Substituição de insumo traz ganhos econômicos, sociais e ambientais na criação de frangos coloniais
A produção de ração no país cresceu de forma expressiva nos últimos 15 anos. Um crescimento médio em torno de 7,4%. A base da formulação da ração convencional tem como componente energético o milho. Em busca de aproveitar resíduos disponíveis nas propriedades rurais para garantir maior agregação de valor à agricultura familiar, a Embrapa Clima Temperado está indicando o uso da ração à base de farinha de batata-doce, especialmente, na criação de frangos coloniais.
Trocar o milho por batata-doce é a estratégia para diminuir custos para o produtor, ter maior renda de produção, simplificar a oferta de alimento às aves, facilitar o manejo e contribuir com a preservação do meio ambiente. “Estamos trabalhando com o sistema colonial de produção de frangos, abatidos após 85 dias, onde a ração das aves deve ser adaptada à idade do animal. Toda a ração deve fornecer energia (por exemplo, milho ou batata-doce), proteína (por exemplo, farelo de soja ou girassol ou farinha de folhas de mandioca), vitaminas, minerais e aminoácidos essenciais”, esclarece João Pedro Zabaleta, pesquisador responsável pelo projeto de pesquisa com aves coloniais.
A cultura da batata-doce
A lavoura de batata-doce é tradicional na agricultura familiar no Brasil e no Estado. Em tempo curto, produz-se grande quantidade da raiz. Possui manejo simples e é facilmente produzida na propriedade.
Uma das dificuldades na produção da batata-doce para o produtor está na necessidade de melhorar a qualidade de suas mudas. “Há uma baixa qualidade nas mudas; elas são atacadas por viroses, o que prejudica a sua produtividade”, chama a atenção João Pedro Zabaleta.
A ração
A ração à base de batata-doce para aves é viável pelo fato de que o produtor comercializa a parte nobre da batata-doce (as de tamanho médio e de melhor aspecto visual) para o consumo humano e os resíduos que ficam na lavoura transformam-se em farinha, que adicionada a uma formulação adequada (vitaminas, minerais, proteínas e aminoácidos) é oferecida às aves. “O resíduo é transformado em energia, ou seja, em carnes e ovos. Com custo muito baixo, está se aproveitando o que se tornaria lixo”, adverte o pesquisador João Pedro Zabaleta.
Essa farinha passa por um processo de trituração, secagem ao sol, moagem e embalagem (em sacos plásticos), que possuem uma durabilidade de até dois anos.
Nas lavouras de batata-doce da região estudada, região Central do Estado do RS, sobram em termos de resíduos cerca de 7 a 10 toneladas.
Benefícios econômicos, sociais e ambientais
Para o agricultor familiar que cultiva batata-doce o uso dos resíduos é mais conveniente que a aquisição de milho, ou mesmo do plantio do milho. A sua utilização permite que o produtor tenha maior renda e ainda diversifique a oferta de alimentos para os consumidores, através da produção de frangos coloniais.
Além disso, ganhos ambientais também são destacados como a diminuição da viagem dos insumos (o milho), menor aplicação de agroquímicos e aproveitamento do produto em toda sua potencialidade (resíduos da batata-doce). “O agricultor passa a ter também maior autonomia sobre sua produção”, conclui João Pedro Zabaleta.
Cristiane Betemps – Embrapa Clima Temperado
Novas cultivares de batata-doce chegam ao mercado
Variedades apresentam produtividade até quatro vezes superior à média brasileira e atendem diferentes demandas dos consumidores
A batata-doce é a sexta hortaliça mais plantada no País, principalmente por pequenos agricultores familiares das regiões Nordeste e Sul. Além de ser uma excelente fonte de energia e proteínas para essas famílias, ela tem grande importância na alimentação animal e na produção industrial de farinha, amido e doces. Considerada uma cultura rústica, pois apresenta grande resistência a pragas e cresce em solos pobres e degradados, a batata-doce pode ser plantada praticamente o ano todo nas regiões Norte e Nordeste.
Em 2011, a novidade ficou por conta de quatro novas cultivares lançadas ou introduzidas no Brasil pela Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As batatas-doces Beauregard, BRS Amélia, BRS Rubissol e BRS Cuia apresentam qualidades nutricionais e produtividade bem acima da média das cultivares disponíveis no mercado atualmente e são comercializadas pelos Escritórios de Negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia em Canoinhas (SC) e em Capão do Leão (RS).
Mais carotenoides
A batata Beauregard, por exemplo, apresenta 10 vezes mais carotenoides (pró-vitamina A), do que suas principais concorrentes e rendimentos que variam entre 23 e 29 toneladas por hectare. Como o custo de produção da cultivar também é baixo, a expectativa é que ela seja amplamente adotada por agricultores familiares, principalmente da região Nordeste.
O analista Werito Melo, da Embrapa Hortaliças, destaca que a coloração alaranjada da batata Beauregard se deve à elevada quantidade de betacaroteno, que se transforma em vitamina A no organismo.“Quando se fala em vitamina A, é importante ressaltar que ela tem um papel muito importante na saúde da população, especialmente de mulheres e crianças”, explica Werito. De acordo com ele, um dos objetivos do trabalho é beneficiar as crianças por meio do uso dessa batata até mesmo na alimentação escolar. A Beauregard foi introduzida no Brasil pela Embrapa por intermédio do Centro Internacional de La Papa (CIP), do Peru.
Produtividade
Já as cultivares BRS Amélia, BRS Rubissol e BRS Cuia foram desenvolvidas pela Embrapa Clima Temperado e apresentam produtividade superior a 32 toneladas por hectare, quatro vezes mais do que a média brasileira. A BRS Amélia apresenta casca de coloração rosa clara e também é rica em pró-vitamina A.
Seu alto teor de suculência, sabor e polpa alaranjada são bastante apreciados pelos consumidores. Quando cozida, a textura é úmida e melada, macia e extremamente doce. Em ensaios da Embrapa e testes com agricultores a produtividade da cultivar chegou a 32 toneladas por hectare.
Com casca avermelhada, a BRS Rubissol destaca-se pela aparência e uniformidade das raízes. A polpa é de cor creme tendendo ao amarelo, com pontuações em amarelo mais intenso. A cultivar possui excelentes características para consumo de mesa, mas também pode ser utilizada no processamento
industrial. Sua produtividade média é de 40 toneladas por hectare.
A BRS Cuia, por sua vez, tem coloração creme e pode chegar a até 60 toneladas por hectare. Ganha destaque na questão culinária devido à uniformidade e ao tamanho relativamente grande das batatas e também apresenta boa adequação ao processo industrial. Tanto a casca como a polpa são de cor creme, mas em tonalidades diferentes.