ONU dedica 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. Ações vão ser realizadas em centenas de países, entre eles o Brasil
Os agricultores familiares que lidam diretamente com a produção de seus alimentos diários, são também responsáveis por alimentar milhares de pessoas em países desenvolvidos, e igualmente nas nações em desenvolvimento. Estima-se que 70% dos alimentos vêm da agricultura familiar. Sendo assim, o setor exerce um papel importante na erradicação da pobreza, contribui para a segurança alimentar, na proteção do meio ambiente e no desenvolvimento sustentável, particularmente nas áreas rurais.
Ao escolher 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar, a Organização as Nações Unidas (ONU) pretende reposicionar o setor no centro das políticas agrícolas, ambientais e sociais nas agendas nacionais, identificando lacunas e oportunidades para promover uma mudança rumo a um desenvolvimento mais equitativo e equilibrado.
Forte presença na América Latina e Caribe
De acordo com o relatório Perspectivas da Agricultura e do Desenvolvimento Rural nas Américas 2014: uma visão para a América Latina e Caribe, elaborado pela FAO, em conjunto com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), na América do Sul, a participação da atividade nos empregos agrícolas é significativa, oscilando nos países analisados entre 53% (Argentina) e 77% (Brasil).
Já na América Central, a agricultura familiar representa mais de 50% dos empregos no setor agrícola em todos os países, com exceção da Costa Rica (36%). No Panamá representa 71% e em Honduras 77%.
“A presença forte dos pequenos agricultores na região, demonstra o quão importante tem sido a atividade desse setor para o desenvolvimento econômico dos países. Além de gerar postos de trabalho para milhares de famílias, a produção de alimentos dos agricultores familiares contribui para o crescimento econômico das nações”, ressalta o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic.
Comitê Brasileiro
Para coordenar as atividades do Ano Internacional da Agricultura Familar, o Brasil criou um comitê. A organização brasileira está composta por 32 entidades da sociedade civil e 18 órgãos de governo. A programação vai incluir atividades que ampliam a visibilidade da agricultura familiar e sua importância econômica. O objetivo é contribuir para o aperfeiçoamento das políticas públicas voltadas aos pequenos produtores.
No ano passado, a produção da agricultura familiar respondeu por 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária e por 74,4% da ocupação de pessoal no meio rural (cerca de 12,3 milhões de pessoas). O setor também é responsável pela produção dos principais alimentos consumidos pela população brasileira: 84% da mandioca, 67% do feijão; 54% do leite; 49% do milho, 40% de aves e ovos e 58% de suínos. No Nordeste, é responsável por 82,9% da ocupação de mão de obra no campo. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Avanço
Nos últimos anos, o país avançou muito no apoio à agricultura familiar. A criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a implementação de diversas políticas públicas, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o Programa Brasil Sem Miséria, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), a Secretaria de Agricultura Familiar, o apoio da Assistência Técnica e Extensão Rural, contribuíram significativamente para que o Brasil entendesse que a agricultura familiar é parte da solução dos desafios para erradicar a pobreza no meio rural.
“O Brasil está no caminho certo e serve como exemplo para outros países em desenvolvimento. O uso racional dos recursos naturais, a utilização de tecnologias apropriadas, a gerência profissionalizada das propriedades agrícolas, entre outros, podem fazer com que o país amplie sua produção — sem prejudicar o meio ambiente — e torne-se o celeiro do mundo”, observa Bojanic.
Assim como o Brasil, 45 países já formaram seu comitê e preparam atividades em prol da agricultura local. Além dos grupos nacionais, existe um comitê formado pelo Brasil e países do Mercosul.
Eventos
Diversos eventos vão ser realizados, durante todo o ano em centenas de países, com o propósito de levar o tema ao centro das discussões. Entre os eventos oficiais estão: o Fórum Global e Exposição da Agricultura Familiar, marcado para o começo de março em Budapeste, Hungria e o seminário A importância dos Processos de Comunicação na Agricultura Familiar e de Subsistência Rural Sustentável, agendado para os dias 27, 28 e 29 de março, em Roma, na Itália. Confira o calendário completo no site: http://www.fao.org/family-farming-2014/home/pt/
Mensagem de José Graziano, diretor-geral da FAO
“A agricultura familiar tem um papel importante na luta contra a fome. O setor é um dos maiores produtores e fornecedores de alimentos no Brasil e na grande maioria dos países em desenvolvimento. Ainda assim, permanece, em muitos casos, uma grande brecha entre a produção e o potencial que pode ser explorado. O ano internacional da agricultura familiar oferece uma oportunidade de ouro para mostrar ao mundo como este setor contribui e pode colaborar ainda mais na segurança alimentar, para a adoção de dietas nutritivas e saudáveis e para a sustentabilidade da produção de alimentos.”