Instituto agrícola de pesquisa desenvolve mistura de óleos comestíveis que pode ser alternativa contra insetos e fungos
O pesquisador israelense Samuel Gan-Mor, do Volcani Institute, desenvolveu um pesticida simples, barato e seguro à base de um blend de óleos comestíveis. A mistura criada pelo cientista agrícola é uma composição de óleos de canola, soja, algodão e oliva. O cientista descobriu que ingredientes desconhecidos ativos nesses óleos podem bloquear a capacidade de respiração dos insetos, impedindo sua mobilidade.
O produto está sendo comercializado e representa uma alternativa sustentável totalmente segura, mesmo quando usado minutos antes da colheita. Pesticidas químicos tradicionais exigem um período de “descanso” entre a aplicação e a colheita.
Tomates cultivados convencionalmente, por exemplo, retêm, pelo menos, 35 resíduos de pesticidas. Alguns pesticidas químicos provocam disrupção hormonal, têm agentes causadores de câncer ou neurotoxinas, que podem ter efeitos nocivos no cérebro e no desenvolvimento de bebês. Pouco se sabe sobre como estes pesticidas, indetectáveis aos sentidos humanos nos alimentos, agem em conjunto.
Atuação
Segundo o cientista, legumes de casca fina, como tomate e abobrinha, são suscetíveis à infestação de insetos e fungos, e até mesmo novos pesticidas orgânicos não são totalmente seguros. O mecanismo de ação da solução oleosa elaborada por Gan-Mor e seus colegas ainda não está completamente desvendado. Contudo, os pesquisadores acreditam que dois fatores são responsáveis pela eficiência do produto: ingredientes ativos ainda desconhecidos dos óleos, provavelmente destinados a bloquear as vias respiratórias dos invertebrados e dificultar a sua mobilidade. Além disso, as próprias sementes podem ter desenvolvido “truques evolucionários” para evitar o ataque de insetos.
Resíduos sem toxicidade
Gan-Mor também se dedica à otimização de pulverizadores industriais que cubram mais superfície da planta usando menos pesticida. O equipamento é vendido junto com a mistura de óleos aliada a um emulsionante, e vem sendo comercializado como uma alternativa orgânica aos pesticidas. Uma grande vantagem frente à pulverização convencional é que a mistura oleosa pode ser utilizada minutos antes da colheita, enquanto a feita com pesticidas químicos necessita de um “período de descanso” entre a aplicação e a colheita. A função deste intervalo é diminuir os riscos de saúde para as pessoas e para o meio ambiente.
Demanda por alternativas ecológicas
Já são conhecidos diversos óleos naturais que mantêm os insetos e fungos sob controle, incluindo óleo de rícino, cuja utilização foi descartada por Gan-Mor devido à presença de toxinas. Em seu lugar, o pesquisador voltou-se para os óleos de cozinha simples e baratos, como canola ou soja. Para testar as diferentes formulações, o Instituto Volcani tem parceria com a empresa Shelef, que faz experimentos em 20 fazendas em Israel. Um inconveniente das soluções oleosas é seu tempo de armazenamento, que não ultrapassa um ano, e a possibilidade de deterioração em ambientes quentes. O produto de Samuel Gan-Mor contorna isso, pois só deve ser preparado momentos antes do uso. “Se o óleo for armazenado próximo à fazenda em temperatura ambiente, só será preciso uma máquina de processamento de pequeno porte para transformar o óleo em uma emulsão. Como não serão necessárias quantidades industriais do produto, basta usar um pouco de conservante e surfactantes para um armazenamento de até três dias”, explica Gan-Mor.
Outro problema de materiais como o óleo é a necessidade de reaplicação: uma vez por semana, e generosamente. Contudo, o pesquisador indica que fazendas menores poderiam compartilhar uma máquina de pulverização, já que os materiais básicos são baratos — cerca de US$ 1 por litro para o óleo, que é bastante diluído em água. Depois, é necessária eletricidade para o pulverizador. A empresa Shelef está pesquisando formulações específicas para certas culturas e condições, mas já está vendendo um sistema completo para os agricultores interessados. “A mistura de óleo poderia ser personalizada para combater cada inseto”, estima Gan-Mor.