Brasil corre sério risco de chegar ao próximo ano com problemas de abastecimento, afetando diretamente a agricultura. Para evitar este cenário, é preciso buscar soluções sustentáveis.
Que a água é essencial, todos sabem, mas só valorizamos esse líquido poderoso quando sentimos na pele a falta que ele nos faz. A pouca incidência de chuvas nos últimos meses e o intenso calor em alguns municípios brasileiros, têm piorado cada vez mais a situação dos reservatórios de água. E, mesmo sendo dono do maior potencial hídrico do mundo, o Brasil corre grandes riscos de chegar ao próximo ano com problemas de abastecimento. Segundo levantamento realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA), o governo deverá investir R$ 22 bilhões para evitar a escassez no futuro.
A demanda de água no Brasil é direcionada, basicamente, para quatro finalidades: agricultura, produção de energia, usos industriais e consumo humano. Porém, a agricultura é a atividade que faz uso intensivo desse recurso natural, o que corresponde a 70%.
De acordo com o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos — documento principal da ONU Água — as estimativas de consumo mundial de água para a agricultura são de 19% até 2050, o que poderia crescer ainda mais, caso não ocorra uma melhoria no rendimento dos cultivos e a eficiência da produção agrícola. Além disso, a maior parte desse aumento de uso da água para irrigação ocorrerá em regiões já afetadas pela escassez de recursos hídricos. A gestão com responsabilidade da água para fins agrícolas contribuirá fortemente para a segurança desses recursos do planeta.
Busca de soluções
Diante desse cenário e no que diz respeito à melhoria da qualidade de vida mundial, além de, consequentemente, economia de água, algumas tecnologias estão sendo aplicadas na busca de soluções sustentáveis. Um bom exemplo é a área da agricultura, cuja finalidade da inserção de equipamentos tecnológicos é possibilitar que o agricultor realize irrigações no campo, reduzindo energia e, ao mesmo tempo, potencializando a produção sem perder qualidade na colheita.
A tecnologia empregada no campo é, sem dúvida, um caminho sem volta não só para economizar água, mas também para monitorar o clima, diminuir o uso de agrotóxicos e prevenir contra doenças e pragas, que a cada ano, a cada safra, trazem para os agricultores prejuízos incalculáveis.
Isso significa que as culturas que vão sofrer menos serão aquelas que utilizarem tecnologia avançada, rompendo com paradigmas de hábitos e costumes passados de geração em geração. A percepção do “novo empresário rural” terá que ser alinhada ao que há de melhor em termos de tecnologia que possa ser agregada ao dia a dia do campo.
Enfim, a real eminência da escassez de água será, sem trocadilhos, um divisor de águas não só para o setor agrícola, mas para toda a sociedade e cadeia de produção dos mais variados segmentos. E a tecnologia certamente se apresenta como uma das principais aliadas na busca de soluções efetivas.
Marcos Balbi – Engenheiro agrônomo, especialista em Gestão Estratégica em Serviço pela FGV e consultor na Olearys S/A
Oferta de água garantida
O Plano Nacional de Segurança Hídrica-PNSH busca propor obras e ações para garantir a oferta de água para o abastecimento e para atividades produtivas. Plano também busca reduzir riscos causados por cheias e secas em áreas mais vulneráveis a estes fenômenos
O Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH) busca definir as principais intervenções estruturantes do Brasil na área de recursos hídricos, como: barragens, sistemas adutores, canais e eixos de integração. Estas obras devem ter caráter estratégico e relevância regional para garantir a oferta de água para abastecimento humano e uso em atividades produtivas. As ações também devem contribuir para redução dos riscos associados a eventos críticos (cheias e secas) nas áreas mais vulneráveis.
O escopo do estudo e o contexto do PNSH, que é fruto da parceria entre a ANA, o Ministério da Integração Nacional e o Banco Mundial, no âmbito do Programa de Desenvolvimento do Setor Água (INTERÁGUAS) foi apresentado pela Agência Nacional de Águas (ANA), no final de agosto, em Brasília.
Horizontes
O Plano Nacional de Segurança Hídrica tem dois horizontes de trabalho. O primeiro, até 2020, é para identificação das demandas efetivas do setor de recursos hídricos, o que inclui um estudo integrado dos problemas de oferta de água e de controle de cheias em áreas vulneráveis, além da análise de estudos, planos, projetos e obras. O PNSH considera 2035 como prazo para o alcance das intervenções propostas pelo estudo, que objetiva a integração das políticas públicas do setor de recursos hídricos.
Uma das diretrizes do Plano é que as obras tenham natureza estruturante com abrangência interestadual ou relevância regional e que garantam resultados duradouros em termos de segurança hídrica. As intervenções também deverão ter sustentabilidade hídrica e operacional. O estudo analisará os usos setoriais da água sob a ótica dos conflitos pelo recurso — existentes e potenciais — e dos impactos na utilização da água em termos de quantidade e qualidade.
Segurança hídrica
A segurança hídrica considera a garantia da oferta de água para o abastecimento humano e para as atividades produtivas em situações de seca, estiagem ou desequilíbrio entre a oferta e a demanda do recurso. Além disso, o conceito abrange as medidas relacionadas ao enfrentamento de cheias e da gestão necessária para a redução dos riscos associados a eventos críticos (secas e cheias).
INTERÁGUAS
O Plano Nacional de Segurança Hídrica é uma das ações do Programa de Desenvolvimento do Setor Água (INTERÁGUAS), que é uma iniciativa do Brasil para aperfeiçoar a articulação e a coordenação de ações no setor de recursos hídricos. O INTERÁGUAS também busca criar um ambiente em que os setores envolvidos com a utilização da água possam se articular e planejar suas ações de maneira racional e integrada, o que pode contribuir para o fortalecimento da capacidade de planejamento e gestão do setor, especialmente nas regiões menos desenvolvidas do Brasil.