Em entrevista à revista A Lavoura, o diretor geral da Mãe Terra, Alexandre Borges, apresentou um painel geral da empresa que se tornou uma das principais agroindústrias do setor orgânico e natural do Brasil. Borges revela a filosofia, organização e trabalho que sustentam esse sucesso.
Como ocorreu a transformação da Mãe Terra de uma empresa familiar para uma das principais agroindústrias do setor orgânico e natural do Brasil?
Acredito que seja o equilíbrio de uma gestão profissional com a paixão autêntica pela filosofia de oferecer alimentos que realmente façam bem as pessoas. Nós acreditamos de verdade no setor e na filosofia que está por trás, o que queremos é democratizar os orgânicos.
O que mudou na empresa depois da entrada dos novos sócios, Alexandre Borges, administrador, e Marília Rocca, executiva, como ficou o organograma?
Hoje a Mãe Terra tem como diretor geral Alexandre Borges e a Marília Rocca como diretora comercial; há também diretor financeiro e gerentes para todas as áreas da empresa. A entrada desses novos sócios tornou a empresa mais profissional, com a implementação de avaliações de desempenho que buscam desenvolver os funcionários e selecionar pessoas qualificadas para trabalharem conosco.
Quais as vantagens e desvantagens de se trabalhar com produtos de pronto consumo em vez da produção de itens não processados?
A vantagem é estar em linha com tempo. O mundo mudou e a empresa tem que mudar junto, saber que hoje as pessoas têm cada vez menos tempo. O nosso macarrão instantâneo, por exemplo, é uma opção saudável para pessoas que já consomem essa categoria de produtos. A desvantagem é que por ser uma empresa menor, a cadeia de suprimentos está em formação, o que acarreta problemas de consistência, entrega, qualidade e falta do produto. Muitas vezes o fornecimento não atende a demanda, o que resulta na interrupção das vendas de produtos. O orgânico tem um custo elevado, principalmente seus insumos, os fornecedores são poucos e há desequilíbrio entre oferta e demanda.
A Mãe Terra ganhou por dois anos consecutivos, na categoria de alimentação, o Greenbest, prêmio que avalia o consumo e as iniciativas sustentáveis de empresas brasileiras. A que vocês atribuem essa conquista e qual a sua importância, tendo em vista que o voto é popular?
Estamos felizes de desbancar grandes empresas e ganhar o prêmio, somos uma empresa menor no mar de empresas maiores. Atribuímos essa conquista a um programa de sustentabilidade que realmente rastreia os impactos dos produtos, que mostra o que está bom e também o que está ruim.
60% dos produtos Mãe Terra são rastreados, não só a origem; trabalhamos com 7 indicadores, CO2, resíduos, água, biodiversidade etc. Buscamos uma visão holística e integrada do processo produtivo. Não somos perfeitos, temos problemas e vamos mostrá-los com o objetivo de desenvolvê-los. Um dos nossos princípios é a transparência.
Vocês possuem diversos pontos de venda espalhados pelo país, entre eles Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour, além de parcerias com pequenas distribuidoras. Como ocorre essa distribuição dos produtos? A Mãe Terra tem funcionários que se dedicam a atender esses varejos diferenciados?
Vendemos para distribuidoras que replicam nossos produtos. Temos vendas diretas no Brasil na área comercial e atendimento regional nos 27 estados do país. A parceria com distribuidores ajuda a pulverizar, colocar a Mãe Terra em mais pontos de venda, fazer os produtos da empresa chegarem a locais que ela não teria escala para chegar sozinha, pois, às vezes, a venda direta se torna cara se pensarmos na infraestrutura.
Mãe Terra conta com 100 produtores de matérias-primas. No início do ano, a saída de um dos fornecedores de trigo quase interrompeu a produção da linha de cookies. Como se configura a relação da Mãe Terra com seus fornecedores? De que maneira enfrentar obstáculos como esse e manter a produção e o crescimento da empresa?
Tentamos desenvolver fornecedores locais, aqui mesmo no Brasil, para facilitar questões como transporte, visando à menor emissão possível de carbono, além de considerar questões ambientais e sociais, desenvolver pequenos produtores locais. Por exemplo, desenvolvemos a linhaça brasileira, ingrediente muito utilizado nos nossos produtos e cujo maior produtor é o Canadá. O fornecimento de quinua e trigo são os únicos de origem estrangeira, sendo o trigo vindo da Argentina. O problema com os cookies realmente ocorreu, e faltou cookies, de fato. Para superar isso, a estratégia é ter mais de um fornecedor disponível para o mesmo insumo. Acreditamos que parcerias de longo prazo com nossos fornecedores funcionam melhor.
Todos os produtos orgânicos da Mãe Terra são certificados pelo Instituto Biodinâmico (IBD). Os fornecedores da Mãe Terra também são certificados pelo IBD, ou por outras certificadoras diferentes? A Mãe Terra realiza visitas aos seus fornecedores para avaliar a produção?
Alguns dos insumos dos nossos fornecedores são certificados por outras certificadoras, como a Ecocert. Quando esses produtos chegam a nós, a nossa certificadora faz uma recertificação de acordo com a legislação federal para orgânicos. Realizamos visitas aos principais produtores no Brasil inteiro, temos uma auditoria de qualidade e acompanhamos esses fornecedores. Há um questionário geral e outro específico que devem ser respondidos por esses agricultores orgânicos, além disso, verificamos as instalações físicas, higienização etc.
Qual o atual volume de produção e os principais produtos?
Os principais produtos da Mãe Terra são os cookies, macarrão instantâneo, salgadinho infantil, granola, entre outros. Temos uma das maiores variedades de produtos orgânicos do Brasil, 150 funcionários e estamos presentes em 27 estados brasileiros. A maior parte dos alimentos é produzida pela Mãe Terra. A exceção é a barra de granola, cuja produção é terceirizada e enviamos a embalagem para eles.
Como vocês avaliam o mercado brasileiro de orgânicos hoje? Quais são as oportunidades e os gargalos?
É um mercado de nicho que está engatinhando, porém, tem boas perspectivas. Apesar de percentualmente crescer, financeiramente ainda é pequeno. A produção enfrenta problemas de fornecimento na cadeia de suprimentos, além da falta profissionalismo. A realidade é muito mais difícil do que parece e que o cenário que pintam para gente. É sempre um desafio ser pioneiro. As pessoas têm uma visão romantizada dos orgânicos. Mas eles são uma tendência, as pessoas estão buscando cada vez mais saúde, os orgânicos são o futuro, só não sabemos em quanto tempo a grande onda vai acontecer. Nosso trabalho é meio missionário, mas acreditamos nele, os produtos naturais e orgânicos são uma ‘causa’ para nós.
A Mãe Terra tem políticas internas que visam transmitir aos seus funcionários o conceito de sustentabilidade, há um programa de metas e bonificações que busca atraí-los a levar uma vida sustentável; qual é a filosofia que sustenta e norteia essa postura da empresa?
Nem sempre os funcionários entram na Mãe Terra alinhados com os nossos conceitos e filosofia. Por isso, nossa equipe de nutrição, através de treinamento, busca dar uma educação nutricional para esses funcionários. Nossa cultura organizacional é baseada em valores que praticamos dia a dia. Fornecemos aos nossos funcionários uma cesta básica de alimentos orgânicos e naturais, além disso, o nosso restaurante interno é 100% natural, oferece alimentos orgânicos, sucos naturais etc. Há também espaços para descansar e relaxar, na sede da empresa há 20 pufs destinados a isso, tem uma mesa de reunião embaixo de uma mangueira, pois a qualidade de vida dos funcionários é uma preocupação da Mãe Terra. Cuidamos das pessoas e do planeta de maneira verdadeira; trabalhamos com orgulho e alegria para isso, para que nossos produtos transmitam essa ideia.
Abaixo, com exceção da barra de granola, cuja produção é terceirizada, alguns alimentos produzidos pela Mãe Terra: