Os ganhos de produtividade da agricultura brasileira estão diretamente ligados à adoção de tecnologias. Por isso o IAC aproveita a interação com produtores para transferir informações sobre fatores que afetam a semeadura: sementes, solo, máquina, clima e operador
O bom produto agrícola é resultado de uma boa implantação de lavoura. Uma harmoniosa interação entre o solo, clima, insumos, tecnologias e práticas de manejo é resultado de vários fatores operacionais. Em meio à complexidade de um sistema operacional de produção, a semeadura é uma etapa determinante, que requer adequação para gerar reflexos na qualidade do produto final.
As falhas ou defeitos operacionais aparecem em lavouras onde não foi considerado o valor de cada etapa da implantação. Vários exemplos podem ser apontados de maneira objetiva, como é o caso da falta de lubrificação de componentes, que promove o travamento e gera falhas; a mistura de sementes com fertilizantes, que provoca uma distribuição incorreta e prejudica a germinação. Esses fatores afetam diretamente a eficiência das plantas e, consequentemente, a produtividade.
Problemas como esses podem ser evitados pelo acesso à informação gerada por trabalhos de pesquisa. O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, por meio do Centro de Engenharia e Automação (CEA), desenvolve ações de pesquisa e transferência de tecnologia em diversas áreas da mecanização agrícola. Com relação à semeadura, o CEA/IAC desenvolve uma linha de pesquisa voltada para estudos da qualidade operacional.
Segundo Afonso Peche Filho, pesquisador do IAC, Instituto da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, os estudos são focados em culturas de verão como soja, milho, algodão, feijão e girassol e de inverno, como trigo, aveia e outras plantas de cobertura. A tecnologia gerada se aplica a pequenas e grandes propriedades e pode beneficiar praticamente todas as regiões produtoras de grãos do Brasil.
Lavouras com falhas perdem a competitividade e, indiretamente, custam mais. Uma falha tem um custo equivalente a uma ou mais plantas produtivas, sendo que não rentabilizam. Estudos mostram que grande parte das lavouras brasileiras tem baixa eficiência operacional resultando em lavouras de risco, não competitivas, muito dependentes do mercado. Em um período de preços baixos, lavouras falhas levam muitos agricultores à falência.
Qualificação: caminho mais curto
A qualificação de operadores, mecânicos e gerentes agrícolas é o caminho mais curto para melhorar o desempenho das lavouras brasileiras. Afonso Peche afirma que o IAC tem uma metodologia própria para desenvolver a capacitação profissional em qualidade nas operações agrícolas. O método IAC é uma adaptação da tecnologia desenvolvida por Paulo Freire para alfabetização de adultos. É como promover a “alfabetização tecnológica”, afirma o pesquisador. “Tudo é muito prático: enfoca-se o relacionando da geração de falhas ou defeitos com a manutenção de componentes ou com a qualidade dos insumos utilizados na operação”, explica do pesquisador.
Ele ressalta que “nos dias atuais, cada vez mais, as máquinas dependem que o operador seja qualificado para utilizá-las e que conheça seus componentes e a tecnologia moderna”, afirma Peche.
Regulagem e operação da máquina
A regulagem da máquina é também um fator preponderante para uma semeadura de qualidade, pois envolve um conjunto considerável de componentes que vão se desgastando ao longo do trabalho. Outra orientação relevante é sobre o tempo da operação — a velocidade indicada para operar a maioria das semeadoras brasileiras está entre 5 e 6 km por hora, com um consumo de diesel por volta de dez litros/hora.
Geralmente, o agricultor se preocupa apenas com alguns dos fatores na implantação da cultura, como por exemplo, a quantidade de sementes por metro linear visando ao “estande” recomendado para a cultura. Porém, um estande ideal é aquele que possui a quantidade recomendada de plantas produtivas no final do ciclo da cultura. A qualidade da semente, que representa um dos três insumos fundamentais dessa operação, seguida por fertilizantes e a graxa devem receber atenção especial para garantir a qualidade da implantação de uma cultura. “Se a semente não tiver qualidade, não há operação de semeadura que resolva esse problema”, ressalta Afonso Peche. É muito importante também uma distribuição equidistante das sementes na linha, ou seja, uma boa relação entre os espaçamentos e o número correto de sementes, a chamada plantabilidade, que é o principal parâmetro para avaliar a qualidade. A boa plantabilidade é responsável pelo desenvolvimento uniforme e bom aproveitamento do potencial genético da semente.
“Os benefícios de operações realizadas corretamente são um incremento significativo no rendimento por planta e, consequentemente, um grande passo para alta rentabilidade”, esclarece o pesquisador. Assim, a correção dos erros durante as operações agrícolas são primordiais para elevar a produtividade. “Como a gestão destas operações é baseada em detalhes, essas não devem cair na rotina de serem executadas mecanicamente”, ensina.
Vários fatores influenciam o desempenho das plantas
Como já mencionado, são inúmeros os fatores de interação que influenciam o desempenho das plantas. A regulagem de profundidade das sementes depende da cultura, umidade e tipo de solo, além da época da semeadura. O adubo deve ser depositado ao lado e abaixo da semente para não “queimar” a plântula e prejudicar sua germinação. A máquina deve cobrir as sementes com o solo e expulsar o excesso de ar, moldando a linha plantio de acordo com a cultura, como por exemplo, as dicotiledôneas que não toleram excesso de água nessa etapa e necessitam que a roda compactadora forme um camaleão sobre a semente e conduza a água para a entrelinha. Assim, as operações podem ser aprimoradas no sentido de melhorar a implantação de lavouras.
Existem tecnologias simples e prontas para serem adotadas. É preciso aproximá-las dos usuários finais. O CEA/IAC disponibiliza um seminário de curta duração que pode ser realizado “in company” de acordo com a demanda.
Maiores informações IAC: (11) 4582-8155/4582-8467 – e-mail: ppontes@iac.sp.gov.br