Toda forma de treinamento, transporte e alojamento do animal deve respeitar as regras de seu bem-estar
Como em todo tipo de produção animal atual – gado de corte, gado de leite, caprinos e ovinos, aves, suínos e peixes, ou até mesmo animais silvestres – busca-se o bem-estar e a ambiência dos animais. Na equideocultura, que compreende a criação de equinos, asininos e muares, também procura-se adequar a criação dos animais às leis de bem-estar e aos princípios da ambiência.
Segundo a FEI (Federação Equestre Internacional), o bem-estar animal é de fundamental importância e não deve ser deixado de lado por qualquer lucro ou influências competitivas. Não se deve medir esforços para cumprir as leis de conduta da FEI, na qual todo animal deve ser tratado com a visão de que seu bem-estar precisa estar acima da vontade dos criadores e treinadores e além de qualquer motivo financeiro e/ou competitivo.
Regras
Toda forma de treinamento, transporte e alojamento do animal deve respeitar as regras do bem-estar. Infelizmente, nem sempre é possível adequar-se a essas regras, mas deve-se sempre tentar chegar o mais próximo possível disso. Todo manejo e treinamento necessitam atender ao bem-estar, assim como o transporte e a alimentação.
O treinamento deve considerar o equídeo como ser vivo e não é possível utilizar-se técnicas consideradas abusivas pela FEI. O transporte deve ser adequado ao animal, respeitando seu espaço e garantindo segurança, para evitar qualquer tipo de dano físico. O deslocamento deve ainda considerar provisões como água e forragem, a fim de evitar que o animal passe sede ou fome durante a viagem.
O tempo de descanso durante a viagem precisa ser respeitado, com paradas a cada duas horas, se a viagem for muito longa. Os animais em mantença, ou seja, os que já não competem ou não são usados na reprodução, mas apenas para cavalgadas esporádicas ou no caso de estarem sendo mantidos na propriedade por serem de grande estima, também deverão ser tratados segundo as regras da FEI, proporcionando-lhes conforto ao final de suas vidas.
Soluções
Grandes criadores de equídeos do mundo têm pesquisado soluções para a criação adequada de seus animais. No Brasil não é diferente, mesmo que ainda timidamente. Grandes haras nacionais estão investindo em climatização de ambientes, rações e água de altíssima qualidade, tudo para ter animais mais fortes, melhor adaptados e em condições de conforto nas regiões onde são criados, seja para finalidade de trabalho ou lazer.
É importante frisar, também, que tais cuidados deverão se estender aos esportes equestres, uma vez que esses animais podem chegar a valores muito elevados.
Medidas ambientais simples devem ser tomadas, sempre que possível, em prol da ambiência dos animais, tais como propiciar sombra nos piquetes de pastejo ou piquetes maternidade, evitando, assim, possíveis danos à saúde das éguas e potros. Caso não haja disponibilidade de sombra natural, recomenda-se providenciar estruturas de sombreamento artificial (tela sombrite) para os animais.
Além de sombra, deve-se proteger o local de arraçoamento; investir em cercas fortes e que protejam, principalmente, os potros curiosos; destinar às éguas recém-paridas um piquete exclusivo; e, aos garanhões, destinar piquetes amplos ou baias amplas e arejadas. Se os animais forem colocados em baias, permitir um confinamento adequado, com baias bem dimensionadas e com boa entrada de luz e ventilação, providas de cama sempre limpa e com alturas corretas de cochos de água e comida e, sempre que possível, incluir alguma distração (enriquecimento ambiental) dentro das baias para evitar vícios comportamentais, tais como a aerofagia (vício de engolir ar).
Bem-estar no confinamento
Com relação ao bem-estar de animais confinados, recomenda- se, ainda, destinar um período do dia, de preferência o de temperatura mais amena (manhã), para a execução de exercícios físicos, a fim de evitar problemas de estresse térmico e traumas. Atualmente, criadores de animais que competem em modalidades olímpicas estão se dedicando aos quesitos ambiência e bem-estar para que os animais tenham um ótimo desempenho nas provas disputadas.
No Brasil, a equideocultura avança rápido e, na mesma velocidade, vem ocorrendo a expansão dos estudos de ambiência e bem-estar animal voltados a esse importante setor. Assim, o NEAMBE (Núcleo de Estudos em Ambiência Agrícola e Bem-estar Animal), em parceria com o GEPEq/UFC (Grupo de Estudos em Produção de Equídeos da Universidade Federal do Ceará), começa os estudos na área do bem-estar e ambiência na equideocultura, com pesquisas realizadas sob condições reais de criação e competição.
Práticas regionais
No Nordeste, o setor equestre também vem apresentando crescimento, movido por práticas regionais tradicionais como a vaquejada, além da pecuária, atividade que ainda depende muito deste tipo de animal. Por se tratar de uma região com temperaturas elevadas praticamente o ano todo, o que certamente afeta o conforto e o bem-estar dos animais, torna-se necessário buscar soluções que sejam acessíveis aos criadores para que os animais possam estar bem e apresentarem o máximo do seu desempenho.