil atende à demanda indiana. Foto Ibrafe
O mercado de pulses — leguminosas como lentilhas, grão-de-bico e feijão — também ganhou destaque. A diretora de Relações Institucionais do Instituto Brasileiro do Feijão e dos Pulses (Ibrafe), Najla Souza, destacou o avanço da participação brasileira no mercado indiano, puxado pela introdução do feijão mungo preto no portfólio nacional.
“A culpa desse crescimento [de 191% nas exportações de pulses] é desse feijão específico, que a Índia até o momento só tinha um fornecedo. E a competitividade brasileira levou à queda dos preços desse feijão da Índia, o que significa também melhor preços para o consumidor indiano. O Brasil não só produz um feijão, mas também coopera com a segurança alimentar”.
Najla destacou a importância dos feijões no comércio Brasil e Índia, em 2024, representando o sétimo item na pauta de exportação. E a tendência, segundo ela, é que essa posição cresça na medida em que se aumente o diálogo entre os países.
Fertilizantes
Outro elo importante entre os países é o setor de fertilizantes. Com o Brasil importando mais de 95% dos insumos que utiliza, há uma janela de oportunidade para tecnologias inovadoras vindas da Índia. Ritesh Sharma, diretor executivo da Nanofert, enfatizou o papel da inovação no campo.
“A verdadeira parceria entre o Brasil e a Índia é o compartilhamento da tecnologia. E é isso que a Cooperativa de Fertilizantes de Agricultores Indianos Limitada, também conhecida como IFFCO, está fazendo no Brasil. Estamos criando um plano, não estamos comercializando, estamos trazendo a tecnologia, e estamos adaptando a tecnologia para a necessidade brasileira.”
Segundo Sharma, a Índia desenvolveu nanofertilizantes com eficiência superior aos produtos tradicionais, e agora está implantando um centro de pesquisa e certificação em Curitiba, em parceria com o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar).
“Quando falamos de segurança alimentar, o Brasil e a Índia são responsáveis por alimentar 2,5 bilhões de pessoas. 30% da população mundial depende do Brasil e da Índia”, lembra.
Redação A Lavoura