
Uvas para a produção dos vinhos Château de Beaucastel: os “galets” (pedras arredondadas no solo), retém o calor do dia e aquecem as videiras durante a noite – Foto: Cristina Baran
A família Perrin produz vinhos desde 1909, na região da Provence, e hoje é uma das maiores produtoras da França
Em recente viagem à França, tivemos a oportunidade de conhecer as propriedades vinícolas da tradicional família Perrin, gente simples, elegante e muito acolhedora.
A família Perrin dedica-se à produção de vinhos desde 1909, na região da Provence, sendo atualmente uma das maiores produtoras de vinho da França.
François Perrin dirige o grupo de empresas da família com extrema dedicação e eficiência, adotando modernas técnicas de gestão – desde o manejo das videiras, colheita das uvas e produção dos vinhos até sua comercialização, incluindo toda a complicada logística envolvida no processo e o marketing dos produtos. O ambiente é bastante informal, mas tudo funciona perfeitamente. Aqui vale nosso ditado: “o olho do dono é que engorda o gado”. Atento a tudo que se passa em suas propriedades, caves e instalações industriais, é visível seu amor pela terra, videiras e pela produção do vinho.
O reconhecimento desse trabalho apaixonado vem, dentre outros resultados relevantes, por meio da avaliação dos críticos especializados. Recentemente, um dos vinhos – Château de Beaucastel, branco, velhas vinhas – obteve a nota máxima – 100 – do renomado crítico norte-americano Robert Parker, uma das maiores autoridades mundiais em vinhos, cuja crítica favorável pode lançar o preço de um vinho às alturas. É a primeira vez que um vinho branco da região de Châteauneuf-du-Pape recebe 100 pontos.

Propriedade da família Perrin, na Provence, França, onde são produzidos e armazenados os vinhos Château de Beaucastel (detalhe abaixo)
“Assemblage”

Fotos: Cristina Baran
Um dos principais segredos de um bom vinho é o “assemblage”, ou seja, o percentual de cada tipo de uva em sua composição final. Esse “assemblage” é sempre diferente em cada safra, tendo em vista que anualmente as características das uvas são diferentes conforme o clima e época da colheita, que interferem no resultado final após sua maturação e fermentação. É François Perrin quem define a data de início da colheita e dá a palavra final no “assemblage” de cada um dos vinhos produzidos pelas vinícolas da família.
Linha de produtos
Há uma extensa linha de produtos, desde o especialíssimo Châteauneuf-du-Pape – Château de Beaucastel – até vinhos mais simples, como os La Vieille Ferme ou Côtes du Rhone, de boa qualidade, honestos e adequados para os segmentos de mercado aos quais se propõem atender.
Há também os excelentes vinhos Gigondas, produzidos a partir de uvas grenache, cultivadas em solos muito arenosos; o Vinsobres, um dos melhores Crus do sul do Vale do Rhone, cujo vinhedo está localizado ao norte de Châteauneuf-du-Pape, a uma altitude de cerca de 300 m e clima bastante adequado para a uva syrah; e o Vacqueyras, produzido em solos argilosos pesados com cascalho de Ouvèze, onde uma combinação das uvas grenache com syrah produz um vinho aromático e de muito boa reputação na França.
A linha de produtos inclui vinhos tintos, brancos, roses e até um doce. Também há vinhos orgânicos – como é o caso do Château de Beaucastel e Côtes du Rhone Rouge Nature. Desde 1962, os vinhedos de Château de Beaucastel produzem vinhos orgânicos.
Há vinhos produzidos a partir de vinhas antigas, algumas com 90 anos. Em determinados anos, dependendo da característica da safra, são produzidos alguns vinhos especiais, como é o caso do “Hommage à Jacques Perrin”, que também já recebeu a pontuação máxima do crítico Robert Parker.
A produção total das propriedades da família Perrin é de 10 milhões de garrafas por ano, sendo 500 mil garrafas do Châteauneuf-du-Pape.

Obedecendo o método tradicional de produção, …

… a colheita do Château de Beaucastel é manual – Fotos: Cristina Baran
Primum Familae Vini (Grandes Famílias do Vinho)
A vinícola Perrin e Fils faz parte de uma associação exclusiva que reúne 12 empresas pertencentes a famílias tradicionais produtoras de vinhos, com o objetivo de manter a tradição e transmitir às gerações futuras a paixão que eles têm com a produção do vinho. A associação realiza reuniões periódicas com as famílias associadas e também promove programas de cooperação mútua, sobretudo na divulgação de seus produtos, visando ganhar maior competitividade no mercado internacional.
Atualmente, os membros da Primum Familae Vini são as vinícolas: Champagne Pol Roger, Joseph Drouin (Borgonha), Hugel & Fils (Alsácia), Perrin & Fils (Rhone), Château Mouton Rothschild (Bordeaux), todos da França; Torres e Vega Sicilia (Espanha); Tenuta San Guido e Antinori, ambos da Toscana, Itália; Egon Müller Scharzhof, da Alemanha; e Grupo Symington, de Portugal.

Produção do vinho Château de Beaucastel: maturação, envelhecimento e guarda…

… em barris de carvalho – Foto: PERRIN ET FILS
Galets
No Château de Beaucastel, o método de produção é tradicional: colheita manual e sistemas artesanais de prensagem, maturação, envelhecimento, engarrafamento e guarda em barris de carvalho.
O terreno em Beaucastel – entre as cidades de Avignon e Orange – é marcado pela presença de um grande número de pedras arredondadas, conhecido como “galets” Estes “galets” retêm o calor do dia e aquecem as videiras durante a noite. O clima tem um papel importante: baixa precipitação, o vento Mistral, seco e forte, que chega a atingir 100 km/hora. Todos estes componentes – inclusive as diferenças entre altas e baixas temperaturas – se combinam e se complementam para dar às vinhas de Beaucastel excepcionais qualidades e originalidade reconhecidas mundialmente.
A propriedade cobre um total de 130 hectares, dos quais apenas 100 hectares são plantados com vinhas: 75% são dedicados à produção do Châteauneuf-du-Pape – Chateau de Beaucastel, e 25% para produção do Côtes-du-Rhone denominado Coudoulet de Beaucastel. Os restantes 30 hectares, são utilizados na rotação de culturas para preparar novos plantios de vinha, porque, a cada ano, um ou dois hectares de vinhas velhas são desativadas e uma área equivalente é replantada em terreno onde não houve produção durante, pelo menos, dez anos. Desde 1962 o cultivo dos vinhedos de Beaucastel é orgânico.

Engarrafamento do vinho rosé “La Vieille Ferme” (detalhe abaixo), da Perrin et Fils – Foto: Cristina Baran

Foto: PERRIN ET FILS
Château de Beaucastel tinto
O vinho é resultado de 13 variedades de uvas. As videiras têm em média 50 anos e o rendimento é de, no máximo, 30 hectolitros por hectare. Essa é uma vinha saudável e vibrante, devido a anos de cultivo orgânico. Na produção do vinho tinto Château de Beaucastel, são utilizados 30% de mourvedre, 30% de grenache, 10% de syrah, e 5% de muscardin, vaccarese e cinsault cada. O restante é composto de pequenas quantidades de sete outras variedades permitidas em Châteauneuf-du-Pape, que proporcionam uma complexidade graciosa que fazem o Château de Beaucastel ser um vinho extraordinário.
O período de colheita é fundamental, porque as uvas são colhidas e vinificadas separadamente, permitindo-lhes expressar suas próprias personalidades no produto final.
A colheita e a classificação são manuais. As peles das uvas são aquecidas rapidamente para 80°C e, em seguida, resfriado a 20°C antes de levar os cachos para cubas de maceração onde ficam durante 12 dias. O suco é, então, drenado.
A partir do método de aquecimento flash, Beaucastel Rouge segue uma vinificação mais ou menos clássica. A maioria das variedades são fermentadas separadamente. O vinho jovem, em seguida, amadurece em barricas de carvalho por cerca de 12 meses. As castas das uvas – vinificadas separadamente – são misturadas após a fermentação e uma série de degustações. O vinho resultante é então amadurecido por um ano em grandes barricas de carvalho e depois engarrafado. Finalmente, o vinho é maturado em garrafas e guardado nas caves Beaucastel por mais um ano antes de ser colocado à venda.

François Perrin na cave em Beaucastel, onde estão guardadas garrafas de vinho de diversas safras. O vinho branco Château de Beaucastel, foi recentemente premiado com a nota máxima – Foto: Cristina Baran
Château de Beaucastel branco
Os vinhos brancos do Château de Beaucastel estão entre os melhores vinhos brancos da França. Produzidos a partir de uvas cultivadas em clima quente, sendo 80% roussanne, 15% grenache blanc e 5% de outras vinhas. As vinhas datam entre 10 e 40 anos. Há uma pequena quantidade do “Vieilles Vignes” cuvée, produzido inteiramente a partir de vinhas roussanne, com cerca de 100 anos de idade.
A vinha que produz o Château de Beaucastel Blanc possui apenas sete hectares para uma produção de 6.000 garrafas por ano. A extraordinária qualidade e reduzida produção tornam esse vinho uma raridade no mercado.
As uvas são colhidas à mão e levadas para a adega em pequenos cestos. A classificação também é manual, para separar as uvas verdes ou danificadas. Trinta por cento do vinho é fermentado em barris e o restante em temperatura controlada, em cubas de aço inoxidável. Uma vez que a fermentação é concluída, a metade do vinho novo amadurece em pequenos barris de carvalho e metade em cubas por cerca de oito meses. O Vieilles Vignes cuvée é mantido em carvalho por um período mais longo.
Antonio Alvarenga – Presidente da Sociedade Nacional de Agricultura – SNA

Vinhos produzidos na Provence, França, pela Perrin et Fils – Foto: Cristina Baran
Os vinhos franceses
A França é referência mundial na produção de vinhos. É lá que se produz os mais famosos vinhos do mundo e a maior variedade de vinhos de alta qualidade.
A vinicultura existe na França há mais de 2.000 anos. A partir de 1905, o governo começou a controlar e regulamentar a produção do vinho no país. Em 1935 foi criado o Institut National des Appellations d’Origine (INAO), que fiscaliza toda a produção de vinhos na França.
Cada região produtora tem sua própria regulamentação e classificações diversas. As principais regiões produtoras são Bordeaux, Borgonha, Champagne, Alsácia, Rhone e Loire.
São cerca de 110 mil vinhedos espalhados pelo país, com os “terroirs” mais diversos, nas mãos de cerca de 69 mil produtores/negociantes e cooperativas. Só em Bordeaux, são mais de 7.000 châteaus e cerca de 13.000 vinhedos.
A legislação é rigorosa no controle da produção dos vinhos, sendo os vinhos classificados conforme sua qualidade:
“Vin de Table”, ou vinho de mesa
São vinhos básicos, simples e mais baratos. É o vinho produzido pelas comunidades onde, mais ou menos, se faz o que quer. Representam cerca de 17% do vinho produzido na França e é, quase que totalmente, consumido localmente. A região de origem não é mencionada no rótulo.
“Vin de Pays” ou vinho regional
São vinhos regionais em que as regras de produção são menos rígidas do que nas AOC, especialmente no que se refere às cepas de uvas que podem ser usadas. Existe uma maior liberdade e é aqui que os produtores deixam fluir sua criatividade e experimentação na busca de novos vinhos. Apesar de existir muito vinho de baixa qualidade, pode-se encontrar bons produtos com esta denominação. Correspondem a cerca de 30% da produção total.
VDQS, vinho delimitado de qualidade superior
Na teoria, um degrau antes de um vinho ou região alcançar o nível AOC, ficando situado entre esta classificação e o “Vin de Pays”. Corresponde a aproximadamente 2% do total da produção.
“Vin d’Appellation d’Origine Contrôlée” – AOC (Vinho de Denominação de Origem Controlada)
Nesta categoria estão os grandes vinhos franceses. As normas de produção são estabelecidas pelo Institut National des Appellations d’Origine (INAO). A AOC possui regras rígidas de controle e fiscalização, determinando desde as uvas que podem, ou não, ser produzidas na região, procedimentos de controle do vinhedo, uvas que podem ser usadas na elaboração dos vinhos, porcentuais dos cortes, teores de álcool, etc. Daqui saem a grande maioria dos grandes vinhos da França. São mais de 450 diferentes AOC espalhadas por todas as regiões produtoras, respondendo por cerca de 50% da produção nacional. A denominação é estampada no rótulo e pode ser usada sozinha, ou em conjunto com o nome da região.
O mercado mundial de vinhos
A França rivaliza com a Itália como maior produtor e com a Espanha em termos de área plantada. Sua produção anual alcança cerca de 5.8 bilhões de garrafas. O consumo per capita está hoje ao redor de 60 litros anuais, uma significativa redução em relação aos 150 litros da década de 1950.
Enquanto o consumo na França vem se reduzindo, na China está em franca expansão.
Superfície de Vinhedos
- Espanha – 1.113.000 ha (hectare)
- França – 840.000 ha
- Itália – 818.000 ha
- China – 470.000 ha
Produção Mundial de Vinhos
- Itália – 47.700.000 hl (um hectolitro = 100 litros)
- França – 45.600.000 hl
- Espanha – 35.200.000 hl
Consumo Mundial de Vinhos
- França – 29.900.000 hl
- Estados Unidos – 27.300.000 hl
- Itália – 24.500.000 hl
- Alemanha – 20.300.000 hl
- China – 14.000.000 hl
Exportação Mundial de Vinhos
- Itália – 18.600.000 hl
- Espanha – 14.400.000 hl
- França – 12.500.000 hl
- Austrália – 7.700.000 hl
Châteauneuf-du-Pape produz vinhos de fama mundial

Châteauneuf-du-Pape, uma das regiões de terra mais caras da França…
Numa pequena região, no coração da região sul do Rhone, fica a área de produção de Châteauneuf-du-Pape, entre as cidades de Avignon e Orange. Situada no topo de uma colina, possui 3.000 hectares de vinhedos. Nesta área o solo é coberto de pequenas pedras que absorvem calor durante o dia e aquecem as raízes das videiras de noite, os chamados “galets”. Uma das regiões de terras mais caras na França, em Châteauneuf-du-Pape o hectare custa em média o equivalente a R$ 1 milhão e as propriedades medem em torno de 5 hectares.
A estória desses vinhedos tem as suas raízes num dos capítulos mais curiosos da História da França, que é a chegada dos papas à Avignon durante a Idade-Média. Nesta cidade, seis papas se sucederam ao longo de um período de setenta anos.
Denominação
Em 1929, a denominação de origem, Châteauneuf-du-Pape, foi sacramentada.
A denominação permite a utilização de 13 tipos de uvas diferentes para constituir esse vinho. Contudo, nos “assemblages”, a proporção de uva grenache noir costuma ser de 80%, sendo complementada em geral pela syrah e a mourvèdre. As outras variedades são usadas como tempero: cinzault, muscardin, vaccarèse, terret noir, picpoul noir, counoise.
Vale mencionar também as castas brancas que produzem vinhos, cuja qualidade vem aumentando a cada ano, e cuja uva dominante é a grenache blanc, seguida pela clairette, a bourboulenc, a picardan e a roussanne.

… e as vinhas com as quais são produzidos os vinhos com alto valor no mercado – Fotos: Cristina Baran
Fama mundial
De fama mundial, conhecido pelas suas garrafas amplas e bojudas, que trazem o selo das armas dos papas estampado no vidro, o Châteauneuf-du-Pape possui grande força e volume, graças à uva grenache que proporciona a sua consistência característica de um vinho de guarda. Assim, os seus melhores vinhos podem esperar de 10 a 12 anos até serem consumidos, alguns dos quais podem ser guardados por até 25 anos.
A sua cor mais característica é um rubi escuro com reflexos granada. Os seus aromas, por tradição, são extremamente sedutores. Entre eles, predominam toques pronunciados de frutas vermelhas maduras, de especiarias e de ervas aromáticas, sempre de grande intensidade.
No paladar, há equilíbrio entre acidez e álcool, sendo que o seu corpo aveludado e volumoso tem um final longo e frutado, com um amargor leve e amadeirado.
Para os tintos: mourvedre, grenache, syrah, cinsault, counoise, muscardin, vaccarese.
Para os brancos: grenache blanc, bourboulenc, clairette, roussanne, picpoul, picardan.