Experimento aponta fatores que contribuem na atividade apícola
A criação racional de abelhas representa uma importante atividade comercial que beneficia o homem com produtos diretos como o pólen, o mel, a própolis, a geleia real e a cera, os quais são utilizados, especialmente, para fins alimentícios, cosméticos e fármacos. Da mesma forma, a apicultura é uma atividade de grande intensidade para a produção agrícola, pois as abelhas realizam o processo de polinização necessário para a perpetuação e disseminação das espécies vegetais.
No apiário do Departamento de Entomologia e Acarologia (LEA) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), em Piracicaba, foi realizado um experimento de campo para caracterizar o pólen quanto à sua origem botânica e alguns parâmetros físico-químicos. Tais características foram, em seguida, relacionadas com o desenvolvimento de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.), medido pelo tamanho da área ocupada com pólen, mel e cria dentro da colmeia (cm²) e a assimetria flutuante das asas de abelhas operárias.
As coletas foram realizadas nas quatro estações climáticas do ano. O local de instalação das cinco colmeias, apresenta domínio de vegetação de Floresta Estacional Semidecidual (Mata Atlântica), porém com amplas áreas antropizadas, onde existem cultivos agrícolas e canteiros ornamentais com árvores e ervas”, diz Anna Frida Hatsue Modro, autora da tese ‘Influência do pólen sobre o desenvolvimento de colônias de abelhas africanizadas (Apis mellifera L.)’.
O estudo revelou que o pólen retirado das anteras das flores pelas abelhas campeiras, é transportado para a colmeia por meio das corbículas ou cestos, localizadas no último par de pernas das operárias. Essas estruturas apresentam pelos que ajudam na aderência do pólen para formar a carga. O resultado da análise polínica realizada em cargas de pólen, retidas pelos coletores instalados na entrada das colmeias, ou armazenados em células dos favos (pão de abelhas) são indicativos seguros do período de produção, origem botânica e geográfica do produto.
“Pão de abelhas”
No trabalho conduzido pelos pesquisadores do LEA, foi considerado “pão de abelhas” as cargas de pólen depositadas nos favos, em alvéolos (geralmente próximos aos de cria), que passam por um processo de fermentação, devido ao acréscimo de secreções salivares produzidas pelas abelhas.
“Ao longo do ano foram encontrados 81 tipos polínicos nas cargas de pólen interceptadas, pertencentes a 34 famílias botânicas, sendo Fabaceae, Asteraceae e Malvaceae as famílias com maior frequência de tipos polínicos e, Myrtaceae, a família com alta frequência de grãos de pólen”, afirma a pesquisadora.
A pesquisa comprova que a avaliação sazonal da influência da qualidade do pólen sobre o desenvolvimento das colônias africanizadas é importante. As características ambientais servem de parâmetro para a determinação da qualidade e quantidade do pólen coletado e armazenado, assim como para o desenvolvimento de colônias. A pesquisa permite o domínio de técnicas de avaliação do desenvolvimento de colônias e da qualidade do pólen, divulga a composição do pólen apícola e a riqueza da flora regional, promove maior conhecimento sobre o comportamento forrageiro e o desenvolvimento de colônias africanizadas em regiões brasileiras.
Outra pesquisa
Outro resultado da pesquisa indica que as médias anuais da matéria seca (67,41%), proteína bruta (27,02%), extrato etéreo (3,66%), matéria mineral (3,34%) e carboidratos totais (65,41%) de cargas e, matéria seca (78,80%) e proteína bruta (25,89%) de pão de abelhas estão de acordo com o regulamento técnico para comercialização do pólen no Brasil.
“A origem botânica do pólen apícola tem efeito sobre sua qualidade físico-química. Os valores de proteína bruta, extrato etéreo, quantidade de pólen coletado, riqueza e equitabilidade da composição polínica influenciam positivamente o desenvolvimento de colônias”, conclui o professor Luís Carlos Marchini, orientador da pesquisa.