Conhecida em um passado recente como a lagarta-da-espiga do milho, a Helicoverpa era considerada uma praga secundária, segundo os manuais. Não exigia atenção, já que a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, com o seu hábito canibal, predava a Helicoverpa, mantendo-a sobre um nível de controle razoável.
Em um cenário em que a lagarta-do-cartucho se tornava cada vez mais prejudicial e resistente ao arsenal de inseticidas químicos, provocando enormes danos econômicos na cultura do milho e algodão, surgiu o milho Bt. A salvação da pátria, o tão sonhado e esperado milho Bt, prometia terminar definitivamente com a preocupação e a perda de sono causadas pela Spodoptera frugiperda. Bastaram duas safras para a lagarta-do-cartucho criar resistência à primeira tecnologia Bt. Porém, o problema maior não foi a resistência, e sim, a Helicoverpa ter se aproveitado da ausência temporária da Spodoptera e se multiplicado de forma explosiva. Esta praga não respeitou materiais Bt e, muito menos, inseticidas químicos.
Prejuízos de R$ 1 bilhão
Atualmente, no oeste da Bahia, por exemplo, os prejuízos causados por ela talvez já ultrapassem 1 bilhão de reais, somando o que se gastou a mais para a tentativa de seu controle. Na soja, ficou em torno de 200 reais/ha em inseticidas e perdas médias de 5 sacos/ha. Já no algodão, o prejuízo será de 600 a 1000 reais a mais por ha em inseticidas e perdas de, no mínimo, 50@ em caroço por ha. Para a próxima safra é provável que a Helicoverpa esteja mais forte e mais resistente e que a lagarta-do-cartucho venha de brinde, em virtude da pressão seletiva. Resumindo, vamos ter pragas mais robustas, altos gastos com a tecnologia Bt, inseticidas mais caros (certos produtos custam mais de 100 reais por aplicação), e com resultados duvidosos.
Continuamos vendendo commodities como soja, milho e algodão. Entretanto, o consumidor não vai querer pagar mais caro porque estamos gastando mais. Além disso, a agricultura é uma fábrica a céu aberto, sujeita a todo tipo de intempérie, como por exemplo, os danos causados em decorrência do clima no oeste da Bahia nos últimos dois anos. Como fica a renda do produtor em caso de perda? Que matemática perversa é esta da agricultura moderna que só se aumenta o custo e o risco para o produtor?
Equilíbrio com a natureza
Acredito que temos que nos voltar a um conhecimento e equilíbrio maior com a natureza, uma vez que a via química, com toda sua simplicidade de aplicação e uso, tem mostrado um futuro sombrio. Partindo do principio de equilíbrio biológico da natureza, sabemos que, para cada praga e doença há um organismo antagônico, um inimigo natural. Assim sendo, os produtos que têm produzido melhor resultado no controle da Helicoverpa são formulados à base da bactéria Bacillus thuringiensis (nome comercial: Dipel, Baccontrol, Agree etc.). Existem também produtos à base de baculovírus VPN HzSNPV, um vírus que contamina e mata a lagarta, que é amplamente usado na Austrália.
Em termos de fungos entomopatogênicos, acredito que o de mais fácil produção e uso seria o Metarhizium, já usado habitualmente para controle da cigarrinha na cana-de-açúcar e pastagens e também aplicado para o controle de cupim e percevejo marrom. Em condições ambientais adequadas (calor, umidade, sombra e matéria orgânica), este fungo se multiplicaria em insetos, na matéria orgânica e nas pupas da Helicoverpa e Spodoptera frugiperda no solo.
É difícil de imaginar sustentabilidade ambiental e econômica das nossas lavouras sem o uso de organismos benéficos no processo produtivo. Quando Deus disse na Bíblia: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra;” entendo que o dominar é conhecer e conviver em harmonia e não subjugar e destruir a natureza.