No próximo ciclo produtivo da maçã, que se inicia no mês de outubro, a Embrapa e a Proterra planejam iniciar ações que visam racionalizar o uso de fungicidas nos principais pólos brasileiros produtores
A perda de eficácia dos agroquímicos usados no controle de doenças da macieira, devido ao desenvolvimento do mecanismo de resistência pelos fungos que as causam, levou a Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, e a Proterra Engenharia Agronômica, de Vacaria (RS), a adotarem técnicas para identificar os fungicidas que se tornaram ineficientes no manejo. Assim, tais produtos poderão ser substituídos por outros, com princípios ativos diferentes.
O processo teve como base as contribuições do pesquisador Kerik Cox, da Universidade de Cornell, nos EUA, que esteve no Brasil participando de um seminário, no qual apresentou os métodos que permitem a detecção do desenvolvimento de resistência aos fungicidas pelos patógenos que causam danos à pomicultura.
Marcador molecular
De acordo com as pesquisadoras Patricia Ritschel, da Embrapa Uva e Vinho, e Rosa Maria Valdebenito Sanhueza, da Proterra, as metodologias baseiam-se no uso de ‘marcadores moleculares’ que permitem a identificação de alterações no DNA dos patógenos. A técnica já é usada no Brasil em commodities como a soja, pelas próprias empresas fabricantes de fungicidas, como forma de monitorar a vida útil dos seus produtos.
A iniciativa da Embrapa e Proterra será a pioneira no gênero na pomicultura do país. O início da obtenção dos métodos para viabilizar o acompanhamento contou com apoio da Estação Experimental de São Joaquim da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).
Ganho ambiental
As pesquisadoras lembram que, em decorrência do monitoramento, serão beneficiados meio ambiente, consumidor e produtor. O ganho se dará pela interrupção do uso de um fungicida que não funciona e que só está “sujando” o ambiente, sem cumprir seu objetivo, que é controlar a doença. No médio e longo prazos, cogita-se a cooperação com a Universidade de Cornell para o desenvolvimento de métodos que permitam a identificação de resistência em outros patógenos de interesse em cultivos de clima temperado, informa Patricia Ritschel.
Danos à cultura
Nos últimos anos, as substâncias usadas no controle do fungo Venturia inaequalis, causador da sarna da macieira, por exemplo, vêm perdendo efetividade, em decorrência do desenvolvimento de resistência a vários dos princípios ativos dos fungicidas utilizados para o controle do Venturia. Isso porque o uso continuado de um determinado produto para o controle de patógenos, aumenta a porcentagem de indivíduos resistentes, até o ponto em que a aplicação não é mais eficiente. Neste momento, é necessário substituir o princípio ativo pelo qual os patógenos desenvolveram resistência, para manutenção de um nível adequado de controle.
“Para controlar o fungo, atualmente o produtor é obrigado a fazer um maior número de aplicações, mas de produtos menos eficazes, justamente por conta do desenvolvimento da resistência”, explica a fitopatologista Rosa Maria Valdebenito Sanhueza, da Proterra. “Quando outro grupo de princípio ativo para controle de Venturia inaequalis estiver disponível, o que deve ocorrer em 2014, temos que ter muito bem definida a estratégia de uso, para não se correr o risco de o fungo novamente vir a apresentar resistência”, acrescenta.
Nesse sentido, ressalta Rosa, a responsabilidade e os esforços devem ser compartilhados por toda a cadeia produtiva. “O desenvolvimento de resistência a princípios ativos, como nesse caso, é de responsabilidade de todos — de quem produz, de quem vende, de que recomenda e de quem usa fungicidas”, reforça a pesquisadora. Segundo ela, “se não for controlada, a ‘sarna da macieira’ pode causar perda total da safra e ainda comprometer a produção do ano seguinte”, alerta.