As perdas vão da fase pré-colheita até a pós-colheita, acontecendo no transporte, no pré-processamento, na secagem, no armazenamento, na indústria ou no comércio
O Brasil deve colher, na safra 2012/2013, mais de 183,5 milhões de toneladas de grãos, aumento de 10,5% em relação à safra anterior. A área plantada, no entanto, cresceu menos (cerca de 4%), o que confirma, por mais um ano, a eficiência do produtor rural brasileiro. É no aumento da produtividade média (nesta safra, de cerca de 6%) que reside o sucesso do campo em nosso país. Os números são do levantamento de safra divulgado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) no início de março, o sexto da safra 2012/2013.
Porém, tanto antes como após a colheita, ainda se perde boa parte da produção de grãos no Brasil. Dados oficiais não são comuns ou periódicos como os de levantamento de safra. Mas alguns dados estão disponíveis, de acordo com o pesquisador Marco Aurélio Guerra Pimentel, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, na área de armazenamento. Por exemplo, levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre perdas do plantio à pré-colheita dos principais grãos produzidos no país no período de 1996 a 2002.
“Este levantamento do IBGE apresenta dados para as culturas isoladamente e, no caso do milho, revela valores médios de perdas, do plantio à pré-colheita, de aproximadamente 6,1% durante o período de 1996 a 2002”, explica Marco Aurélio. Fazendo as contas e trazendo esse percentual para a atual safra, seriam perdidos, apenas entre o plantio e a pré-colheita (ou seja, excluindo-se a pós-colheita, que é uma fase ainda mais crítica em termos de perdas), cerca de 4,64 milhões de toneladas de milho. Com esse milho a mais, a produção seria de aproximadamente 80,71 milhões de toneladas em 2012/2013, já que a Conab estima uma produção de 76,07 milhões.
O pesquisador da Embrapa lembra, porém, que as perdas não se restringem até a fase da pré-colheita, indo após a colheita, seja no transporte, no pré-processamento, na secagem, no armazenamento, na indústria ou no comércio. “As perdas nas etapas da pós-colheita podem ser diretas, em massa, reduzindo a quantidade de produto, assim como em qualidade, afetando, por exemplo, a alimentação dos animais, que recusam o alimento, levando à baixa conversão alimentar, diminuição do ganho de peso corporal e, em casos mais drásticos, até mesmo interferência na fertilidade”, detalha.
Armazenamento
Os dados de perdas de grãos, especificamente na fase de armazenamento, variam muito, dependendo sobretudo do nível tecnológico que o produtor utiliza. Marco Aurélio explica que, em países considerados desenvolvidos, os dados também oscilam, mas indicam perdas menores de 10%. Nos Estados Unidos, o índice é em torno de 5%. Já em países em desenvolvimento, as perdas podem chegar a 50% (ou seja, metade da produção) na fase do armazenamento. De acordo com o pesquisador, “as perdas são ocasionadas pelo ataque de pragas e fungos no armazém, que deterioram os grãos, reduzindo a massa dos mesmos e a qualidade, enquadrando estes grãos em tipos inferiores, devido ao percentual de infestação, grãos ardidos, impurezas e matérias estranhas presentes no milho armazenado”.
Na década de 1990, foi feito levantamento no Brasil que apontou perdas quantitativas de até 20% na produção de grãos. Se este índice ocorrer na atual safra de grãos, seriam 36,7 milhões de toneladas perdidas apenas no armazenamento. Em outras palavras, é uma perda bastante considerável, que certamente ocasionará grandes prejuízos aos produtores rurais brasileiros. Como na agricultura tudo funciona em termos de cadeia, esse dinheiro a menos afetará outros elos no agronegócio de grãos na safra 2012/2013.
O que fazer?
Marco Aurélio relaciona algumas medidas que o produtor pode tomar visando à diminuição nas perdas durante a safra. Uma delas diz respeito à própria conscientização quanto aos prejuízos causados pelas perdas: “o monitoramento e o controle das operações na lavoura, assim como no armazenamento, podem contribuir para a redução destas perdas”, afirma, lembrando os altos custos de produção, não apenas do milho. Para ele, “são necessários o monitoramento e a conscientização de todos os atores da cadeia de produção no sentido de aprimorar os processos de colheita, transporte e armazenagem para aumentar a competitividade do agronegócio, aumentando a remuneração do produtor com o que seria perdido”.
Já durante o cultivo, as BPAs (Boas Práticas Agrícolas) são recomendadas. Por exemplo: seguir as orientações repassadas pelas empresas de sementes com relação ao espaçamento e à densidade de plantas; observar o zoneamento de riscos climáticos para a região de plantio; e adotar o manejo integrado tanto de pragas como de doenças. A limpeza de colheitadeiras e dos veículos de transporte da produção, medida simples e de fácil adoção, também ajuda a diminuir perdas e a garantir a qualidade do grão. Em relação a medidas que necessitam de maior investimento financeiro, o pesquisador cita a modernização das frotas, envolvendo caminhões e, principalmente, suas carrocerias, além de implementos usados na colheita e na armazenagem da produção.
Clenio Araujo – Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)