Sistema de Alerta volta a monitorar pomares de pêssego no Sul do RS. Mais seis estações meteorológicas fazem parte do estudo da safra 2014-2015
Já se passaram quatro anos da realização contínua do Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas. São quase 1.500 dias monitorando pomares na região de Pelotas. Uma rotina que envolve a visitação, todas as segundas, terças e quartas-feiras da semana, independentemente da estação anual, pelos técnicos e bolsistas de pesquisa da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas/RS, às unidades de observação de propriedades rurais, no interior do município. Eles são responsáveis por fazer a coleta de dados das armadilhas instaladas nessas áreas rurais, cujos resultados serão usados para direcionar as adoções de manejo à cultura do pessegueiro pelo produtor. O pêssego é uma das culturas mais fortes na metade sul do Estado do Rio Grande do Sul, concentrando mais de 95% da produção nacional do pêssego destinado à conserva.
O Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas é uma ação que faz parte do projeto Estabelecimento do sistema de alerta da mosca-das-frutas sul-americana Anastrepha fraterculus e da podridão-parda Monilinia fructicola, na cultura do pessegueiro.
Desde o mês de setembro, foram retomados os encontros semanais na Embrapa Clima Temperado com o objetivo de realizar a análise das informações para se conhecer o levantamento do monitoramento e posterior discussão das estratégias a serem lançadas para uso e benefício dos produtores de pessegueiro, com a participação de representantes da indústria (Sindocopel), da pesquisa (Embrapa), extensão rural (Emater/RS) e ensino (UFPel), assim como, associações de produtores e produtores de pessegueiros interessados.
O Sistema de Alerta
É um programa de monitoramento da presença de mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) nos pomares de pessegueiros da região. Para seu funcionamento, são seguidos princípios básicos do manejo integrado de pragas. No caso da mosca-das-frutas, são utilizadas técnicas de manejo indicadas pela pesquisa como armadilhas, aplicação de iscas tóxicas ou aplicação de produtos recomendados por cobertura e medidas auxiliares de controle.
Técnicas de manejo para controle
Durante esses anos de funcionamento do Programa de Monitoramento, segundo o pesquisador Dori Edson Nava, uma das maiores dificuldades tem sido a adoção das técnicas de manejo para controle do inseto pelo produtor, ou seja, o uso de armadilhas, de iscas tóxicas e de aplicação por cobertura.
Armadilhas
É indicado o uso de armadilhas McPhail, iscadas com proteína hidrolisada, que é um atrativo alimentar. Ao serem atraídas, as moscas são presas nas armadilhas e semanalmente é realizada a avaliação por meio da contagem dos insetos capturados. Durante esta inspeção, também se procede a substituição da proteína.
Ao se contabilizar o número de insetos capturados nas armadilhas, o produtor tem duas opções para realizar o controle da mosca-das-frutas: com o emprego de isca tóxica, ou através da aplicação por cobertura. São colocadas cerca de duas armadilhas por hectare, embora este número possa variar em função da uniformidade e localização do pomar.
Aplicação de Isca Tóxica:
- Se o produtor capturar, durante o monitoramento feito pelas armadilhas, um número inferior a três moscas por armadilha, então, é realizada a aplicação da isca tóxica na borda do pomar e em 25% da área. A isca tóxica baseia-se na utilização de um atrativo alimentar, misturado com um inseticida.
É também aplicada em hospedeiros alternativos e, cerca de 40 dias antes da colheita, deve-se aplicar no interior do pomar. Para cada planta, são utilizadas de 100 a 150 ml de calda. Recomenda-se usar um volume de 50 a 70 litros de calda por hectare. A aplicação precisa ser semanal, feita com aplicador costal ou tratorizada. Se ocorrerem precipitações no período, a isca tóxica deve ser repetida após as chuvas.
Aplicação por cobertura:
- caso o produtor capture nas armadilhas um número superior a três moscas por armadilha, então, aconselha-se a aplicação por cobertura, que é a pulverização com inseticidas recomendados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em toda a área do pomar. Geralmente é feita de maneira tratorizada. Mas, ele deve continuar, ainda, posteriormente, com a aplicação de isca-tóxica.
Inseticidas recomendados
O Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas surgiu como uma alternativa para atender aos produtores de pessegueiro, após a retirada de vários produtos da grade de inseticidas liberados para uso nos pomares. Atualmente, para controle da praga, são utilizados os seguintes produtos: Deltametrina (Decis), Fosmete (Imidan) e Malationa (Malathion)
Instalação de Estações Meteorológicas
O Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas vinha, ao longo desses quatro anos, realizando o monitoramento em unidades de observação em duas localidades na Colônia de Pelotas e uma em Morro Redondo/RS.
A estratégia é utilizar o monitoramento também de dados climáticos para que, no futuro, seja possível haver um estudo da relação entre as condições climáticas e a ocorrência desse inseto.
O monitoramento pretende construir um modelo de previsão. Nas estações meteorológicas, é possível coletar dados climáticos como temperatura, umidade relativa do ar e do solo e pluviosidade; horas de molhamento foliar; direção e velocidade dos ventos. Estas estações meteorológicas funcionam via sinal de telefone, com dados coletados a cada 15 minutos e transmitidos, a cada hora para a Central de recebimento, que é o Laboratório de Agrometeorologia da Unidade de pesquisas.
Como vai funcionar em 2015
O Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas neste ano vai dar continuidade ao monitoramento das três propriedades que já possuem estações meteorológicas e deverá ampliar sua prática de controle em mais seis propriedades rurais, com a instalação das respectivas estações meteorológicas. Assim, haverá um total de nove estações oficiais do Sistema de Alerta. Este trabalho já vinha sendo feito, com observação e registro de dados, nos campos experimentais da Embrapa, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e em duas propriedades rurais de interesse. “Vamos seguir emitindo os boletins informativos e os torpedos, via SMS, e realizando visitas e assessoria direta aos produtores para que adotem as técnicas de manejo disponíveis para mosca-das-frutas. Estas técnicas são baseadas no Monitoramento e a aplicação de produtos recomendados (inseticidas), especialmente quanto ao uso de iscas tóxicas”, comentou Dori Nava.
População de moscas
O monitoramento possibilita que o produtor faça sua escolha de manejo. O pesquisador explica que o Sistema de Alerta é uma alternativa sustentável, “pois incentiva a minimização de uso de produtos químicos e, portanto, está vigilante em relação à segurança alimentar”.
O projeto tem acompanhado, nestes quatro anos, a evolução e os resultados do uso das técnicas de manejo e do comportamento da mosca. “Neste período de avaliação, por dois anos, a população permaneceu estável. Durante um ano, a população de insetos cresceu e sua infestação foi considerada alta. E a tendência para esta safra de 2014-2015, é que, caso permaneçam as altas temperaturas, a população de moscas tenderá a manter-se alta”, prevê Dori Nava.
A Comunicação com o produtor
O produtor de pessegueiros faz sua escolha de manejo, através da sua observação e cuidado com os pomares. Ele também pode acompanhar as orientações realizadas por técnicos, via instrumentos de comunicação, oferecidos pelo Sistema-de-Alerta. Entre esses instrumentos estão os boletins informativos, os torpedos (SMS) e programas de rádio semanais, além de material de divulgação em canais da imprensa regional.
Dados importantes:
A produção de pêssegos no Sul gaúcho é uma das culturas mais fortes daquela região, que apresenta as seguintes peculiaridades:
- cerca de 5 mil hectares na região dedicados à cultura do pessegueiro;
- mais de 1,1 mil pequenos produtores;
- 600 milhões de frutos produzidos.
Cristiane Betemps – Embrapa Clima Temperado
Nova Cultivar – BRS Mandinho, o pêssego chato
Com formato exótico e polpa mais doce, produto chega para competir no mercado estrangeiro com produtividade de 14 toneladas/ha e valor agregado
Uma nova cultivar de pêssego está chegando ao mercado, o BRS Mandinho. As pesquisas da Embrapa com a fruta platicarpa já têm 20 anos, metade dos quais foram dedicados especificamente à nova cultivar, lançada em novembro, conforme explica a pesquisadora Maria do Carmo Raseira, responsável pelo desenvolvimento da fruta.
Características
O fruto tem um formato diferenciado — é achatado — e possui apenas cinco centímetros de diâmetro, contra os cerca de sete das frutas importadas. Raseira explica que “a BRS Mandinho é mais doce que outras cultivares, possui acidez bem balanceada e a polpa firme”.
Além disso, sua produtividade é alta (14 toneladas/ha, em pomar adulto), e sua produção é adaptada à condições de baixa necessidade de frio. “O cultivo pode ocorrer em regiões com menos de 150 horas de frio no inverno, desde que não sejam locais com incidência de geada, devido à floração precoce dessa cultivar”, explica a pesquisadora.
Comercializa-se a muda já enxertada. Os viveiristas receberão os materiais, a partir de julho de 2015 e, depois de plantadas, é previsto que em dezembro já dêem frutos. Espera- se que o Mandinho só apareça no mercado, em larga escala, em 2017. A cultivar foi testada em algumas regiões dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.
Valor agregado
“Esse tipo de fruta está alcançando preços maiores no mercado”, conta Raseira. “O consumidor se interessou pelo sabor e pelo formato, mais fácil de manusear e de se comer. Isso apontou um nicho de mercado: as crianças. Todas elas gostaram, por conta dessas características”.
“É importante entender que esta não é uma variedade ampla de mercado, mas um produto voltado para um nicho específico. Sendo assim, a venda a granel não é indicada”, afirma a pesquisadora. Segundo ela, para agregar valor, o produtor deve ter cuidado com a embalagem, resultando em algo convidativo, que desperte a atenção do consumidor.