Embalagens de frutas, desenvolvidas pelo INT (Instituto Nacional de Tecnologia), podem reduzir perdas em até 80% e ainda aumentar a vida útil dos produtos.
Você sabia que, em média, 80% dos caquis colhidos são perdidos, assim como 35% de todas as mangas, morangos e papayas produzidos? Esse prejuízo é causado, principalmente, por conta de embalagens inadequadas. Pensando nisso, o Instituto Nacional de Tecnologia-INT elegeu cinco produtos com alto grau de perda pós-colheita: caqui, manga, mamão papaya, morango e palmito de pupunha, e iniciou um projeto de desenvolvimento de embalagens especiais para reverter esse cenário.
Luiz Carlos Motta, um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, fala sobre os resultados: “Em relação às embalagens que desenvolvemos, no caso dos caquis, conseguimos reduzir as perdas em 80%, morangos, 50%. Além disso, foi possível aumentar a vida útil dos frutos e do palmito para 15 dias”. Com embalagens convencionais, a média de vida gira em torno de 7 a 10 dias. “Com as mangas e papayas, reduzimos as perdas em mais de 30%”, explica Motta. As avaliações foram realizadas pelo CTAA – Centro de Tecnologia de Alimentos, da Embrapa.
O problema das embalagens
Cada fruta e hortaliça possui necessidades específicas de respiração, liberação de etileno, refrigeração e ventilação, e, todas elas, têm suas peculiares em texturas e singulares características de delicadeza e de resistência a impactos ou contatos. O pesquisador afirma que as atuais embalagens não levam em consideração as especificidades de cada produto.
“Verificamos que as embalagens atualmente utilizadas possuem sérios problemas de acondicionamento, porque são genéricas”, diz Motta. “Dentro de uma mesma caixa de papelão ou de plástico, podem ser acondicionados quaisquer produtos, desde que caibam. Além disso, é comum no Brasil o acondicionamento em camada dupla, em que o produto de cima pressiona o que está embaixo”. Daí, resultam os amassados e as perdas frequentes de frutas e hortaliças, ainda mais considerando que o transporte, normalmente, envolve longas distâncias e em estradas com péssimo estado de conservação.
Diferenciais do projeto
Levando em consideração todos esses aspectos, o projeto desenvolveu embalagens anatômicas, respeitando as características únicas de cada fruta e hortaliça. “O design das embalagens foi realmente adequado a cada produto. Além disso, todos os modelos de embalagem desenvolvidos são empilháveis, sem causar danos aos produtos e permitindo refrigeração cruzada, ou seja, todos os frutos acondicionados recebem a mesma quantidade de frio”, explica Motta. “Outro diferencial é que estas novas embalagens possibilitam a visão total dos produtos armazenados”, acrescenta.
Para cada produto, uma embalagem
Luiz Motta mostra que os cinco modelos de embalagens para morangos são confeccionados em PET, que pode ser virgem ou reciclado, respeitando-se os princípios da sustentabilidade. “Como são empilháveis, podem ser dispensadas as caixas de papelão que atualmente acondicionam as embalagens para morangos”, diz.
Já o modelo da embalagem para palmito de pupunha é feito de uma base cartonada e uma fina lâmina plástica feita em PET, que funciona como um invólucro. Como os componentes são facilmente separáveis, isto facilita bastante o processo de seleção pós-descarte, facilitando a reciclagem, sendo também uma solução sustentável.
Os modelos das embalagens para caquis, mangas e papayas são compostos por dois elementos, uma base, que pode ser confeccionada com qualquer material compósito, e uma bandeja, que pode ser feita em PET ou PS (Poliestireno).
A bandeja é específica para cada variedade e calibre de frutos, e varia sua forma de acordo com os formatos dos frutos a serem acondicionados. Esta bandeja pode ir para o ponto de venda e é reciclável. A base é articulada, dobrável, ocupa muito pouco espaço, e pode ser retornável. “Como pode ser feita com qualquer material compósito, pode ter como carga resíduos de fibras naturais ou resíduos de rochas minerais, fato que auxilia na redução do seu custo de fabricação”, afirma o pesquisador do INT.
Grande escala
Luiz Motta explica que, como as bases de mesmas dimensões são comuns a todos os produtos (o que varia para cada produto são as bandejas), elas podem ser fabricadas em grande escala. Estes aspectos tornam estas embalagens bem acessíveis sob o ponto de vista de preço. “Todas estas características são diferenciais nas embalagens que desenvolvemos”.
Durante o processo de desenvolvimento destas embalagens, diversas indústrias foram contratadas para a sua produção. “Como estas indústrias participaram do processo, já possuem o “know how” e estão aptas para produzir em grande escala estas embalagens. Mas, outras indústrias que se interessarem, também podem produzi-las, já que o processo de fabricação está consolidado e disponível”, acredita o pesquisador.
Maior agilidade
Motta conta ainda que as novas embalagens também promoveram maior rapidez no transporte e logística. “Quando levamos um lote experimental das embalagens de mangas para a região do Jaíba (norte de Minas Gerais), um dos produtores resolveu embalar diretamente no momento da colheita e ficou satisfeitíssimo, porque reduziu, muito, o tempo entre a colheita e o transporte final”. Segundo ele, o produtor, com as novas embalagens, não precisaria mais colher as mangas verdes, porque as embalagens protegiam bem os frutos.
“Um produtor de morangos nos disse que estava gastando a metade do tempo que costumava com transporte, porque podia empilhar as embalagens e transportá-las em contentores grandes, eliminando as caixas de papelão”, lembra Motta.
Fama
A fama das embalagens desenvolvidas pelo INT já atravessou o Oceano Atlântico, comenta o pesquisador: “fizemos uma entrega para a Holanda de mamão papaya e o comprador holandês elogiou muito as embalagens porque os frutos chegaram em perfeito estado e sem diferenças de maturação entre eles”.
O desenvolvimento do projeto
A primeira etapa do projeto consistiu em um levantamento completo de dados relacionados à colheita e pós-colheita dos produtos. “A equipe do INT, por vezes acompanhada da equipe do Centro de Tecnologia de Alimentos – CTAA, da Embrapa, visitou áreas de plantio, as packing-houses e os locais de distribuição e comercialização, como supermercados e CEASAS, com objetivo de entender muito bem todos os aspectos da cadeia”, conta Motta.
O próximo passo foi selecionar, para cada produto, os elementos mais representativos. “Para isso, em nossas visitas aos produtores, elegemos os frutos mais representativos de sua espécie e os submetemos a um processo de escaneamento”.
3D
A partir desse processo, foi possível conhecer exatamente os formatos, dimensões e texturas de cada variedade e, então, gerar arquivos em 3D. Segundo o pesquisador, “estes arquivos permitiram estudar virtualmente os mais diversos arranjos e distribuições dos produtos nas embalagens que íamos projetando”.
“Além disso, reproduzimos fisicamente cada um destes frutos escaneados utilizando tecnologia de prototipagem rápida”. O que trouxe uma grande vantagem, já que não precisariam mais dos frutos in natura, e não ficariam dependentes das safras e colheitas para desenvolvimento das embalagens.
Reconhecimento
Em 2013, o projeto recebeu o mais importante prêmio do design mundial (o iF, na categoria Packaging) e o mais importante prêmio brasileiro (o Brasil Design Award, na categoria embalagens para alimentos).
Luiz Motta revela que a Dinamarca, país reconhecido por seu design inovador, está interessada no desenvolvimento conjunto de embalagens para produtos que sejam produzidos lá e no Brasil, e que uma indústria de Portugal está interessada em fabricar as embalagens para morangos.
“Fomos convidados pela APEX (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e pela ABRE (Associação Brasileira de Embalagens) para participarmos do programa “Design Embala”, em um projeto de desenvolvimento de embalagens para cafés especiais, em parceria com a Universidade de Lavras e o CETEA-ITAL (Centro de Tecnologia de Alimentos do Instituto de Tecnologia de Alimentos de São Paulo). Infelizmente, ao contrário de outros países, no Brasil só temos financiamentos públicos para linhas de pesquisa de curto prazo e, com isto, perdem-se grandes oportunidades de continuidade de desenvolvimento de projetos que já tiveram êxito comprovado”, lamenta Motta.