Desde 1996 a agroindústria familiar Novo Citrus se dedica ao “mundo orgânico”, produzindo laranjas, tangerinas e limões. Mas há 13 anos a empresa atingiu um estágio mais avançado em sua história, investindo em alimentos orgânicos processados, como sucos de diversas frutas, doces e geleias. Atualmente, a empresa conta com a parceria de 30 agricultores familiares de outras culturas e fornecedores de insumos para processamento na agroindústria.
O diretor comercial da Novo Citrus, Willian Rada da Rocha, conversou com A Lavoura sobre a trajetória e os planos da empresa, que já fornece sua produção aos mercados do Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Como nasceu a Novo Citrus?
A empresa surgiu a partir de uma pequena produção artesanal de sucos e geleias iniciada em 1996. Atualmente somos dois sócios: Maria Helena da Rocha e eu.
Onde estão localizadas as áreas de produção?
No município de Pareci Novo, na região do Vale do Rio Caí, no Rio Grande do Sul, a 80 km de Porto Alegre.
Por que a decisão de começar a atuar no sistema orgânico?
Antes de sermos produtores orgânicos, éramos consumidores de produtos orgânicos desde 1986. Deste modo, quando começamos a produzir, em 1993, já havia acúmulo de informações e vontade a respeito.
Puderam comparar vantagens ou desvantagens desse sistema frente à cultura convencional de cítricos? Quais fatores pesaram em favor da opção orgânica?
Na época em que começamos, comparamos questões relacionadas à saúde, tanto de quem produz como de quem consome, e observamos vantagens para o sistema orgânico em relação também ao meio ambiente e comercialização. Esta última como forma de viabilizar a propriedade.
Você observa se tem havido expansão das práticas orgânicas em sua região?
Sim, lentamente.
Em sua opinião, é possível que pequenos/médios produtores apliquem técnicas mais ecológicas sem perder sua lucratividade?
Considerando o binômio produção/comercialização, é perfeitamente possível aumentar a lucratividade na produção. Não adianta produzir bem e vender mal, nem vice-versa.
Como avalia a capacitação e conhecimento técnico dos produtores?
Infelizmente os órgãos públicos que sustentamos com nossos impostos não estão preocupados com esta questão. Desde que começamos, em 1993, apenas um governante do RS, em uma gestão de quatro anos, se preocupou com os orgânicos. Os demais governos só querem saber do agronegócio. Falam e usam a agricultura familiar em seus discursos, mas na prática nada fazem. A capacitação se dá por esforço e interesse dos próprios agricultores, porém são poucos que têm esta iniciativa.
Contudo, quero fazer justiça a alguns bravos técnicos da Emater que, também pelo esforço pessoal, trabalham esta questão com os agricultores. Esperamos que o governante recém-empossado dê a merecida valorização aos orgânicos.
Explique um pouco o processo de parceria: como chegam a um “denominador comum” entre os diferentes anseios dos produtores?
Não existe parceria se não for bom para todos. Sempre procuramos chegar a um termo que contemple a todos. Fazemos contatos com os produtores através de visitas, não apenas pela questão comercial, mas principalmente para orientação e troca de experiências. Além disso, em se tratando da Associação Companheiros da Natureza, da qual somos sócios-fundadores, as reuniões são mensais, onde todos os assuntos são discutidos e deliberados.
Por que investir no processamento local de certas matérias-primas? Qual (is) foi (foram) os investimentos mais pesados que a Novo Citrus (e/ou seus parceiros) teve que realizar?
O investimento tem que ser local porque a proximidade com as fontes de matéria-prima reduz custos e viabiliza a atividade. Os investimentos em instalações, câmaras frigoríficas e equipamentos para produção primária e na agroindústria são necessários e caros. Para alguns destes equipamentos se conseguem financiamentos de linhas de crédito federais, porém muitos são comprados com capital próprio.
Qual o volume de produção atual? A Novo Citus tem projetos de expansão?
Nossa produção gira em torno de 200.000 litros de sucos diversos e 20.000 kg de doces e geleias. Estamos investindo em máquinas e instalações para aumentar esta produção.
Como enfrentam a concorrência dos produtos convencionais?
Enfrentamos oferecendo produtos com qualidades organolépticas superiores, além de serem orgânicos. O consumidor está cada vez mais exigente e sabendo diferenciar, não levando em conta apenas o preço.
Quais as dificuldades/diferenças das estratégias para fornecer a supermercados e feiras?
Em se tratando de supermercados, há uma grande variação de comportamento dos compradores. Alguns valorizam mais os produtos orgânicos, outros tratam como se fossem commodities, o que é um erro. Na prática se percebe um interesse maior em função da pressão dos consumidores e da própria concorrência entre os supermercados. Há um discurso de sustentabilidade que permeia, porém na prática o que vale mesmo é a questão comercial. Nas feiras o contato direto com os consumidores sempre é boa e saudável, porém há limitações de espaço para incluir mais produtores e também para escoamento de maiores volumes de produção.
Como avalia a participação da Novo Citrus em eventos do agronegócio?
As feiras de agronegócio estão percebendo que é interessante trazer representantes da agricultura familiar e orgânicos. Contudo, há que se filtrar as feiras que realmente são interessantes e possam dar retorno.
Como percebem a reação dos consumidores aos produtos e às novidades da empresa?
Percebemos pelo contato direto nas feiras ecológicas semanais que participamos. Também temos contato via internet e telefone. Em geral, os retornos são muito bons, mas em caso contrário procuramos sempre identificar e solucionar as demandas.
O que pode ser feito para aumentar o consumo de orgânicos no Brasil? Em sua opinião, quais são os principais obstáculos atuais?
O consumo de orgânicos vem num crescente, porém ainda se percebe muita desinformação. Os ministérios ligados à agricultura (MAPA e MDA) poderiam investir um pouco mais em mídia para mostrar as diferenças entre orgânicos, hidropônicos, os produtos ditos “naturais”, convencionais e transgênicos – o problema é que isto esbarra em interesses econômicos diversos.
Qual é a meta da Novo Citrus para 2011?
A meta para 2011 é a preparação para exportação. Estamos em contato com compradores dos Estados Unidos e Canadá e buscando adequação às legislações destes países.