A Indicação de Procedência – IP deverá agregar valor de antigas receitas de doces caseiros, fortalecendo e protegendo pequenos Produtores locais e também valorizando a herança cultural de um produto artesanal e tradicional
Sinônimo de doceria tradicional portuguesa, os doces de Pelotas obtiveram a Indicação de Procedência em 2011, mas, na prática, já eram reconhecidos desta forma em todo o Brasil. Os 15 doces finos e de confeitaria certificados pela IP seguem o “saber fazer” local, uma tradição de 200 anos. Esses conhecidos doces portugueses são elaborados à base de ovos e açúcar, como Papo de Anjo, Pastel de Santa Clara, Quindim, Ninhos de ovos etc. Já os doces de frutas, como os de pêssegos e figos em calda seguem a tradição alemã, trazida por imigrantes que se fixaram no meio rural.
Legado
A Associação Doce Pelotas é fruto do trabalho de um grupo de empresários do setor, formalizada em abril de 2008 com apoio do Projeto Podo de Doces de Pelotas, conduzido pelo SEBRAE/RS, desde 2006. A certificação é uma vitória da Associação no sentido de diferenciar os produtos originais, proteger o legado das receitas tradicionais, estimular a inovação e o desenvolvimento das empresas do setor e, ainda, garantir a exclusividade no mercado. Os doces tradicionais da região de Pelotas seguem um regulamento técnico de produção e possuem um selo de autenticidade.
Receitas originais
A presidente da Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, Maria Helena Jeske, explica que, no início, eram dez associados. Algumas empresas utilizavam receitas próprias, diferentes das originais. Ela mesma se encaixava nesse caso. Quando foi iniciado o processo de certificação, o grupo cresceu para 16, mas, desse total, apenas cinco empresas investiram na conquista do selo e foram certificadas. Com o objetivo de resgatar a tradição, uma das exigências da certificação é o uso apenas de receitas tradicionais. De acordo com a presidente da associação, outras doceiras da região também estão começando com o processo de certificação.
As empresas cadastradas até o final de 2012 eram: Imperatriz Doces Finos, Anette Ruas Doces Tradicionais, Delícias Portuguesas, Pastel Santa Clara e V&N Doces Artesanais. Elas podem comercializar 15 tipos de doces. Todos recebem um selo e um número que identifica a empresa produtora, o dia da produção e a validade do doce, além dos ingredientes da receita. O selo garante a qualidade na produção e credibilidade para os produtores.
Os tradicionais doces finos de confeitaria, como o camafeu de nozes, os bem-casados e quindins e os de frutas cristalizadas que fazem parte da identidade da cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, têm agora seu valor agregado com a Indicação Geográfica – Fotos: SEBRAE
Herança europeia
Com clima subtropical úmido e temperado, Pelotas é, também, o maior produtor de pêssegos para a indústria do país. Destaca-se ainda pelo cultivo de aspargos, pepino, figo e morango, além de ser grande produtor de arroz, de leite e de carne bovina. Aliás, a história do município está ligada à produção de charque, favorecida pelo clima e iniciada em fins de 1700 por imigrantes portugueses. A herança da cultura europeia pode ser vista na arquitetura e casarios de Pelotas.
Delícias portuguesas
Maria Alzira Rosa Carreira conta que seus pais e os cinco filhos vieram de Portugal para o Brasil em 1963, convidados para produzir os tradicionais doces portugueses em uma padaria. Ao longo do tempo, seu pai adquiriu o negócio, depois vendido. Os doces passaram a ser produzidos pela mãe na residência da família, para atender encomendas de casamento (os bem-casados sempre foram o carro-chefe), lojas de doces e de outras doceiras com especialidades diferentes.
Na década de 1980, a família recebeu o convite para participar da Feira Nacional do Doce-Fenadoce, evento realizado anualmente, desde 1986, em Pelotas. Foi quando, para aumentar a variedade de produtos, começaram a buscar, entre os parentes, outras receitas de doces portugueses tradicionais. As mesmas receitas daqueles que há 200 anos eram servidos nos banquetes oferecidos pelos “barões do charque”. Atualmente, a empresa – batizada de Delícias Portuguesas – possui receitas de sete diferentes regiões e, há dois anos, a título de homenagem, lançou um doce típico da Ilha dos Açores. O “Véu de Noiva” tem massa feita com ovos, coco e nozes e recheio de ovos moles.
Doces certificados
Na Indicação de Procedência de Pelotas é autorizada a produção dos seguintes doces: bem-casado, quindim, ninho, camafeu, olho de sogra, pastel de Santa Clara, papo de anjo, fatia de Braga, trouxas de amêndoas, queijadinha, broinha de coco, beijinho de coco, amanteigado, panelinha de coco e os doces cristalizados.
Procedência
Registro IG 200901 INPI
Indicação de Procedência/2011
Área Geográfica Delimitada: Municípios: Arroio do Padre, Capão do Leão, Morro Redondo, Pelotas, São Lourenço do Sul, Turuçu – Região Sul do Rio Grande do Sul
Altitude: 7m a 430m